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Estado de Minas

Sem showmícios, candidatos reforçam propaganda de rua, vão à internet e pagam"cabos de luxo"

Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu a realização de eventos musicais orquestrados por candidatos em 2006


postado em 22/09/2014 06:00 / atualizado em 22/09/2014 07:33

Na disputa presidencial de 2002, showmícios atraíam milhares de pessoas. Quatro anos depois, norma do TSE proibiu a prática (foto: Jorge Gontijo/EM/D.A press 17/8/02 )
Na disputa presidencial de 2002, showmícios atraíam milhares de pessoas. Quatro anos depois, norma do TSE proibiu a prática (foto: Jorge Gontijo/EM/D.A press 17/8/02 )

Se fosse lançado o desafio para escolher o termo mais usado nas eleições deste ano, “velha política” e “nova política” estariam entre os campeões. Enquanto no discurso pouco se sabe sobre o significado dessas expressões, na prática, candidatos vêm mostrando um novo jeito de fazer campanha política. A fórmula para conquistar eleitores na atualidade passa longe de palanques e comícios que fizeram história na época de Juscelino Kubitschek (1902-1976) e de Tancredo Neves (1910-1985) e são até hoje marca do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A estratégia agora envolve uma equação que soma a distribuição massiva de cartazes, banners e santinhos a reuniões com lideranças políticas, uso das redes sociais e contratação de cabos eleitorais de luxo – políticos e pessoas influentes pagas para cooptar votos.

 Ficou para trás uma época em que a população se reunia em praça pública para ouvir os candidatos. “Diminuíram muito os comícios. Nesta eleição, praticamente não tem tido. Hoje eles estão fora de moda”, conta o candidato ao governo de Minas Tarcísio Delgado (PSB). Aos 78 anos, quase 50 deles dedicados à política, o ex-prefeito de Juiz de Fora se lembra com saudade desse tempo. “Tive comícios memoráveis, com 30 mil pessoas. Não levava show, mas sempre reunia muita gente. Somente uma vez o Sérgio Reis, que é meu amigo, ofereceu-me um show dele, em 1996, para a Prefeitura de Juiz de Fora”, conta o candidato, ainda na expectativa de organizar um comício nesta campanha. “Mas é uma despesa grande”, pontua.

Agora, quando ocorrem, os comícios acontecem no improviso. “Quando fomos com Marina (Silva) a Betim, o público era de comício, juntou muita gente e acabamos fazendo tudo improvisado, não tinha nem serviço de som bem instalado”, diz. Em substituição ao palanque, reforço no material de campanha. “Hoje é muito contato pessoal e uso exacerbado de bandeira, cartaz, cavalete, é uma massificação, uma coisa que não diz nada”, critica Tarcísio, que acredita que a internet tem substituído as ruas. “Pela rede social, temos uma campanha paralela enorme, com milhares de acessos”, diz.

Com cinco mandatos de deputado federal, Mauro Lopes (PMDB), de 78 anos, que tenta reeleição na Câmara, promoveu incontáveis showmícios – comícios com a presença de artistas –, mas teve que se atualizar e agora dá a receita da nova forma de fazer campanha: “Primeiro, colocam-se placas em todos os redutos eleitorais. O candidato vai àquela cidade somente depois que o rosto dele já está conhecido. Faz as reuniões com as lideranças, vereadores e prefeitos. Nessa altura, ele já tem as panfleteiras, que vão para as ruas e área rural levando o nome do candidato nos santinhos”, explica o deputado, sem se esquecer do horário eleitoral gratuito na televisão, que completa a estratégia.

Até a proibição dos showmícios pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2006, Mauro Lopes se valeu muito desse recurso para atrair a atenção de eleitores. Um dos contratados da campanha de 1998, inclusive, é hoje seu colega na Câmara, o palhaço Tiririca (PR-SP). “Já levei o Claudinho e Bochecha, o Agnaldo Timóteo. O povo gostava, ia ver os artistas e aproveitava para ouvir os candidatos. Era um gasto astronômico. Agora, realmente ficou uma coisa mais igualitária. Com esse negócio de ficha limpa, isso é que ficou importante”, afirma.

CABOS DE LUXO O deputado federal Humberto Souto (PPS), de 80 anos, acumula também experiência de campanhas a vereador em Montes Claros, no Norte de Minas, e a deputado estadual. Em 50 anos de vida pública e 10 mandatos, ele tenta reeleição na Câmara, reconhece as mudanças nas campanhas, mas não concorda com elas. “Mudou muito a influência do dinheiro na campanha. Hoje aparecem esses deputados compradores de voto e constituem esses cabos eleitorais. Essa é a grande novidade. O vereador recebe dinheiro e arregimenta eleitores”, afirma.

Conforme o Estado de Minas mostrou em reportagem no mês passado, candidatos contratam serviço de cabos eleitorais de luxo, como prefeitos, vereadores e lideranças, que cobram caro para abraçar as candidaturas a deputado estadual e federal. O voto em Minas Gerais custa hoje de R$ 35 a R$ 40. “Antes, o próprio candidato é que andava nas ruas, tinha as lideranças políticas”, diz, irritado, o deputado, que também não se conforma com a chegada de candidatos forasteiros. “Hoje não se respeita mais a região. O sujeito que é do Sul de Minas vai fazer campanha no Norte na maior cara de pau”, revolta-se.

Essa mudança também é percebida pelo ex-deputado federal José Santana (PR), de 75 anos, 40 deles dedicados à vida pública. “As lideranças eram mais consolidadas no interior. Fui votado 40 anos nas mesmas cidades. Você chegava à cidade e o grupo era muito consolidado, até por não haver um número grande partidos”, diz o político, que tem sua base eleitoral na Zona da Mata e nos vales do Jequitinhonha e Mucuri e hoje tenta eleger deputado federal o filho Gustavo Santana (PR).

José Santana, que começou a fazer campanha na época em que não havia televisão nem computador e os cartazes eram em preto e branco, aderiu à moda dos showmícios na década de 1990. Contratou Sérgio Reis, Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, César Menotti e Fabiano. “Todo mundo fazia, era um hábito”, diz. Mesmo sem os shows, José Santana ainda acredita que, quando o político é conhecido e respeitado, a estratégia do comício ainda vale.

Um obstáculo, na avaliação dele, é o curto tempo de campanha. “A campanha era de cinco meses. Hoje engrena mesmo faltando 30 dias. O candidato acaba não tendo condição de ir a todas as cidades”, diz. Os meios de comunicação, por sua vez, são aliados. “Toda cidade tem uma rádio comunitária e um jornalzinho. E a internet é um negócio fantástico”, comenta.

Corrida eleitoral em dois tempos

Como era

» Havia lideranças comunitárias e grupos políticos mais consolidados no interior
» Comícios reuniam milhares de pessoas em praça pública
» Showmícios com a apresentação de artistas passaram a ser, sobretudo na década de 1990, principal forma de atrair a atenção de eleitores
» As campanhas duravam cerca de cinco meses
» Os candidatos tinham uma atuação local e pediam votos em regiões específicas

Como ficou
» O horário eleitoral gratuito na televisão e no rádio se tornou umas das principais formas de os candidatos se apresentarem aos eleitores
» Há contratação expressiva de cabos eleitorais de luxo – prefeitos, vereadores e lideranças recebem para conseguir votos para os candidatos a deputado estadual e federal
» Campanhas mais curtas, em que o foco é de 30 dias
» Maior investimento em material de campanha, como cartazes, bandeiras e santinhos
» As redes sociais se firmaram como canal de comunicação entre candidatos e eleitores
» Candidatos extrapolam territórios dominados por determinados grupos e fazem campanha no estado inteiro


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