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Estado de Minas ENTREVISTA

Ministro da Secretaria de Comunicação defende o diálogo na superação da crise política

Em entrevista, Edinho Silva defende modelo de coalizão definido pela reforma ministerial anunciada por Dilma na sexta-feira


postado em 04/10/2015 07:00 / atualizado em 04/10/2015 08:39

(foto: Gustavo Moreno/CB/D.A. Pres)
(foto: Gustavo Moreno/CB/D.A. Pres)
Brasília – Edinho Silva, um zagueiro mediano da Ferroviária de Araraquara – posteriormente deslocado para a lateral esquerda por ser mais baixo do que o necessário para o posto – , trocou o futebol pela carreira política ainda na década de 1980. Mas não abandonou a antiga característica da época dos gramados: permanece jogando na defesa. Em 2014, no meio do tiroteio da Operação Lava-Jato, foi escalado tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff para “blindar”, segundo ele próprio, a caminhada da reeleição da petista. Passada a eleição, o menino que começou a vida carregando malas no hotel do qual o pai era porteiro tornou-se ministro da Secretaria de Comunicação de um governo desgastado diante da opinião pública. Durante entrevista ao Correio Braziliense/Estado de Minas, Edinho, de 50 anos completados no último mês de junho, defendeu o modelo de coalizão definido pela reforma ministerial anunciada por Dilma na sexta-feira como o principal passo para a saída crise política e econômica. “A reforma veio num momento para se criar a estabilidade necessária, a paz necessária, para a retomada do crescimento econômico.”

A presidente Dilma não demorou para fazer a reforma ministerial, criando desgaste desnecessário?
A reforma ministerial é decorrência de uma reforma administrativa. A presidente Dilma, diante das necessidades de cortes provenientes do ajuste fiscal, não apenas impôs cortes na execução de políticas públicas, mesmo que temporariamente, como impôs restrições ao custeio da máquina. Em decorrência dessa restrição, ela anunciou uma reforma administrativa: a fusão de pastas e órgãos públicos. A reforma administrativa foi uma sinalização da melhor racionalização do gasto público. Veio num momento importante para que o governo conseguisse constituir uma nova coalizão, de criar a estabilidade política necessária, a paz política necessária, para que o governo consiga implementar iniciativas importantes para retomada do crescimento econômico, da geração de emprego, de distribuição de renda. (Tudo isso) para executar o programa que efetivamente reelegeu a presidente Dilma.

Espera-se com isso a aprovação da CPMF?
A CPMF é um pedaço de uma série de iniciativas que o governo está tomando de ajuste fiscal, mas a agenda que está colocada como desafio para essa coalizão anunciada – claro, a prioridade é ajuste fiscal – também é importante, afinal, temos uma dependência de retomada do crescimento econômico internacional. Se a economia externa não reagir, hoje, com a globalização, é muito difícil um país sozinho conseguir enfrentar um período de depressão econômica. Mas, a lição de casa, o governo da presidente Dilma está fazendo.

Depois das críticas dos movimentos sociais e da Fundação Perseu Abramo ao ajuste, como realinhar esses grupos ao governo?
A orientação da presidente Dilma é de que temos de dialogar. É inegável que tem contradições. No momento que faz um ajuste, você sempre acaba afetando setores importantes da sociedade. Agora, ajuste não é a política econômica. A política econômica é o crescimento, é a distribuição de renda, é a capacitação do país para que ele se torne cada vez mais competitivo. O governo da presidente Dilma não foi eleito para fazer ajuste, ele foi eleito para ter uma política econômica. Agora, sem o ajuste, fica muito difícil você criar as condições para a política econômica. Nós temos de dialogar nesse sentido com os movimentos sociais, com setores da sociedade, mas também com o empresariado.

O PMDB sempre vai querer mais, ministro?
A política é a arte de juntar. Espalhar é a coisa mais fácil do mundo. A arte da política é de juntar, criar ideias que possam aglutinar forças políticas.

Mas tem hora que o governo cede mais.
Tem de ceder. No Brasil, você não governa com um único partido. Ou você tem coalizão que gere estabilidade política ou você não governa o Brasil.

Esse ambiente de hoje é de instabilidade?
Estamos vivendo um momento de instabilidade, é inegável.

E se consegue ver o risco de impeachment batendo à porta?
Eu não vejo. O impeachment não é uma questão política, é jurídica. Para que você tenha um impeachment, você tem de ter um fundamento jurídico. O governo não se preocupa com essa pauta. A nossa preocupação é ter um desafio imenso pela frente, que é a retomada do crescimento econômico, da geração de empregos, da distribuição de renda, geração de oportunidades.

Do ponto de vista político, há quem diga que o pecado original do governo foi estimular uma candidatura contra o PMDB para presidente da Câmara.
Claro que tivemos problemas, é inegável, na relação com o PMDB na eleição da Câmara. Seria hipocrisia negar. Tivemos um problema de disputa política. Hoje, com a leitura pós-fato, é fácil, isso pode ter caracterizado um erro, e esse erro agravou a relação com o PMDB. Numa democracia, a superação das contradições só se dá com o diálogo. É inegável também que o governo tem feito um esforço imenso de diálogo com os presidentes das duas casas, de respeito institucional. E tem feito o jogo político legítimo, que é recompor a sua coalizão para que ele forme uma maioria estável dentro do Congresso Nacional. O governo tem que continuar investindo no diálogo, na composição, é isso que interessa ao país. Não interessa ao país uma guerra política, que interesses partidários estejam acima dos interesses da sociedade e do Brasil.

Mas não está em jogo também o futuro do PT?
Não sou hipócrita. A situação do PT é grave. Negar isso seria um equívoco. Agora, negar o papel histórico do PT também é um equívoco, negar a capilaridade social que o partido tem. Julgarmos o partido por esse contexto histórico que estamos vivendo também é um equívoco. É um partido que tem uma contribuição imensa ao povo brasileiro. E essa contribuição histórica é efetivamente o nosso ponto de partida para que a gente tenha a humildade de refazer a nossa organização interna, o nosso diálogo com a sociedade, as nossas bandeiras.

Faltou essa humildade no período do mensalão?
Não acho que falte humildade. Às vezes, o processo de reconhecimento de erros é difícil, até individualmente. Todos nós somos seres humanos. Mas, se estamos inseridos num processo como esse, é evidente que o partido em algum momento errou. Não dá para dizer que tudo é uma grande conspiração contra o PT. Tem um jogo político que é sórdido, muitas vezes. Um processo de investigação, que deveria fortalecer as instituições, muitas vezes é usado para atingir o partido politicamente, é usado na disputa político-partidária, o que é ruim. Mas é claro que cometemos erros.

Num dado momento, houve grupos dentro do PT que esticaram a corda. Isso pode ter sido um erro, ir muito para a linha de frente?
Não consigo avaliar o governo quando não estava nele. Não participava dos fóruns de discussão. Claro que o governo tentou o tempo todo se posicionar diante dos fatos. E também a gente fazer análise hoje é muito fácil. O que vejo hoje é um governo liderado por uma mulher íntegra, honesta, correta, que tem uma história de vida que dignifica a política brasileira. Tem liderado um governo de forma exemplar. E, ao contrário do que muitas vezes a sociedade diz, ela lidera orientando seus ministros ao diálogo, à construção e ao fortalecimento dos laços com a sociedade, para que a gente não abra mão em momento algum dos objetivos maiores, que são a construção de um país mais justo e mais igualitário. Tanto é que, no ajuste, eu presenciei muitas vezes a luta dela para que nenhum programa deixasse de existir.

Por exemplo?
Por exemplo, que se diminuísse investimento aqui e ali, neste momento de travessia, como Dilma diz, mas que nenhum programa fundamental para o povo brasileiro deixasse de existir. E é uma mulher que é vítima de preconceito. Não tenho nenhuma dúvida de que, se fosse um homem sentado na cadeira da Presidência, boa parte do que a gente lê, do que a gente vê, do que existe de posicionamento não existiria. Tem muito preconceito. Tem muito machismo.

A popularidade da presidente está muito baixa. O senhor atribui isso a que, além do machismo?
Não estou simplificando. Há um problema de desgaste de imagem da presidenta Dilm, porque ela é catalisadora de um descontentamento com o governo dela e também de um sentimento de esgotamento do modelo político. Em junho de 2013, tínhamos nas manifestações das ruas indícios fortes de esgotamento do modelo político. Ela hoje é catalisadora desse esgotamento. Então, junta o desgaste do governo e esse esgotamento, tem efetivamente um desgaste de imagem. É irreversível? Evidentemente que não. Se nós tivermos estabilidade política, uma pacificação política, tenho certeza que a sociedade vai se abrir para ouvir essa mulher.

Mas esse tempo é curto…
Por isso a emergência da remontagem do governo.

A presidente está isolada?
Ela não está isolada. Uma mulher que está redesenhando uma coalizão que envolve importantes partidos da política brasileira não está isolada. Tirando os da oposição, todos os grandes partidos estão na coalizão dela. Estamos vivendo uma crise política em decorrência de um processo de investigação que atinge lideranças importantes da política brasileira, e isso também gera instabilidade. O governo não nega que essa crise é importante. E ainda tem o ingrediente da crise econômica. É uma cesta de fatores consideráveis, e é por isso que só vamos superar essas dificuldades com a força dessa mulher que está nos liderando. Não tenho nenhuma dúvida disso.


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