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Estado de Minas

Inquérito comprova que Cachoeira despachava com colaboradores nas sedes da Delta


postado em 22/04/2012 07:15

Análise de 4 mil páginas do inquérito da Polícia Federal sobre as atividades do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso desde fevereiro, comprova que ele transformou as sedes da empreiteira Delta Construções, em Goiânia e Brasília, em seu gabinete de despacho com os colaboradores da sua organização criminosa. Diálogos de ligações telefônicas e encontros entre integrantes do grupo acompanhado pelos federais enterram de vez a insistente negativa da Delta da existência de ligações umbilicais entre a empreiteira e o capo da jogatina no Brasil.

Além disso, alguns dos integrantes da grupo usaram para operacionalizar suas negociatas veículos arrendados em nome da Delta, conforme registros do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). E não fica só nisso: a planilha de movimentação financeira elaborada pelo delegado federal Deuselino Valadares, sócio oculto da empresa Ideal Segurança com o contraventor, revela intensa movimentação de valores do grupo de Cachoeira para a Delta Engenharia.

Em relatório, a Procuradoria da República em Goiás destrincha a estreita ligação de Cachoeira com a empreiteira, que tem sua parte mais visível na sua proximidade com o diretor Cláudio Abreu, que ocupou o cargo para as regiões do Distrito Federal e Centro-Oeste, até 8 de março, quando foi destituído. Além dele, é citado um funcionário identificado apenas como Pacheco. Registro na Junta Comercial indica Carlos Alberto Duque Pacheco como sócio da Delta e atualmente seu vice-presidente. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), “a citada existência de poder decisório e de influência de Carlos Cachoeira nas decisões da Delta é vista em diversos diálogos”. Entre eles, a procuradoria destaca o que aconteceu em 29 de março do ano passado, às 19h41min07, entre Cachoeira e Cláudio Abreu. Nele, o contraventor dá instruções ao então diretor Abreu, de como deveriam ser conduzidas as negociações para formalizar uma parceria com a incorporadora DataKraft.

DESPACHO


Quase três meses depois, em um novo diálogo entre Cláudio e o contraventor sobre uma operação de fechamento de uma casa de bingo, surgiu o nome do Pacheco, demonstrando a extensão dos contatos de Cachoeira na empreiteira. Cláudio, depois de tranquilizá-lo sobre a inexistência de ação policial, disse que Pacheco gostaria de falar com ele. O diálogo aconteceu em 14 de junho do ano passado, às 6h39. No entanto, ainda em março, outros telefonemas do contraventor demonstram ainda proximidade física dele com a empreiteira. Entre os dias 20 e 28 daquele mês, conversas entre Cachoceira e Gleyb Cruz, um dos operadores dos recursos ilícitos da organização, mostram que a sede da empreiteira era o local preferido para despachos do capo do jogo. No dia 20, Cachoeira pediu que Gleyb marcasse encontro com um homem identificado apenas como Neguinho, supostamente o delegado Deuselino Valadares, na construtura em Goiânia. E diz: “Pode marcar na Delta”. No dia seguinte, eles voltaram a conversar e Gleyb demonstrou ter feito o dever de casa: “Ô, ele chega nove e meia amanhã, eu falei para ele que na hora que chegar ir direto lá na Delta”.

Com naturalidade, Cachoeira voltou a agendar encontros na Delta. Dessa vez, com o delegado Hylo Marques Pereira, titular do 1º Distrito Policial de Águas Lindas de Goiás, que, segundo o MPF, foi cooptado pela organização criminosa, especializada na jogatina. Em 30 de maio, por volta das 11h, o policial ligou para o contraventor pedindo um encontro. Cachoeira, mais uma vez, escolheu a sede da empreiteira para isso: “Lá naquele local, às duas horas, na Delta”.

Na sede, foi recebido também o delegado federal Fernando Byron, outro colaborar do grupo, segundo o MPF, conforme outros diálogos gravados. Além dessas evidências, os federais conseguiram provas documentais dessa relação entre o contraventor e a construtora. Uma equipe de policiais acompanhou um encontro dos colaboradores de Cachoeira e constatou que o veículo Pálio placa NKT-0458 é arrendado pela Delta.

ENCONTRO

De acordo com o inquérito da Polícia Federal, em 10 de agosto, Lenine Araújo de Souza – apontado como gerente financeiro e segundo homem na hierarquia da organização criminosa do contraventor – se encontrou com seu sócio em lojas de caça-níqueis, William Vitorino, em Luziânia. Eles usavam um Astra e pretendiam se encontrar com o delegado da Polícia Civil Niteu Chaves Júnior, segundo a PF, “na data de possível entrega de valores”, ou seja, pagamento de propina a colaboradores. No local combinado, Niteu surgiu conduzindo o Palio. Registros do Denatran revelaram aos federais que o carro estava vinculado ao Santander Leasing S.A., sendo o arrendatário a Delta Construções S.A., com CNPJ 10.788.628/0017- 14. Coincidência ou não, no mesmo dia a contabilidade de Lenine registrou um pagamento no valor de R$ 1 mil, na conta Assistência Social, Seção Val Paraíso, associado ao código N, inicial do nome do policial civil.

As conversas - Diálogos entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e Gleyb Cruz, um dos operadores dos recursos ilícitos da organização


Data: 20/3/11
Hora: 21h39min27
Carlinhos: O NEGUINHO chegou?
Gleyb: Dá uma ligada nele aqui, calma aí.
Carlinhos: Marca amanhã cedo, só pra mim (sic) passar uma informação pra ele. Marca, pode marcar. na DELTA ou na STRAVAGANZA.
Gleyb: Ali tá, calma aí, deixa eu ligar nele (sic) e já te ligo aí.
Carlinhos: Chama ele (sic) pra tomar café na STRAVAGANZA oito e meia.
Gleyb: Tá.

Data: 21/3/11
Hora: 21h40min43
Gleyb: Ô, ele chega nove e meia amanhã, eu falei para ele que na hora que chegar ir direto lá na DELTA.
Carlinhos: Ali tá bom. Um abraço.
Gleyb: Outro, tchau.

Data: 8/4/11
Hora: 11h33min15
Carlinhos: Onde é que você tá?
Gleyb: Na DELTA.
Carlinhos: Cadê o NEGUINHO. Tá aí?
Gleyb: Já.
Carlinhos: Tô chegando aí.
Gleyb: Falou, tchau.

Data: 12/4/11
Hora: 09h20min43
Gleyb: Ôpa!
Carlinhos: 6h! Negão, cadê o rapaz, eu preciso olhar com ele urgente. Pede pra ele dar um pulinho na DELTA correndo.
Gleyb: Neguinho, né?
Carlinhos: É.
Gleyb: Tá, calma aí.

Data: 26/4/11
Hora 13h56min16
Carlinhos: Você vem pra Goiânia?
Gleyb: Ainda num (sic) fui não, vou.
Carlinhos: Marca com NEGUINHO pra ir lá pra DELTA, agora. Vê se ele pode ir.
Gleyb: Ele tinha me marcado (sic) se precisasse de qualquer coisa cinco horas. Vou ver se ele pode... ele lava dentro do trem lá.

Diálogo entre Carlos Cachoeira e o delegado da Polícia Civil de Goiás Hylo Marques Pereira

Data: 30/5/11
Hora: 11h29min49
Hylo: Quando é que nós podemos ver?
Carlinhos: Ou!
Hylo: Tô aqui no fórum.
Carlinhos: Uai, então vamos encontrar. Vamos fazer o seguinte: meio é... Vamos encontrar uma e meia...
Hylo: Uma e meia? Onde?
Carlinhos: Lá naquele local, às duas horas, na DELTA.
Hylo: Pode ser. Beleza, de boa.
Carlinhos: Duas horas...
Hylo: Não, uma e meia, sabe por quê? Duas e meia o Antônio Carlos quer falar comigo na secretaria. Já deve ser essa porra! Mas tudo bem. Já vou com o resultado. Um abraço. Tchau.
Carlinhos: Uma e meia...


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