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Estado de Minas

Réu confessa participação na chacina de Unaí

Durante as investigações, Erinaldo já havia assumidos as mortes, mas alegou que foi um latrocínio - roubo seguido de morte


postado em 29/08/2013 19:13 / atualizado em 29/08/2013 22:22

Um dos acusados de executar três auditores fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) confessou em depoimento nesta quinta-feira sua participação nos assassinatos. O motorista Erinaldo de Vasconcelos Silva, de 49 anos, foi o primeiro dos três réus que são julgados desde terça-feira pelo crime, conhecido como Chacina de Unaí. Em seu depoimento, Silva ainda contou que o fazendeiro Norberto Mânica, um dos maiores produtores de feijão do País e acusado de ser um dos mandantes das mortes, o procurou após a chacina para que matasse também "um pessoal no Paraná".

Norberto já foi apontado como mandante dos assassinatos dos fiscais por Hugo Alves Pimenta, outro acusado de envolvimento no crime que ainda será julgado em setembro - assim como o produtor rural e José Alberto de Castro - e prestou depoimento como informante na quarta-feira, 28. Irmão de Norberto, o fazendeiro e ex-prefeito de Unaí Antério Mânica também é acusado de ser mandante dos assassinatos, mas ainda não há data marcada para seu julgamento. "Já havia visto Norberto com José Alberto. Eles foram procurar eu e Chico (Francisco Helder Pinheiro, também acusado e morto em janeiro passado) para matar um pessoal no Paraná. Não aceitei e ele foi embora. Só quando fui preso soube quem era", declarou.

Os auditores Nelson José da Silva, Eratóstenes de Almeida Gonçalves e João Batista Soares Lage e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram mortos em 28 de janeiro de 2004, em uma estrada de terra na zona rural de Unaí, no noroeste de Minas, durante fiscalização de trabalho escravo em fazendas da região. Além de Erinaldo, também são julgados por um júri popular desde o início da semana Rogério Alan Rocha Rios e William Gomes de Miranda.

Segundo Erinaldo, Alan participou diretamente das execuções, enquanto Miranda tinha a função de pegar a dupla para fugir após as execuções. Erinaldo disse que convidou a dupla para participar do crime após receber a proposta de Francisco Pinheiro. "Chico disse que havia uma pessoa "dando trabalho" e queria que matasse. Eles sabiam", disse o réu, ao ser questionado se William e Alan tinha conhecimento de que o convite era para cometer assassinatos, pelos quais, de acordo com o motorista, receberam cerca de R$ 50 mil.

Contou também que o alvo era Nelson, mas, como o fiscal trabalhava acompanhado dos colegas, foi orientado por Chico Pinheiro a matar todos. "Se você não encontrar ele sozinho, mata todo mundo", teria dito o agenciador. "A gente ficou com medo. Nunca tinha feito isso. Matar uma pessoa e encontrar um monte de gente no carro", disse, em meio a um princípio de choro, único momento do depoimento em abandonou a frieza com que fez todo o relato.

Durante as investigações, Erinaldo já havia assumidos as mortes, mas alegou que foi um latrocínio - roubo seguido de morte. Nesta quinta, porém, afirmou que fez a confissão por ter recebido proposta de Norberto para "assumir sozinho" o crime. "Recebi uma proposta dentro da cadeia, do Norberto. A gente ficava no mesmo pavilhão (da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte). Falou para eu assumir sozinho. Em primeiro momento, me daria R$ 100 mil para eu assumir o crime em juízo. Quando chegou aqui (na Justiça Federal) ele aumentou. O valor de um caminhão com três anos de uso", disse, avaliando em cerca de R$ 300 mil a proposta.

Alan Rocha também confessou em depoimento à Polícia Federal sua participação nos assassinatos, mas seu advogado, Sérgio Moutinho, afirmou que ele foi "coagido" e negaria o crime em depoimento. Até o meio da noite desta quinta Erinaldo era ouvido e a oitiva de Alan não havia iniciado. A magistrada também não havia se pronunciado sobre o pedido de delação premiada. "A chance desses três se livrarem é zero. E o que estamos fazendo aqui (júri) também faz parte da construção do julgamento dos outros acusados", observou o procurador da República Vladimir Aras.


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