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Estado de Minas

Veja como milhões de reais em propina da JBS foram distribuídos entre políticos do país

Empresário Joesley Batista e o diretor de Relações Institucionais do Grupo JBS, Ricardo Saud detalharam esquema em delação


postado em 20/05/2017 06:00 / atualizado em 20/05/2017 08:14


Lula e Dilma: US$ 150 milhões  
O empresário Joesley Batista, do Grupo JBS, descreve o fluxo de duas “contas-correntes” de propina no exterior, cujos beneficiários seriam os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O empresário informou à Procuradoria-Geral da República que o saldo das duas contas bateu em US$ 150 milhões em 2014. Seriam US$ 70 milhões para a campanha de Lula em 2010 e US$ 80 milhões para a corrida eleitoral de Dilma em 2014. Joesley disse que em outubro de 2014, no Instituto Lula, encontrou-se com Lula e relatou ao petista que as doações oficiais da JBS já tinham ultrapassado R$ 300 milhões. Ele teria indagado o presidente quanto ao risco de exposição que os vultosos recursos atraíam já que não haveria plataforma ideológica para tamanho montante. Lula teria olhado nos olhos do empresário sem falar nada. Ao negociar e efetuar os pagamentos dos pedidos dos petistas, Joesley certificou-se de que tanto Lula quanto Dilma tivessem conhecimento da movimentação financeira nas contas do partido. Em troca dos pagamentos, o Grupo JBS recebeu créditos do BNDES e de fundos de pensão. 

 

Temer: R$ 15 mi recebidos e R$ 1 mi guardados
O diretor de Relações Institucionais do Grupo JBS, Ricardo Saud, revela aos procuradores do Ministério Público a forma como o presidente Michel Temer recebeu a propina do grupo. Temer teria recebido R$ 15 milhões do dinheiro destinado ao Partido dos Trabalhadores (PT) para a campanha à vice-presidência em 2014. Saud delatou que na ocasião Temer decidiu “guardar” R$ 1 milhão. No depoimento, o delator diz que Temer negociou o valor junto ao PT e que os R$ 15 milhões foram repartidos em diversas frentes: R$ 9 milhões teriam sido pagos em cinco parcelas ao PMDB nacional, como “propina dissimulada em forma de doação oficial”; R$ 3 milhões teriam sido entregues a um intermediário do ex-deputado Eduardo Cunha em um posto de gasolina no Rio de Janeiro; e R$ 2 milhões teriam sido repassados a Duda Mendonça como parte do pagamento pela campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo. “Eu já vi o cara pegar o dinheiro da campanha e gastar na campanha. Agora, ganhar um dinheiro do PT e guardar pra ele no bolso dele, eu acho muito difícil. Aí, ele (Temer) e o (Gilberto) Kassab fizeram isso. Só o Temer e o Kassab guardaram o dinheiro pra eles usarem de outra forma”, declarou Saud.  

 

 

(foto: Lula Marques/AGPT)
(foto: Lula Marques/AGPT)

Propina de R$ 5 mi paga a Cunha na Cadeia
Em sua delação premiada, o empresário Joesley Batista, dono do Grupo JBS, revelou ter pago R$ 5 milhões ao ex-presidente da Câmara, deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), “de saldo de propina” depois de o parlamentar estar preso pela Lava-Jato. O valor seria referente a uma “dívida” de R$ 20 milhões com o ex-deputado devido à atuação dele em projeto que desonerou a cadeia produtiva de frango e beneficiou empresas do grupo.  No depoimento, o empresário sustentou que informou o presidente Michel Temer, em reunião no Palácio do Jaburu, que pagamentos a Cunha haviam cessado e que ainda dava R$ 400 mil de ‘mensalidade’ a Lúcio Bolonha Funaro, também preso, apontado como operador do peemedebista e do empresário em esquemas de corrupção. O objetivo dessa mesada, explicou o depoente, era garantir o silêncio tanto de Funaro quanto de Cunha. “Temer disse que era importante continuar”, diz trecho do depoimento. O dono do frigorífico JBS contou à Procuradoria-Geral da República (PGR) também que deu R$ 30 milhões a Cunha para bancar a campanha do peemedebista à presidência da Câmara, em 2015.   

 

Aécio: R$ 80 milhões em caixa 2
Em delação premiada ao Ministério Público, o empresário dono do Grupo JBS, Joesley Batista, e o diretor de Relações Institucionais da gigante do setor alimentício, Ricardo Saud, o senador afastado teria recebido cerca de R$ 80 milhões em propinas.  Joesley contou aos procuradores que teria pago cerca de R$ 60 milhões ao tucano, mas Saud, braço direito de Joesley nas negociações com políticos do governo ou da oposição, delatou pagamento de R$ 80 milhões ao presidente licenciado do PSDB. Os valores teriam sido pagos por eles em 2014, em troca do uso do mandato do tucano para beneficiar os negócios do grupo. Ainda na delação feita pelos executivos, eles citam ações de Aécio na liberação de créditos de ICMS para uma das empresas do grupo na área de couro. A negociação foi de R$ 12,6 milhões. Outra atuação teria sido relacionada também a créditos na compra da Seara, por uma subsidiária da JBS. O delator contou que Joesley sempre “correu” do candidato. “Ele (Aécio) continuou pedindo mais dinheiro após a campanha”, relatou.   

 

José Serra: caixa 2 de R$ 6,4 milhões
Na delação premiada feita ao Ministério Público e homologada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o empresário Joesley Batista confessou ter pago R$ 6,4 milhões por meio de caixa 2 à campanha do senador José Serra à Presidência da República – o tucano foi candidato ao Planalto em 2002 e em 2010. Segundo a delação, outros R$ 13 milhões foram doados oficialmente ao tucano. De acordo com Joesley, o senador pediu R$ 20 milhões ao Grupo JBS. “R$ 6 milhões através de notas frias para a empresa LRC Eventos e Promoções, com a falsa venda de um camarote no Autódromo de Interlagos, em São Paulo; R$ 420 mil para a empresa APPM Analista e Pesquisa, também em notas frias”, diz o anexo da delação do dono do grupo JBS. O delator explica que outros R$ 13 milhões foram doados oficialmente, conforme indicação do candidato. Joesley afirmou que o “sr. Furquim” ficou responsável pela operacionalização dos pagamentos – Luiz Fernando Furquim morreu em 2009 e foi responsável pelas contas de campanha do senador tucano.  

 

R$ 3 milhões para virar voto no impeachment  

Joesley Batista, dono da JBS, afirmou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o deputado João Carlos Bacelar (PR-BA) teria pedido R$ 150 milhões para comprar votos contra o impeachment de Dilma Rousseff. Joesley e o irmão Wesley Batista fecharam acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava-Jato. O conteúdo dos depoimentos já foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal e o sigilo das informações retirado e divulgado. Segundo Joesley, em 9 de abril de 2016, um sábado, uma semana antes da votação do impeachment na Câmara dos Deputados, ele se reuniu com Bacelar. Na ocasião, segundo o delator da JBS, Bacelar disse que “tinha conseguido convencer 30 deputados a votarem a favor de Dilma em troca de R$ 5 milhões cada um”. Joesley, no entanto, diz ter concordado com a “compra” de apenas 5 deputados no valor total de R$ 15 milhões divididos em parcelas. Segundo ele, o dinheiro era distribuído por João Bacelar, e que só tinha conseguido repassar R$ 3,5 milhões. Parte do pagamento – R$ 500 mil –, diz Joesley, ocorreu em março deste ano. Joesley diz que pagou cinco deputados para votarem contra impeachment de Dilma.

 

R$ 600 milhões para ‘compra’ de políticos no atacado

O diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, contou em sua delação premiada que a empresa distribuiu propinas por atacado no meio político brasileiro, detalhando os nomes de centenas beneficiários. Em depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República (PGR), ele revelou que 1.829 candidatos, de 28 partidos das mais variadas colorações, receberam dinheiro do grupo controlado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista. As doações ilícitas foram de quase R$ 600 milhões. O grosso dos recursos, segundo ao delator, foi destinado aos candidatos em troca de contrapartidas no setor público. “Tirando esses R$ 10milhões, R$ 15 milhões aqui (doação legal), o resto tudo é propina. Tudo tem ato de ofício, tudo tem promessa, tudo tem alguma coisa”, relatou. Saud disse que o “estudo” foi feito por sua própria iniciativa. Em vídeo do depoimento, divulgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ele entrega aos investigadores uma pilha de papéis com a relação de subornados, agora potenciais alvos de novos inquéritos de corrupção. Os números têm a escala da chamada “delação do fim do mundo”, recém-acordada por 78 executivos da Odebrecht. “Eleitos foram 179 deputados estaduais, de 23 Estados; 167 deputados federais, de 19 partidos. Demos propina para 28 senadores da República, sendo que alguns disputaram e perderam eleição para governador e alguns disputaram reeleição ou eleição para o Senado. E demos propina para 16 governadores eleitos, sendo quatro do PMDB, quatro do PSDB, três do PT, dois do PSB, um do PP, um do PSD”, contou. O diretor disse achar que, no futuro, o seu “estudo” vai servir. “Aqui estão todas as pessoas que receberam propina diretamente ou indiretamente da gente”, entregou, concluindo com uma explicação sobre o esquema: “Se ele (o político) recebeu esse dinheiro, sabe, de um jeito ou de outro, (que) foi de propina. Essas pessoas estão cientes disso”.

 

Mantega: operador da propina do PT

Na extensa relação de pagamento de propina e doações de caixa 2 a políticos, um dos personagens citados por Joesley Batista à Procuradoria-Geral da República é o ex-ministro petista Guido Mantega. Segundo a reportagem do jornal O Globo, Joesley afirmou que Mantega era o contato dele com o PT. Guido Mantega teria sido para a JBS o que Antonio Palocci foi para a Odebrecht. É o que sugeriu o dono da gigante de alimentos ao revelar em delação que o homem que por mais tempo comandou a economia do país foi o responsável por distribuir as propinas a políticos do PT. No depoimento, Joesley declarou que havia uma espécie de conta-corrente para o PT na JBS, e ressaltou: “Mantega não pegava dinheiro para si próprio, e sim para o partido”. Em troca do apoio, a JBS foi a empresa que mais recebeu dinheiro do BNDES. Entre 2005 e 2016 foram mais de R$ 8 bilhões em compra de ações e mais de R$ 3 bilhões em empréstimos. Segundo Joesley Batista, operações como essas foram facilitadas pela intermediação de Guido Mantega.

 

Palocci: R$ 30 milhões na campanha de 2010

Joesley Batista contou aos procuradores do Ministério Público que a JBS doou R$ 16,7 milhões nas eleições de 2010 a pedido do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Desse valor, R$ 1,8 milhão foi pago a uma pessoa chamada Samuel e R$ 1 milhão a uma mulher com o nome de Gilmarcy. A maior parte (R$ 16,3 milhões), no entanto, foi doada oficialmente a diversos candidatos indicados por Palocci. O empresário contou que Palocci pediu a ele R$ 30 milhões para a campanha eleitoral de 2010. Disse ainda que contratou a consultoria de Palocci de forma legal e sem o objetivo de influenciar nenhum órgão do governo no Brasil e no exterior. A intenção de Joesley seria aprender política com Palocci. “Contratei uma consultoria, que pagava mensalmente, para ficar me dando aula de política. Não conhecia nada das relações políticas, quem era aliado de quem, quem era adversário, quem comandava ministério. Eu queria saber como funcionava o mundo político. Isso me foi bastante útil.” Pelo serviço, pagou R$ 2 milhões.

 

Marcos Pereira: R$ 6 milhões de propina

O dono da JBS, Joesley Batista, afirmou em sua delação que repassou ao ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, R$ 6 milhões. O valor teria sido dividido em 12 parcelas, sendo que a última foi repassada pessoalmente a Pereira no dia 24 de março. A última parcela de R$ 700 mil foi paga em 24 de março deste ano, na casa do depoente, diretamente a Marcos Pereira”, contou. De acordo com o que contou aos procuradores na delação, Marcos Pereira teria enviado um emissor para negociar o valor. O fato ocorreu na época em que a empresa negociava empréstimos com Caixa Econômica Federal de R$ 2,7 bilhões. Joesley então teria sido procurado pelo vice-presidente corporativo da Caixa, Antônio Carlos Ferreira – indicado ao cargo pelo PRB. Na conversa, o representante do banco afirmou que pedia os recursos em nome de quem havia lhe indicado. O PRB tem como presidente licenciado o ministro do governo Temer.

 

Alexandre Padilha: R$ 3 milhões em 2014

O diretor de Relações Institucionais e de Governo da JBS, Ricardo Saud, relatou ao Ministério Público Federal que o candidato do PT ao governo de São Paulo em 2014, Alexandre Padilha, recebeu R$ 3 milhões em doações ilícitas de campanha. O executivo relatou que, somente naquele ano, o Partido dos Trabalhadores recebeu R$ 150 milhões para a campanha, dos quais R$ 30 milhões foram repassados aos diretórios estaduais e candidatos ao governo de estado. Saud detalhou o valor entregue a mais três candidatos, além do valor repassado ao ex-ministro da Saúde. Segundo ele, o atual governador de Minas, Fernando Pimentel, também do PT, recebeu pelo menos R$ 30 milhões, Gleisi Hoffmann, senadora (PT/PR) e candidata derrotada ao governo do Paraná, R$ 5 milhões; e Antonio Gomide, de Goiás, R$ 2 milhões.


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