Coluna: A política é como nuvem

Primeiro ato. Com amigos assim, ninguém precisa de inimigos. Que o diga Júlio Delgado (PSB-MG), candidato à presidência da Câmara dos Deputados, com apoio, entre outros partidos, do PSDB. Apoio? “Há uma orientação nesse sentido, mas o voto é secreto. Não há como garantir.” De quem é a frase? Do presidente do PSDB paulista, Duarte Nogueira. Quando? Durante almoço em São Paulo entre os parlamentares do partido com o candidato à presidência da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Pelo jeito, a sobremesa será servida bem gelada no dia da eleição.

Quer mais? “Surpresas acontecem e não são inesperadas. Júlio precisa ter força e fibra para enfrentá-las.” Frase de quem? Do vice-governador de São Paulo, Márcio França. De que partido? Do PSB de Júlio Delgado. Pano rápido!

Segundo ato. Confira a escalação do Tucanos Futebol Clube que entrou em campo para manter a palavra e o acordo firmado com Júlio Delgado com toda pompa e circunstância e na sala da liderança do próprio PSDB: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; o presidente nacional do partido, senador Aécio Neves; e até o senador eleito por São Paulo, José Serra. Também estão escalados o líder Antônio Imbassahy (BA) e o próprio Duarte Nogueira.

O raciocínio dos caciques tucanos é que o desgaste para o partido será muito grande se descumprir a palavra empenhada. Por isso, trabalham para convencer os colegas de que é preciso “despejar” votos
na candidatura de Delgado.

O saudoso Magalhães Pinto, no entanto, já ensinava lá atrás que “política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Você olha de novo e ela já mudou”. Só que a máxima, nesse caso, vale para os dois lados. De que lado do muro o PSDB vai descer?


Exigência

Os empreiteiros que esperam receber pagamentos atrasados do DER-MG foram surpreendidos com uma exigência informal estabelecida pela nova direção do órgão. Para receber o dinheiro devido, os responsáveis pela construção de estradas e outras obras terão antes de retirar as placas fixadas pelo governo anterior. E, a cada placa retirada, devem ser fincadas cinco placas do atual governo mineiro. Só assim será aberta a chave do cofre.

Ações em queda

A queda das ações da Petrobras na Bolsa de Valores de São Paulo repercutiu fortemente no Senado esta semana. Para o líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), é fundamental continuar as investigações na empresa. Para o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que deixa a Casa no fim da semana, “é importante garantir a transparência nas contas para preservar a imagem da empresa”. Pergunta que não quer calar: será que eles têm ações da Petrobras ou estão à vontade por não investir na Bolsa?

E os meus projetos?

A liderança do PR na Câmara dos Deputados foi, mais uma vez, oferecida a Lincoln Portela (MG), que, desta vez, preferiu não aceitar. Ele explica que ficou quase dois e meio como líder, um ano como presidente da Comissão de Legislação Participativa, aquela de projetos de iniciativa popular, e foi também vice-presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. “Com isso, meus projetos ficaram parados e eu não tinha tempo para fazer andar os projetos dos colegas de que eu era relator. Quando eles seriam votados numa comissão, eu estava presidindo outra”. Lincoln Portela, no entanto, continua como vice-líder do partido.

O leitor tem razão

Escreve o leitor Afrânio Souza Júnior: “Bom dia, Baptista! Difícil convivermos em sociedade nos dias atuais. Imagino como deveriam ser os velhos tempos das cavernas, quando, não se pagava IPTU e demais impostos, pouca criminalidade (com exceção à luta pela sobrevivência) e a água era abundante e não contaminada. Ah! Somente existia a figura de um chefe ou líder, inexistindo a figura do político, nosso mal contemporâneo que abusa e se esconde atrás da dita cuja ‘Democracia’. Bons tempos aqueles das cavernas, pois não eram obrigados a votar e tampouco existia urna eletrônica”. E disse mais. Muito mais.

Energia solar

Depois da água derramada nas usinas hidrelétricas, aparece no site da Câmara dos Deputados um projeto de lei do senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) que isenta equipamentos de energia solar de imposto sobre importação. A proposta já foi aprovada pelo Senado e tramita agora na Câmara dos Deputados. O autor destaca que se trata de energia limpa e que não agride o meio ambiente e é pouco usada em um país que tem a maior intensidade de radiação solar do mundo. O projeto pode ser aprovado em caráter terminativo depois de passar por algumas comissões da Casa. Quer apostar que agora vai andar rapidamente por causa da atual crise e do risco de racionamento?

PINGAFOGO

• Um parlamentar bem-humorado mostra que há alguma coisa mudando no Brasil. E para melhor. Ele conta que decidiu dar uma carteirada. “Sou deputado”, foi logo dizendo. E o interlocutor devolveu: “Bem feito, quem mandou você não estudar?”.

• Os ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do Esporte, George Hilton, se reuniram ontem, no Palácio do Planalto, com representantes do Bom Senso F.C., que nasceu da iniciativa de diversos jogadores preocupados com o atual estado do futebol brasileiro.

• E teve até escalação. O Ministério do Esporte informou que a delegação foi composta “por Alex, Fahel, Lincoln, Paulo André e Paulo César, além de Ricardo Borges,
diretor-executivo do BSFC”.

• A presidente da Petrobras, Graça Foster, disse, em teleconferência com investidores, que as perdas com corrupção da empresa podem ser maiores do que os R$ 4 bilhões estimados até agora. Eu disse R$ 4 bilhões!

• É, Graça Foster deve estar mesmo estressada com os últimos acontecimentos. É que a Petrobras pode deixar de pagar dividendos por “estresse financeiro”. Só faltava essa. Então, coloca a empresa num divã de psiquiatra.

• A Lei Anticorrupção está fazendo
o seu primeiro aniversário. Mas não vai dar para soprar as velinhas do bolo. É que até hoje ela não foi regulamentada. E o governo ainda alega que está fazendo os últimos ajustes.