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Estado de Minas

Dilma pede fim dos depoimentos difíceis

Presidente comenta reportagens do EM sobre a tortura a que foi submetida durante a ditadura e afirma que todos têm o compromisso de não deixar jamais isso acontecer


postado em 23/06/2012 06:00 / atualizado em 23/06/2012 07:11

"Vingar, ou se magoar, ou odiar é ficar dependente de quem você quer vingar, magoar ou odiar. Isso não é um bom sentimento para ninguém" - Presidente comenta reportagens do EM sobre a tortura a que foi submetida durante a ditadura e afirma que todos têm o compromisso de não deixar jamais isso acontecer (foto: Evaristo Sá/AFP)


Rio de Janeiro – Ao comentar a reportagem do Estado de Minas sobre a tortura que sofreu em Juiz de Fora (MG) no período da ditadura militar, a presidente Dilma Rousseff aproveitou para pregar o fim da tortura policial ainda existente no Brasil: “Venho dando depoimentos ao longo da minha vida. Alguns te asseguro muito difíceis. E este país evoluiu muito. E tem que evoluir mais, porque os depoimentos difíceis têm que ser eliminados em todas as esferas, inclusive na atividade da polícia, em geral”, disse a presidente.

A defesa abriu uma longa declaração de Dilma sobre a tortura e o depoimento ao Conselho de Defesa dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG), publicado no domingo com exclusividade pelo EM. Ao falar desse assunto, a maneira incisiva com que ela se pronuncia sobre vários temas dá lugar à emoção e a um tom mais pessoal: “Eu acredito, vou te dizer assim com sinceridade: eu entendo o interesse de vocês, sou presidente e, afinal de contas, vocês quererem saber o que aconteceu comigo. É um interesse legítimo. Agora, em geral, posso lhes dizer o seguinte: algumas das figuras que me torturaram não tinham nomes verdadeiros. Há, vamos dizer, elocubrações”, disse a presidente.

Nesse momento, ela passa a falar o que quer ver como foco ao longo do período em que o país conviverá com a Comissão da Verdade. “A questão não é o torturador. É a tortura. O torturador é um agente, mesmo ele tendo a sua responsabilidade reconhecida depois do que aconteceu no julgamento dos que estiveram em Nuremberg”, disse Dilma referindo-se ao tribunal que condenou nazistas depois da Segunda Guerra Mundial. Lá foi aprovado que, mesmo cumprindo ordens, o torturador é responsável.

Dilma disse, porém, não achar que o torturador seja o problema. “O problema é em que condições a tortura é estabelecida e operada. E isso todos sabemos em que condições foi. Ninguém aqui desconhece o que aconteceu neste país num determinado período de sua história. E todos nós, eu tenho certeza, que estamos aqui nesta sala, temos o compromisso de não deixar jamais isso acontecer”, afirmou.

Foi o momento mais pessoal da entrevista, em que o estereótipo da Dilma durona se esvai. “E eu te digo: com o passar dos anos, uma das melhores coisas que me aconteceram foi não me fixar nas pessoas (nos torturadores), nem ter por elas qualquer sentimento. Como eu disse no meu discurso, nem ódio, nem vingança, nem tampouco perdão. Não há sentimento que se justifique contra esse tipo de ato. Há a frieza da razão. E a frieza da razão é não esquecer e, por isso, nós criamos a Comissão da Verdade”, comentou. “Se vingar, ou se magoar, ou odiar é ficar dependente de quem você quer vingar, magoar ou odiar. Isso não é um bom sentimento para ninguém”, reforçou a presidente.

Nesse momento, entretanto, ela recupera mais a formalidade e se refere à Comissão da Verdade como o fórum que tem como missão “virar a página deste país”. E, assim, inspirada na Grécia, tão em voga por conta da crise econômica, ela concluiu: “Na Grécia, vivemos na época da Grécia, se não me engano, aletheia, verdade, é o contrário de lethe, esquecimento. A verdade é esta: não se esquece, mas não se esquece do ponto de vista histórico e não do ponto de vista individual”.

Entenda o caso

O Estado de Minas iniciou domingo uma série de reportagens em que revela com exclusividade documentos, até então inéditos, que comprovam que a presidente Dilma Rousseff foi torturada nos porões da ditadura em Juiz de Fora (MG) e não apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, como se pensava. Os documentos reproduzem o depoimento pessoal de Dilma dado em outubro de 2001, no qual ela relata com detalhes todo o sofrimento vivido em Minas como militante política de codinome Estela. A série de reportagens, que teve repercussão na imprensa internacional, levou a Comissão da Verdade a mobilizar um grupo de historiadores de Minas para analisar o testemunho.

 

 


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