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Estado de Minas

Documentário mostra bastidores de operação secreta da ditadura militar

Vai ao ar hoje o documentário Rede Condor, que desvenda aliança político-militar entre os regimes ditatoriais dos países sul-americanos com o objetivo de reprimir seus opositores


postado em 24/03/2013 06:00 / atualizado em 24/03/2013 07:49

Leonardo Augusto

 

O então presidente da Republica Emílio Garrastazu Médici e o futuro, Ernesto Geisel: papel do Brasil na montagem da operação foi comprovado (foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas - 05/07/1973 )
O então presidente da Republica Emílio Garrastazu Médici e o futuro, Ernesto Geisel: papel do Brasil na montagem da operação foi comprovado (foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas - 05/07/1973 )

 A ditadura militar brasileira é a dona do embrião da Operação Condor, aliança entre os Estados Unidos e países da América Latina na década de 1970 para perseguição a opositores dos regimes autoritários e militares sul-americanos. A estrutura montada pelo Itamaraty em 1964, ano do golpe militar, para rastreamento de rebeldes fora do Brasil, que ficou conhecida como Centro de Informações no Exterior (Ciex), foi usada na operação para o que era chamado de “combate aos terroristas”, como mostra o documentário Rede Condor, do Discovery, que vai ao ar hoje às 21h30.

 Militares de seis países assinaram documento que estabelecia o acordo para a busca conjunta de quem era contrário aos regimes: Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Chile, onde a aliança for firmada oficialmente em 1975. Representantes do governo brasileiro também participaram do encontro em que o termo foi assinado, mas o país não aparece como signatário.

 O Ciex, que teve o primeiro braço implantado no Uruguai, se espalhou por todos os outros países da América do Sul e também nações europeias, como Portugal, Itália e França, principais destinos dos exilados políticos brasileiros. A rede era constituída por informantes e contava, para a época, com um complexo sistema de telefonia e telex que possibilitava a prisão de opositores do regime em horas.

 

“Não havia dúvidas quanto à participação do Brasil na Operação Condor, mas somente agora ficou comprovado que o país teve papel protagonista na montagem da operação”, afirma o diretor-geral do documentário, Rodrigo Astiz, da produtora brasileira Mixer, parceira da Discovery. “As informações são baseadas em entrevistas e documentos que mostram como funcionava a comunicação entre os países”, diz a supervisora de produção Irune Ariztoy.

 À época em que a operação foi colocada em andamento, a ditadura militar no Brasil começava a arrefecer. No entanto, em outros países, sobretudo no Chile e na Argentina, a repressão ainda era forte. “O país tinha o know-how que acabou sendo repassado às nações vizinhas”, afirma o diretor do documentário, Daniel Bíllio. A produção, porém, não avança em relação às suspeitas de que os ex-presidentes da República João Goulart e Juscelino Kubitschek também tenham sido vítimas da Operação Condor. Ambos morreram em 1976.

 A principal dificuldade apontada pelos diretores para a realização do documentário foi o fato de militares brasileiros e de outros países da América Latina procurados para entrevistas terem se negado a participar da produção. A Rede Condor vai mostrar dramatizações de capturas e assassinatos de opositores dos regimes militares. Todas as filmagens foram feitas em São Paulo. Para as entrevistas, jornalistas foram enviados ao Uruguai, Paraguai, Argentina, Chile e Estados Unidos.

 Habilidade na caça às presas

 A Operação Condor teria sido responsável pelo assassinato de aproximadamente 50 mil pessoas e pelo desaparecimento de  30 mil. A ave andina que dá nome ao sistema organizado por Brasil, Chile, Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai é conhecida pela habilidade na caça às presas. O condor é ainda o animal símbolo do Chile, onde o acordo para o início da operação foi fechado.

 Na avaliação do ex-secretário nacional de Direitos Humanos e deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG), novas informações sobre a Operação Condor são mais um motivo para revisão da Lei da Anistia, que retirou a possibilidade de condenação de todos os brasileiros que tenham cometido crimes políticos entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979. “É algo natural. As pessoas veem o que aconteceu e se perguntam: e a Justiça, como fica diante disso?”, diz o parlamentar.

 Na segunda-feira passada, a Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada pelo Congresso Nacional para apurar violações aos direitos humanos, se reuniu no Rio Grande do Sul e recebeu da família de João Goulart, nascido no estado, pedido para que o corpo do ex-presidente seja exumado. O objetivo é tentar encontrar provas de que Jango, como ele era conhecido, teria sido envenenado a pedido de militares dentro da Operação Condor. João Goulart foi encontrado morto, supostamente de ataque cardíaco, em Mercedes, na Argentina.


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