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Estado de Minas

Candidatos à presidência da Câmara revelam estratégias para chegar ao cargo


postado em 25/01/2015 06:00 / atualizado em 25/01/2015 08:17

Nos últimos dias de campanha pela presidência da Câmara dos Deputados, os três principais candidatos expõem aos eleitores programas parecidos. Todos prometem independência em relação ao governo federal, atenção os projetos dos parlamentares, a votação da tão propalada reforma política e, de quebra, respeito total aos trâmites regimentais quando os deputados envolvidos no petrolão forem conhecidos oficialmente. Em entrevistas ao Estado de Minas, os candidatos expuseram essas propostas, sem deixar de apresentar de forma direta o fosso que separa PMDB e PT, com sequelas sobre o governo. A eleição para as Mesas Diretoras do Congresso será no próximo domingo, 1º de fevereiro. Eduardo Cunha, do PMDB, em campanha desde a última semana de novembro, posa de favorito e aposta numa vitória em primeiro turno para impor uma derrota ao PT. Já o candidato petista, Arlindo Chinaglia, confiante no segundo turno, promete votar inclusive na oposição, caso fique fora da final. Enquanto os dois brigam entre si, Júlio Delgado, do PSB, se coloca como o único capaz de derrotar os dois se chegar ao segundo turno e de levar avante a punição a quem estiver envolvido na Lava-Jato.

Entrevistas


Eduardo Cunha, candidato do PMDB – "Não estou em campanha contra o governo”

Por que disputar a presidência da Câmara?

(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Qualquer um dos 513 deputados desta Casa pode almejar ocupar os cargos da Câmara. Sou o sucessor do Henrique Alves na liderança, a própria bancada do PMDB me deu apoio para construir minha legislatura. Não é questão de vontade pessoal. Você pode até dizer que meu oponente do PT tenha vontade pessoal porque ele já foi presidente da Casa e está buscando voltar. O outro — enquanto não estava construindo uma base — estava com vontade pessoal, que é diferente da conjuntura política. Se eu fosse candidato de mim mesmo, estaria fadado ao fracasso.

O senhor espera quantos votos?

Eu não falo em números porque quem coloca votos na boca dos outros é porque não os tem. Tenho a convicção de que estou em primeiro lugar e que minha vitória será em primeiro turno. Mas não digo número porque é agressivo, é prepotente, é arrogante e o voto é secreto. Quem afirmar que os tem pode estar cometendo o erro de não ver esses votos serem confirmados.

Como lidar com a relação conturbada com o Planalto?

O líder do PMDB só pode se expressar de acordo com o pensamento de sua bancada. Quem acha que teve rebelião e que foi o Eduardo Cunha que fez o PMDB ficar não conhece o processo político. O líder é porta-voz da bancada. Quando ele não é porta-voz, ele não tem legitimidade para continuar como líder. Eu não teria sido reconduzido se não tivesse essa confiança que a bancada depositou. Meu problema com ela é zero. Sempre fui cordial. Se existe problema, ela tem que dizer o que é. Eu não tenho nenhum.

O senhor apoiaria uma CPMI da Petrobras?

Atingido o número, ela é aberta. E a bancada do PMDB assinará para haver outra investigação. Mas o meu papel de presidente da Câmara não terá nada a ver com a CPMI. Já em relação ao Conselho de Ética, tenho dito que não cabe ao presidente da Câmara interferir. Vai ser votada a admissibilidade.

Como será o relacionamento com o PT, uma vez que a campanha está conturbada?

Está havendo um baixo nível em relação a campanha. As agressões pessoais a que fui submetido quase que diariamente pelo candidato do PT têm sido acima de qualquer tom. E obviamente essa campanha sairá com sequelas que podem atrapalhar o relacionamento futuro. Não vou cometer estelionato eleitoral. Minha proposta de governo é muito clara e vou cumprir. Eu não sou de oposição e não serei. O governo tem garantida sua governabilidade e, ao mesmo tempo, não serei submisso.

Pretende colocar em votação a questão do financiamento de campanha?

Sou favorável ao financiamento privado de empresa. Quem conseguirá o financiamento público por meio de pessoas físicas? A não ser quem tem a máquina pública, cargos na mão de determinados partidos que podem usar parte do salário para contribuir. Financiamento público ou privado de pessoa física só beneficia o PT. Quem cobra a colaboração de quem tem cargo de confiança? O PT cobra. Isso dá vantagem absurda e não nos interessa esse desequilíbrio. Todos precisam de oportunidade igual.

Isso não pode criar segmentos dentro do Congresso?

E quem garante a você que o financiamento de pessoas físicas não pode vir de um sindicato específico e você vira o candidato dele? Não muda nada porque a Câmara é a representação de segmentos, diferente do Senado, que é a representação dos estados. Aqui você tem deputado ligado a movimento social, ao futebol, à saúde… Os empresários que hoje patrocinam buscam um interesse comum, ninguém nunca me pediu nada individualmente que não fosse republicano ou em defesa do setor. Eles querem crescimento econômico, onde todo mundo ganha.

A investigação da Lava-Jato pode constrangê-lo?

O advogado do Youssef já negou haver citação. Você acha que vou me preocupar com a situação comentada por um blog e que foi desmentida pelo advogado do próprio réu? Desculpa, não vou me constranger. Recebi Fernando Baiano no escritório do Rio e não tem problema algum.

Arlindo Chinaglia, Candidato do PT – “O governo não está em jogo aqui”

O embate da campanha pode impossibilitar uma relação mais cordial entre PT e PMDB no futuro?

(foto: José Cruz/ABr)
(foto: José Cruz/ABr)
Primeiro que, quando se disputa eleição não pode se achar tão importante a ponto de não admitir a derrota. Quem entra na disputa pode ganhar ou perder. Acho que é uma presunção se eu partisse do pressuposto de que o PT fosse se orientar inteiro daquilo que seria o resultado da disputa. Quem vai no rumo de imaginar que é o centro do universo erra na avaliação política. Meu desafio é fazer 258 votos.

O senhor é a favor de nova investigação da Petrobras?

Não cabe ao presidente tolher iniciativas, ele é refém de regras. Então, como é que alguém defende uma CPMI agora sem dizer o que é o fato determinado. Quem conhece ou teve acesso às investigações cabais da Lava-Jato para dizer o que falta ser investigado? Não me parece séria a proposta. Quem defende a CPMI tem de dizer onde é que a Polícia Federal falhou, onde o Ministério Público falhou e o que se tem a investigar. A CPMI precisa de um fato determinado.

Este ano promete ser mais difícil do ponto de vista econômico e político?

Tenho tranquilidade quanto ao meu nome. Para a Câmara, defendo uma agenda nacional, que não pode ficar limitada a eventos que fiquem a menor do que papel da Casa. Nós temos que aprofundar e votar temas da reforma política, senão, o Judiciário vai fazê-lo, como já está fazendo. E deixar o Judiciário fazer, para mim, é um desastre. Se tiver parlamentares envolvidos na Operação Lava-Jato, que respondam às regras. Não vamos parar a Câmara. Cada um responde pelos seus atos e segue o trâmite normal. Pode até atrair a atenção da mídia, mas nós não vamos perder do foco.

A gestão do senhor seria voltada ao Planalto?

Você nunca ouviu nenhum líder da oposição fazer referências desse tipo ao meu respeito. As pessoas tem formação política, ideológica, que eu também tenho, mas faz parte do caráter respeitar a palavra empenhada e as regras. Tem de saber conduzir processos. Na experiência política, na maior parte das vezes, a gente é derrotado. Quando fui presidente, a Câmara estava numa situação ruim e nós tivemos problemas o que naquela época gerou um ranger de dentes. Ao fim de dois anos, fui aplaudido pelo plenário. Aqui você é líder da bancada num dia, no outro dia você é um da bancada.

Como é o relacionamento com a presidente Dilma?

É normal. Tem gente — entre os candidatos — que quando a encontra faz muito mais rapapés que eu. Eu a trato com a sobriedade que o cargo dela e o meu exigem, mesmo quando líder do governo. É um tratamento obviamente respeitoso.

O senhor pretende votar o financiamento público?

Essa é uma questão disjuntiva que vai ter que se solucionar. É um material que deve ser lido como os outros para que, a partir daí, ver se é possível fazer uma reforma de cara ou ir avançando. Não tem tema proibido para a Câmara. Meu temor é que tem gente que parece ter um longo passado pela frente e repetirá a vida inteira aquilo que interpretou errado, mas acha que acertou. Eu prefiro trabalhar com as forças mais vivas da sociedade sem nenhuma história.

As denúncias contra o ex-ministro José Dirceu podem afetar de alguma forma sua candidatura?

O que eu tenho a ver com isso? Viu alguma notícia de que sou sócio dele? O que tem a me dizer do seu futuro frente aos padres pedófilos? Percebe como ficamos se formos responsabilizar o conjunto pelo pecado de alguns? É tão despropostitada a pergunta que prefiro não fazer comentários.

As correntes do PT estão mais pacificadas?

Eduardo Cunha virou porta-voz do Fora PT. Então, ele começou a fazer um julgamento na tentativa de atrair a oposição, mas não deu certo porque a oposição não se sentiu confortável de tê-lo como representante. Eu não estava mobilizado a fazer campanha. Estava querendo descansar da campanha. Até porque me sinto bem com o trabalho que faço. Ao atacar tanto o PT de forma distinta, o PT tinha de reagir. E eu não ataco o PMDB. Mas ele diz ter 15 votos no PT.

Júlio Delgado, candidato do PSB - "Temos a responsabilidade e independência de negociar”

Qual será sua relação com o Planalto, de oposição ou submissão?

(foto: José Cruz/ABr)
(foto: José Cruz/ABr)
Republicana. O Planalto sabe que nosso bloco partidário é composto por dois partidos de oposição (PSDB e PPS) e outros dois independentes (PSB e PV). Então, colocamos claramente que não fazemos parte do governo e não aceitaríamos nenhum tipo de cargo. Mas também não somos de oposição. Aquilo que vier do governo com respeito e governabilidade ao país nós vamos enfrentar. Aquilo que vier de contraponto, vamos debater. Nós temos a responsabilidade republicana e independência de negociar, sem essa exigência de cargo. Tem partido que diz que é independente, mas participa do governo.

Existe ação do governo pelo nome de Chinaglia?

Começa muito forte, com envolvimento dos ministros que foram contemplados em forma dos partidos. A primeira perda do Eduardo Cunha é o PRB, que tinha declarado apoio, mas vai apoiar o Arlindo Chinaglia. O PSD, do Kassab, agiu fortemente e emparelhou a disputa. Ao mesmo tempo em que essas medidas são tomadas, a área econômica deixa a sociedade apreensiva sobre se a eleição do parlamentar vai ter uma aproximação com a sociedade brasileira. A gente tem a perspectiva de buscar essa vaga no segundo turno. É um desafio ser um candidato que se coloca de forma independente de verdade.

O senhor é favorável a essa reaproximação?

Eu acho que é bom a gente ficar, por enquanto, onde a gente está. Defendo uma manutenção da decisão da executiva, que nos mantém em decisão de independência para que possa votar naquilo que for de interesse do país, mas também contraditar aquilo que não aceita e vê como dificultador para o Brasil e que a sociedade não concorda.

Há pressão do PSDB para deixar de apoiá-lo para se aliar a Cunha...

Há dissidentes em toda candidatura e posso garantir que quem tem o menor número de dissidentes sou eu. Agora essa questão do PSDB está sepultada, não existe isso. Eu estive com Beto Richa e Geraldo Alckmin, que me deram declaração de que, se fossem deputados, votariam em mim. Estive também com Aécio Neves, além de outros nomes importantes. As dissidências do PSDB tem origem e DNA e vamos trabalhar para demovê-las até 1° de fevereiro. Ninguém é ingênuo de achar Arlindo e Eduardo tem unanimidade dos blocos deles.

Vai trabalhar pela reforma política?

Vamos colocar a reforma política em votação assim que formos eleitos. Os pontos polêmicos não são para contrapor a presidente Dilma, mas são para reafirmar a posição do Parlamento. Não se pode fazer uma consulta de financiamento público antes de informar a população. Em tese, sou a favor do financiamento público, mas como falar para um cidadão que hoje precisa de recursos para saúde que vou financiar a campanha eleitoral? Ele vai ser claramente contra enquanto em tese, essa é a melhor proposta.

É a favor de nova CPI da Petrobras?

Temos que dar continuidade. Nós tivemos a confirmação de que era importante continuar as investigações com o adendo de Marco Maia (PT) ao relatório. A emenda foi melhor que o soneto. Ele nos deu condição para apurar e ainda teve o relatório paralelo que foi apresentado por Carlos Sampaio (PSDB), do qual nós fomos signatários.


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