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Estado de Minas

Arquivo do Dops paulista guarda relatos sobre políticos e ativistas mineiros

Rede de informações entre os órgãos estaduais de repressão na ditadura se estendia por vários estados


postado em 07/04/2013 00:12 / atualizado em 07/04/2013 08:57

Uma visita do governador Tancredo Neves a Mococa, na divisa de São Paulo e Minas; o encontro da militante Dilma Rousseff com “elementos comunistas paulistas”; críticas à pena considerada branda aplicada ao “terrorista” Marcio Lacerda, integrante do grupo revolucionário Corrente; a ação de um grupo de “subversivos mineiros” panfletando em portas de fábricas. Esses são alguns dos muitos relatos envolvendo mineiros registrados pelo Departamento de Ordem e Política Social de São Paulo (Dops-SP). Os fichados de Minas eram conhecidos em detalhes pela inteligência militar paulista, que buscava mapear passo a passo os moradores do estado vizinho que eram considerados uma ameaça ao regime. Nada escapava da vigilância implacável do regime militar.

Levantamento feito pelo Estado de Minas no acervo do Dops-SP, uma das principais centrais da repressão entre 1964 e 1985, mostra que um volume grande do material armazenado pelo órgão de repressão paulista diz respeito às movimentações que se passavam em Minas e relações de mineiros no estado. Entre as fichas e prontuários digitalizados na semana passada e que já estão disponíveis na internet, foram encontrados documentos de centenas de mineiros, desde políticos influentes da época, como o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o governador Tancredo Neves, até escritores, estudantes e operários que se encontravam clandestinamente na luta contra a ditadura.

Segundo o coordenador do Grupo de Estudos sobre a Ditadura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Fico, a troca de informações entre órgãos estaduais que acompanhavam a movimentação de militantes políticos do período era uma forma de o regime alicerçar acusações contra os ditos “terroristas” que eram levadas à Justiça. “Além do conhecimento sobre os passos dessas pessoas, acumulando informações em dossiês sobre as trajetórias e ações daqueles citados como subversivos era possível usá-las para incriminar ou cassar direitos políticos juridicamente. Uma forma de justificar a perda de direitos e demonstrar o controle sobre as pessoas”, avalia o historiador.

O fato de receber arquivos de vários estados torna o Dops paulista um dos centros fundamentais para as pesquisas sobre o funcionamento interno do governo militar. Assim como nas relações já conhecidas entre os órgãos de controle nos países da América do Sul, na Operação Condor, dentro do Brasil os mapeamentos das atividades de resistência também eram uma forma de coerção implacável para intimidar os contrários à ditadura.

“Boa parte dos arquivos dos Dops de todo o país foi reunida nesse acervo e muita coisa é inédita, podendo trazer mais detalhes sobre a atuação militar e as estruturas do regime como um todo, inclusive as pessoas que participaram das ações” avalia Fico. Ainda segundo o historiador fluminense, os dados de Minas ainda não foram detalhados, mas já se sabe de algumas lideranças que tiveram um acompanhamento intensivo, como é o caso do ex-presidente Tancredo Neves. “Ele foi bastante acompanhado, sobretudo na fase final do regime, a partir de 1974, quando sua participação política se tornou mais destacada”, afirma.


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