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Estado de Minas

Dilma tem o desafio de manter Temer como articulador político para evitar nova tempestade

Depois de convencer o ministro da Justiça a não abandonar o barco, presidente tenta manter Temer. Sem ele, o receio é de que a crise se agrave


postado em 04/07/2015 06:00 / atualizado em 04/07/2015 07:15


A presidente Dilma Rousseff convenceu ontem o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT-SP), seu homem de confiança, a permanecer no cargo, apesar do incessante fogo amigo de petistas insatisfeitos com os rumos da Operação Lava-Jato. Essa vitória pessoal da presidente está, no entanto, muito longe de significar uma calmaria no seu conturbado segundo mandato. Vencida a luta para manter Cardozo, Dilma, agora, terá de se empenhar para não perder outra peça-chave: o articulador político do governo no Parlamento, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), desgastado pelos embates de seu partido com o PT.

Elevado no início de abril ao posto de negociador com o Congresso – depois de tentativas frustradas com nomes petistas, o último deles, Pepe Vargas (PT-RS) –, Temer também se transformou na única ponte para diálogo do Planalto com o PMDB. Como bom articulador, ele negocia até mesmo com petistas que  ainda não voltaram às boas com a presidente, insatisfeitos desde que Joaquim Levy e Nelson Barbosa foram alçados aos cargos de ministros da Fazenda e do Planejamento, respectivamente. A dupla tem sido constantemente bombardeada pelos mais radicais do partido pelas medidas do ajuste fiscal, que afetam diretamente o trabalhador.

Caso a saída de Temer se confirme, novas turbulências vão atingir o barco da timoneira Dilma, cada vez mais isolada. Além de ter de escolher um novo articulador político que dê conta de um cenário ainda mais crítico, a petista terá de enfrentar a saída formal do PMDB do governo – que faz esta ameaça desde os primeiros dias do segundo mandato.

A saída de Temer da articulação política tem um arquiteto de peso: o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que defendeu a tese abertamente. Para Cunha, uma parte do PT está sabotando o trabalho de Temer, que não está conseguindo cumprir promessas feitas aos parlamentares, para viabilizar votações, como a liberação de emendas e a nomeação para cargos de segundo escalão. Nos bastidores, fala-se que o prazo de validade do vice como negociador não passaria de agosto. E como ele mesmo se definiu, Cunha é bom de voto, ou seja, tem cacife político para influenciar o vice.

Sabotagem No caso de Eduardo Cardozo, que não esconde mais sua insatisfação com o exercício do cargo, os petistas não são acusados de sabotagem, mas de fazer uma pressão desmedida. Acreditam que Cardozo poderia influenciar nos rumos da Lava-Jato, mas não o faz. A operação já acertou quase toda a cúpula política do partido e não poupa nem mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na semana passada, Lula foi alvo de especulações sobre doações da empreiteira Odebrecht – acusada de fazer parte do clube de empresas que se beneficiaram dos desvios da Petrobras – a seu instituto.

Apesar da suspeita do pagamento de propina a vários outros partidos da base aliada do governo, a prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, em abril, na Lava-Jato, foi o desencadeador da insatisfação dos petistas. A prisão pegou de surpresa o partido, que resistia em afastar Vaccari do cargo e pretendia usar a acusação contra o petista para desqualificar as delações premiadas que foram feitas durante a instrução do processo. Um dos delatores, Pedro Barusco, disse que repassava ao PT, por meio de Vaccari, algo em torno de US$ 100 milhões, o dobro do que embolsava. A prisão obrigou o partido também a rever o financiamento de campanha.

Golpe As acusações contra o ex-ministro José Dirceu (PT-SP) – que cumpre pena em regime aberto por envolvimento no escândalo do mensalão, quando ocupava o cargo de ministro-chefe da Casa Civil – também ajudaram o fomentar a insatisfação com Cardozo. Agora, a acusação é de que o petista teria lavado dinheiro de propina da Petrobras por meio de sua empresa JD Consultoria. Apesar da condenação na Ação 470, José Dirceu mantém forte influência sobre o PT, que o considera quase que vítima de um julgamento político por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).

No fim de semana passado, Cardozo não pôde acompanhar a presidente Dilma Rousseff em sua viagem aos Estados Unidos, para mais uma vez apagar fogo no governo. Ele foi destacado pela presidente para acompanhar o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva – ex-coordenador financeiro da campanha da petista –, para explicações à imprensa em razão de acusações de cobrança indevida de doações de campanha. A denúncia foi feita pelo empresário Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC, também em delação premiada.

Na avaliação de petistas ligados a Cardozo, é difícil prever até quando ele vai permanecer no cargo. No entanto, avaliam, seria importante que o prazo se estendesse até o próximo ano, após a realização das Olimpíadas, no Rio. Uma aposta, entretanto, que depende de quantas e tão graves forem as novas turbulências do segundo mandato de Dilma. (Colaborou Renato Scapolatempore)

 

Lula manda Dilma pôr "pé na rua"

São Paulo – Num longo discurso a integrantes da Federação Única dos Petroleiros (FUP), em Guararema (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que o país atravessa um momento difícil e apontou um roteiro para a recuperação do governo de sua sucessora e afilhada política, Dilma Rousseff. Para o petista, “o governo está, outra vez, precisando conversar com o povo” e precisa recobrar o “oxigênio” nas ruas. “Acho que ela tem a noção exata do que eu estou falando. Ela conviveu muito tempo comigo e sabe que, nas horas mais difíceis, não tem outra alternativa a não ser encostar a cabeça no ombro do povo e conversar com ele. Explicar quais são as dificuldades e quais são as perspectivas”, afirmou.

Para Lula, Dilma precisa colocar “o pé na rua” e falar com a parcela da população que torce para ela governar o país. “Tem que fazer o que tiver para fazer em Brasília e ó, pé na estrada. Ela e os ministros”, aconselhou. “O povo vai cobrar? Vai. Mas tem que cobrar mesmo. (...) É essa linha direta entre a Dilma e o povo que vai permitir que a gente conquiste grande parte dessa juventude”, afirmou.

Evitando críticas ao governo, como fez nas últimas semanas, Lula atribuiu o mau momento da economia à crise internacional que estourou em 2008, e disse que as pessoas só veem um Brasil pior hoje porque o comparam com o país que os petistas construíram quando chegaram ao Planalto.

Sobre a Operação Lava-Jato, Lula criticou o que tem chamado de “vazamentos seletivos” de detalhes da operação, com o intuito de “pegar alguém ou acusar algum partido”. “A pessoa só pode ser chamada de ladrão na hora em que se provar que é ladrão. Não pode criminalizar antes de provar e antes de ela ser julgada”, disse.


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