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Estado de Minas

Pitaco de famosos sobre políticos causa forte reação no meio artístico

Quando se aventuram em marcar posição política, artistas da música, do cinema e da TV costumam levantar polêmica no seu próprio meio


postado em 18/05/2014 00:12 / atualizado em 18/05/2014 08:28

Artistas provocaram polêmica com opiniões sobre governos e partidos(foto: Divulgação)
Artistas provocaram polêmica com opiniões sobre governos e partidos (foto: Divulgação)

A arte e a política sempre andaram juntas, mas nem todos os artistas gostam de misturar as duas coisas. É que muitas vezes essa combinação pode render discussões acaloradas e muitas críticas, principalmente em tempos de explosão das redes sociais, onde todos dão palpite em tudo. Quem não se lembra da atriz Regina Duarte que, na disputa presidencial de 2002, apareceu no programa do então candidato José Serra (PSDB) declarando ter medo da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Ou das atrizes Claúdia Raia e Marília Pêra,  que pediram votos para a eleição de Fernando Collor de Mello, em 1989, e foram criticadas até mesmo pela classe artística que, nessa disputa, cerrou fileiras para tentar, sem sucesso, eleger Lula. Depois do episódio, considerado traumático, Claudia Raia não dá mais pitaco em política. Mas nem todos se esquivam de dar palpites nesses assuntos.

Que o diga o cantor Ney Matogrosso que, semana passada, em entrevista a uma televisão portuguesa, criticou o PT, a saúde no Brasil e os gastos com a Copa do Mundo e derrapou ao tecer comentários, equivocados, sobre o programa Bolsa Família e seu funcionamento. A fala do ex-Secos & Molhados – banda que no auge da ditadura militar desafiou os chamados bons costumes – provocou a ira dos simpatizantes do governo Dilma Rousseff, que rebateram a fala do cantor de que o programa de complementação de renda não exige a matrícula na escola e que as mulheres fazem mais filhos para ganhar o benefício. O Bolsa Família exige que as crianças estejam matriculadas e estabelece um número máximo de cinco filhos para o complemento do benefício, que hoje é de R$ 70 mensais. Mas se de um lado houve críticas, do outro foram só aplausos e a entrevista do cantor foi reproduzida na internet dando munição para os críticos da realização do Mundial no Brasil. Procurado, o cantor não quis comentar o episódio.

Mas não foi só ele quem esteve na berlinda esta semana. O ator Wagner Moura – que já manifestou simpatia pela Rede e por sua fundadora, a ex-senadora Marina Silva (PSB), mas não pelo partido ao qual ela está filiada – anunciou que estava de malas prontas para deixar o Brasil, alegando estar impossível viver no país. “Tenho o maior amor por esse país, mas não está dando para viver aqui. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas estou gostando que meu próximo projeto vai me tirar do Brasil por uns dois anos", disse o ator, em entrevista no dia 14. Dois dias depois foi rebatido pelo cineasta Jorge Furtado que, em seu blog, lamentou, sem citar Moura, a declaração. “Fico triste ao ver artistas brasileiros, meus colegas, tão mal informados. (...) Dizer que não dá mais para viver no Brasil logo agora, agora que milhões de pessoas conquistaram alguns direitos mínimos”, escreveu o diretor de Meu tio matou um cara.

Embates Mas os artistas campeões de polêmicas envolvendo questões políticas são o ator José de Abreu, defensor ferrenho dos governos Lula e Dilma e o vocalista do Ultraje a Rigor, Roger Moreira, que critica tudo no Brasil. Quem acompanha a militância dos dois no twitter conhece bem a divergência de opiniões e os embates travados entre eles por meio do mini blog. Na semana passada Roger interrompeu um show para criticar a militância digital do PT e o ator. Roger diz não se importar com as polêmicas nem com as reações iradas às duas declarações. “Encaro como meu pai me ensinou a encarar, como homem. Quem não deve não teme. Dá muita raiva por serem ataques baixos, covardes, orquestrados, feitos em turma, como é do feitio dos covardes. São acusações sem fundamento ou lógica mas isso não interessa, essa é a tática porca da esquerda, repetir uma mentira até virar verdade”, disse ao Estado de Minas.
Roger diz que se envolve na política por ser um “idealista”. “Porque realmente gostaria de ver um país melhor para mim, que também faço parte do povo”. O cantor afirma que pouco se importa com quem está no poder e que sua maior preocupação não é o roubo e a corrupção. “É a ameaça já parcialmente instalada de outra ditadura tomar conta do país, ditadura esta muito pior que a anterior por ser uma ditadura de pensamento, sorrateira e traiçoeira, que mantém o povo igualmente miserável e dependente. Acho abominável posar de virtuoso enquanto solapa os reais valores da sociedade e a transforma nesse caos que estamos vendo”. Segundo ele, todos os líderes comunistas, em todos os tempos, são milionários e seu povo vive afundado na mais profunda miséria.

“Ator de teatro, cinema e TV, processado duas vezes por Gilmar Mendes (ministro do Supremo Tribunal Federal) por tuitar”, é assim que José de Abreu se define no Twitter onde milita diariamente. No começo de sua atuação na rede social, ele diz ter ficado incomodado com as agressões por causa de sua postura, mas depois relaxou. “Vi que isso não me atinge. É como me chamar de japonês ou de repolho”. Segundo ele, a melhor tática é desmerecer e ignorar as agressões. “Ela acaba inócua” . O ator conta que sempre se envolveu com política, mas que está afastado desde a eleição do Collor em 1989. “No primeiro turno (da disputa de 1989) apoiei Roberto Freire (na época candidato a presidente pelo PCB), depois entrei de cabeça na campanha do Lula”.

Sua volta à cena política ocorreu depois do episódio do mensalão, em 2005. “Eu resolvi voltar a trabalhar a favor do Lula na época do mensalão. Eu tinha certeza, sabia, que as classes mais reacionárias e tradicionais iam reagir ao governo Lula e, quando surgiu o mensalão, tive certeza da tentativa de um golpe branco. É o que está acontecendo até hoje”. José de Abreu diz ainda ter certeza de que voltou a fazer política no momento certo. Ele garante que não vai sair candidato, como chegou a ser ventilado, mas não poderá fazer campanha oficial, pois estará em uma novela durante a campanha e a legislação veta sua aparição em programas eleitorais.

CONFIRA AS FALAS DE ALGUNS ARTISTAS QUE RENDERAM DISCUSSÃO


» Ney Matogrosso
Cantor, sobre o Bolsa Família


“O presidente Lula resolveu dar uma bolsa-família, que é R$ 70... Eu não sei, R$ 70 dá o que? 30 euros, 35 euros por mês. Para quem passa fome, não resolve, mas vai, compra um arrozinho, compra um feijão, mas você não pode só dar o dinheiro, porque o que acontece, se você tem mais filhos, você tem direito a mais uma porcentagem... então para dar uma coisa dessa você tem que paralelamente, necessariamente, para receber o dinheiro você tem que botar seus filhos na escola, não é isso?”

» Wagner Moura
Ator, sobre o Brasil


“Tenho o maior amor por esse país, mas não está dando para viver aqui. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas estou gostando que meu próximo projeto vai me tirar do Brasil por uns dois anos”

» Jorge Furtado
Cineasta, em resposta a Wagner Moura


“Fico triste ao ler artistas dizendo que não dá mais para viver no Brasil, como se as coisas estivessem piorando, e muito, para a maioria. Dizer que não dá mais para viver no Brasil logo agora, que milhões de pessoas conquistaram alguns direitos mínimos, emprego, casa própria, luz elétrica, acesso às universidades e até, muitas vezes, um prato de comida, não fica bem na boca de um artista, menos ainda de um artista popular, artista que este mesmo povo ama e admira”

» Otto
Cantor pernambucano, sobre os governos Lula e Dilma


“O que eu vejo é uma politicagem, uma sabotagem em cima desse governo, algo que eu sinto desde o primeiro governo de Lula. Eu morava no alto Leblon quando Lula ganhou. Era só eu e mais dois apartamentos gritando e o resto calado”

» Roger Moreira
Vocalista do Ultraje a Rigor, respondendo ao ator José de Abreu, militante pró PT nas redes sociais, que acusou o cantor de atacar o governo, mas receber patrocínio do Ministério da Cultura


“Quem está me pagando é o povo, do qual eu faço parte, através de um órgão do governo que, repito e enfatizo, não pertence a um partido político, ao contrário do que querem acreditar esses canalhas que me perseguem por eu exercer meu direito de pensar e me expressar livremente”

» José de Abreu
Ator, sobre a classe artística


“Sou do tempo onde artistas eram sempre a favor do povo. Hoje, vendo artistas contra o povo, me recuso a ser artista como eles. Sou diferente”

» Regina Duarte
Atriz, em depoimento a favor do então candidato José Serra, na disputa de 2002


“Estou com medo. O Brasil corre o risco de perder a estabilidade. Não dá para jogar tudo na lata do lixo. O Serra eu conheço, sei o que vai fazer. O outro (Lula) eu achava que conhecia. Isso dá medo na gente. Medo da inflação desenfreada de 80% ao mês”

» Lobão
Cantor, sobre a ditadura e as indenizações aos torturados


“Há um excesso de vitimização na cultura brasileira. Essa tendência esquerdista vem da época da ditadura. Hoje, dão indenização a quem sequestrou embaixadores e crucificam os torturadores, que arrancaram umas unhazinhas”.


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