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Estado de Minas

Advogado de Lula negociou com notas frias obras no sítio de Atibaia, diz delator

Roberto Teixeira usou documentos irregulares para a execução de obras no imóvel em São Paulo, afirmou delator da construtora Odebrecht, Alexandrino Alencar, à Lava-Jato


postado em 15/04/2017 07:40 / atualizado em 15/04/2017 08:56

Obras no sítio estavam orçadas em R$ 500 mil, mas acabaram custando R$ 1 milhão, afirmou Alexandrino Alencar, ex-diretor da empreiteira(foto: Márcio Fernandes/Estadão Conteúdo - 17/12/16)
Obras no sítio estavam orçadas em R$ 500 mil, mas acabaram custando R$ 1 milhão, afirmou Alexandrino Alencar, ex-diretor da empreiteira (foto: Márcio Fernandes/Estadão Conteúdo - 17/12/16)

As obras no sítio de Atibaia (SP), apontado como peça fundamental na investigação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram executadas com notas frias negociadas pelo advogado do petista, Roberto Teixeira, segundo depoimento do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar, responsável pelo acompanhamento do serviço. A reforma no sítio foi pedida pela ex-primeira-dama Marisa Letícia diretamente à Odebrecht, que teria gasto R$ 1 milhão para um serviço orçado em R$ 500 mil. Para evitar suspeita sobre o trabalho feito no local, a empreiteira orientou seus funcionários a não usarem uniforme e todo o material comprado em lojas da região teria sido pago com dinheiro vivo.

Após explicar os detalhes da operação que fizeram a construtora assumir a reforma do sítio, Alexandrino afirmou que, no fim dos trabalho, foi chamado por Roberto Teixeira para “formalizar” o processo. Conforme o delator, as notas fiscais foram forjadas para “encaixar no perfil” de Fernando Bittar, oficialmente proprietário do sítio. “Tudo foi feito de forma escalonada, para que não suspeitasse: como o Fernando (Bittar) pagou essa conta?”, revelou. Com a justificativa de que o envolvimento da empreiteira na reforma causaria “sensibilidade”, porque que se tratava de um sítio que seria usado por Lula, Alexandrino afirmou que orientou seus funcionários.

“Em função da sensibilidade do processo, nenhum dos nossos funcionários usou macacão da Odebrecht, e as contas dos materiais na região foram feitas com dinheiro vivo. Para não comprometer, já que era o presidente Lula, o sistema Odebrecht. Eles (sem explicar quem) acharam por bem, e eu acho que faz sentido tomar essa precaução”, afirmou o delator.

Em nota, Roberto Teixeira afirmou: “Jamais combinei com Alexandrino Alencar ou com qualquer outra pessoa de 'forjar' notas fiscais”. De acordo com o defensor, a ilação é "absurda e caluniosa" e não tem respaldo na delação. "Sou advogado atuante há 47 anos, já fui presidente por duas vezes da Subscecional de São Bernardo do Campo da OAB e jamais participei de qualquer ato ilícito", diz nota do advogado. "Delação não é meio de prova e muito menos pode ser utilizada por jornalistas ou veículos de imprensa para construir suas próprias versões", conclui Teixeira.

 

 

Caixa 2 para campanhas de Alckmin

 

O ex-chefe do setor de infraestrutura da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva Junior entregou à Operação Lava-Jato cópias dos registros de pagamentos de caixa 2 para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), das planilhas do Setor de Operações Estruturadas - o chamado "departamento de propinas". São as provas de corroboração do que disseram três delatores da Odebrecht sobre pagamentos acertados e efetuados para as campanhas de 2010, de R$ 2 milhões, para o codinome "Belém", e de 2014, de R$ 8,3 milhões, para o codinome "M&M".

"Jamais pedi recursos irregulares em minha vida política, nem autorizei que o fizessem em meu nome. Jamais recebi um centavo ilícito. Da mesma forma, sempre exigi que minhas campanhas fossem feitas dentro da lei" - Geraldo Alckmin, governador de São Paulo (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Alckmin foi citado por três delatores da Odebrecht. O caso foi enviado para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), que tem competência para analisar a abertura de uma investigação criminal contra ele, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Lava-Jato. "M&M", segundo o delator, pode ser referência ao nome de Marcos Monteiro, que foi o interlocutor de Alckmin no suposto acerto da doação de R$ 10 milhões para a campanha de 2014. Monteiro era, na época, titular da Imprensa Oficial do Estado e é, atualmente, secretário de Planejamento Efetivamente, o valor pago foi de R$ 8,3 milhões, segundo os delatores.

Nas planilhas, além do codinome M&M há registro das datas de entrega, as senhas usadas para o recebimento dos valores e referências às obras Linhas 6 do Metrô e Emissário Praia Grande relacionados aos pagamentos. "O diretor superintendente da Odebrecht Infraestrutura, responsável pela região Sul e o Estado de São Paulo, Luiz Antonio Bueno Junior, me relatou que foi procurado por Marcos Monteiro", contou o delator. "Para solicitação de contribuição de campanha para o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, no valor de R$ 10 milhões."

BJ afirma que o propósito da aprovação da doação "era a proeminência de Geraldo Alckmin no cenário nacional, a sua liderança e de seu partido no Estado de São Paulo". "Também era garantir interlocução qualificada na discussão dos projetos vislumbrados como participação na nova rodada de concessão rodoviária no estado, novas participações em projetos com parceria da Sabesp e potenciais novas concessões de trens regionais."

O delator afirmou que "em todos esses segmentos no ano de 2015" a Odebrecht teve "oportunidade de discutir antecipadamente com o governo estes projetos, modelo de contratação, fontes de financiamento etc." "Considerando o perfil progressista de Geraldo Alckmin, candidato ao governo do Estado de São Paulo em 2010, incentivador das parcerias público privadas, com objetivo de promover investimentos na área de infraestruturas, o que era de interesse da companhia, foi realizada contribuição para as campanhas por meio de caixa 2, em espécie", afirmou BJ em seu anexo sobre o caso. "Nosso objetivo com doações ao candidato Geraldo Alckmin era manter a companhia bem posicionada em termos de relacionamento, comparativamente com as duas outras estrelas do PSDB - Aécio Neves e José Serra."

DEFESA

O governador  Geraldo Alckmin  negou qualquer irregularidade, por meio de nota. "Jamais pedi recursos irregulares em minha vida política, nem autorizei que o fizessem em meu nome. Jamais recebi um centavo ilícito. Da mesma forma, sempre exigi que minhas campanhas fossem feitas dentro da lei." O secretário de Planejamento do governo de São Paulo Marcos Monteiro afirmou que as contas da campanha de 2014 do governador Geraldo Alckmin foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral. "A gestão financeira da campanha de 2014 foi feita dentro da lei e todas as contas foram aprovadas pelo TRE”, completou.

 

Rio de Janeiro era “Casa de doidos”

 

Em função da grande quantidade de demandas e políticos a serem atendidos ao mesmo tempo pelo Setor de Operações Estruturadas, o famoso "departamento de propinas" da Odebrecht, a construtora deu à conta destinada a "pagamentos extemporâneos" ao estado do Rio a rubrica "Casa de doidos". A revelação é do executivo da Odebrecht Benedicto da Silva Júnior, em delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava-Jato. "Tinha esse nome porque a gente dizia que o Rio de Janeiro era uma Casa de Doidos. Era uma conta que se usava para pagar várias coisas ao mesmo tempo", disse. "Era uma rubrica para pagar coisas extemporâneas", explicou Silva Júnior, conhecido como BJ.

Quando falou da "Casa de Doidos", BJ explicava os pagamentos que, segundo ele, foram realizados ao ex-secretários de Transportes do Rio Júlio Lopes. Segundo o executivo, Lopes recebeu em 2013 mais de R$ 6,5 milhões por meio de três codinomes. Foram R$ 1.105.900 na cota "Pavão", R$ 2.259.000 para "Velho" e outros R$ 3.170.420 na rubrica "Casa de doidos", segundo BJ. Os pagamentos foram feitos naquele ano, segundo o delator, para garantir que Júlio Lopes "não criasse problema" nas obras de construção da linha 2 do Metrô do estado. "Aqui o que posso assegurar ao sr. é que o que ele acabou fazendo foi não gerar nenhum problema a gestão do dia a dia do Metrô linha 2, que era a coisa mais importante que estava acontecendo no Rio de Janeiro", disse ao procurador da República que tomou seu depoimento.

Ele também relatou pagamentos em 2008 e em 2012 a serem repassados ao PP para que a legenda se mantivesse na base de apoio do PMDB. Júlio Lopes é descrito por Benedicto Júnior como a "extensão dos braços" do hoje vice-governador do Rio, Francisco Dornelles. Na planilha que apresentou como "prova de corroboração" de sua delação, BJ relata o pagamento de R$ 246,6 milhões, via caixa 2, a políticos de diversos partidos e estados entre  2008 e 2014. Entre eles estão quatro ex-governadores do Rio e o atual mandatário do Executivo fluminense, Luiz Fernando Pezão, e dois ex-prefeitos da capital, César Maia e Eduardo Paes, além do presidente da Assembleia Legislativa do estado Jorge Picciani. Todos os citados por Benedicto negam irregularidades. A reportagem procurou o deputado Júlio Lopes, mas não obteve resposta. O espaço está aberto para sua manifestação.


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