O economista José Prata, marido da prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), divulgou um longo texto em grupos de WhatsApp, na manhã desta segunda-feira (15), em que critica a condução do Diretório Estadual do PT de Minas Gerais na definição das candidaturas para 2026, além de relatar o estado grave de saúde da sogra, Dona Sílvia, e elogiar a atuação da prefeita diante de crises políticas, pessoais e administrativas.
No texto, Prata afirma que o PT Minas deixou Marília em um “vácuo político” ao não definir, no último sábado, o nome do partido para a disputa ao Senado Federal. Segundo ele, havia expectativa de que o Diretório Estadual homologasse a candidatura da prefeita, mas a decisão foi adiada para 2026, às vésperas do prazo de desincompatibilização do cargo.
“Tudo indicava que o Diretório definiria o nome de Marília para o Senado, mas o partido recuou e empurrou a decisão para o ano que vem”, escreveu. Para Prata, a indefinição dificulta a construção política em Contagem, já que uma eventual candidatura ao Senado exige renúncia ao mandato de prefeita.
Ele relata que Marília participou da reunião do Diretório Estadual após conversas com as bancadas federal e estadual do partido, que, segundo ele, demonstraram amplo consenso em torno do nome dela. Uma proposta de resolução apresentada defendia a construção de uma “forte candidatura ao Senado” liderada por Marília Campos, destacando sua aprovação superior a 80%, o peso eleitoral de Contagem e a possibilidade de o PT eleger, pela primeira vez, uma senadora por Minas Gerais.
O texto aprovado pelo Diretório, no entanto, não definiu nomes e estabeleceu apenas que a tática eleitoral será construída em consonância com a direção nacional do partido, com foco na reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para Prata, trata-se de uma “não tática”, por não apresentar definições concretas.
No desabafo, o economista afirma que Marília não pretende entrar em disputa interna dentro do partido e defende que, caso haja outro nome para o Senado, ele seja apresentado imediatamente. Ele também destaca o papel da prefeita na construção de uma frente ampla em Contagem, reunindo 16 partidos, e sua capacidade de diálogo com lideranças de diferentes campos políticos em Minas.
O texto também aborda o contexto pessoal vivido pela prefeita. Prata relata que Dona Sílvia, mãe de Marília, está internada em estado grave há mais de um mês. Segundo ele, mesmo diante da situação, Marília segue governando a cidade a partir do hospital, conciliando o acompanhamento da mãe com as funções administrativas.
Em entrevista ao Estado de Minas, citada no texto, Marília afirmou que só consegue manter sua atuação política se puder conciliar a vida pessoal com a gestão pública. Disse ainda que leva o computador para o hospital e trabalha de forma remota, sempre que possível.
Além da crise política, Prata menciona o cancelamento do concurso público da área da saúde de Contagem, que havia registrado mais de 40 mil inscritos. Ele relata que Marília decidiu pela anulação do certame e gravou um vídeo nas redes sociais pedindo desculpas aos candidatos, reconhecendo a frustração e convidando-os a participar de um novo concurso em data futura.
Para o economista, a postura da prefeita no episódio demonstra sua capacidade de diálogo e empatia, atributos que, segundo ele, explicam os altos índices de aprovação da gestão municipal.
Nos bastidores do PT, a disputa pelo Senado em Minas é descrita como um cenário dividido. Interlocutores do partido relatam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tende a apoiar o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, como nome para a vaga, o que tem pesado na resistência da direção estadual em antecipar a definição. Marília também poderia sair, mas não como candidatura única. A avaliação interna é de que a escolha deveria ter sido feita no último sábado, durante a reunião do Diretório Estadual, o que acabou não ocorrendo, ampliando o impasse sobre a estratégia do partido para 2026.
A reportagem procurou Marília Campos. A prefeita de Contagem lidera as intenções de voto para o Senado Federal nas eleições do ano que vem, segundo a pesquisa Real Time Big Data. A petista foi apontada como a candidata escolhida por 17% dos entrevistados, à frente de Alexandre Silveira (PSD), com 13%, Carlos Viana (Podemos), com 12% e Marcelo Aro (PP), também com 12%. Ao EM, ela afirmou: “Eu acho que o PT não tem todo o tempo do mundo. O tempo passa e nem parado estamos jogando."