O término da greve na Bahia e o enfraquecimento do movimento no Rio de Janeiro não significam um descanso para o governo federal. A presidente Dilma Rousseff e governadores de estados afetados continuam trabalhando para manter o pulso firme com a categoria. O tema fará parte amanhã da primeira reunião do Conselho Político deste ano. Mesmo com o fim da paralisação na Bahia, o governador Jaques Wagner pediu que o Exército fique no estado até o fim do carnaval. “Esse pedido não vai mudar, mesmo que todo o efetivo da PM esteja de prontidão nos quatro dias de folia”, disse ao Correio o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA).
A preocupação do Planalto é ainda maior porque há uma suspeita de que, por trás dos movimentos de reivindicação salarial de bombeiros e policiais militares, exista um componente político explosivo de oposição ao governo federal. Até o momento, todos os estados que sofreram com os movimentos grevistas são governados por partidos que compõem a base aliada de Dilma Rousseff: Rondônia (PMDB), Piauí (PSB), Ceará (PSB), Maranhão (PMDB), Bahia (PT) e Rio de Janeiro (PMDB).
As suspeitas foram confirmadas após a informação de que o principal líder grevista baiano, o ex-bombeiro Marco Prisco, é filiado ao PSDB da Bahia. Segundo fontes baianas, Prisco, que está preso desde o último dia 9, quando a Assembleia Legislativa baiana foi desocupada, é um possível candidato a vereador nas eleições de outubro. Além disso, os grevistas são insuflados pelo PSTU e pelo PSol, partidos mais à esquerda que ocuparam um espaço de protesto abandonado pelo PT desde que a legenda conquistou o governo federal, em 2003.
Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da seccional da Bahia, Saul Quadros, a estratégia dos grevistas de concentrar as paralisações em estados administrados por aliados da presidente Dilma também serve para pressionar o Congresso Nacional a votar em segundo turno a PEC 300, que cria um piso nacional unificado para policiais militares e bombeiros. “Eles optaram por expor a população baiana em vez de fazer um protesto na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Sabem que é o governo federal que está vetando a aprovação da PEC no parlamento”, disse o presidente da OAB baiana.
Coordenador do Núcleo de Segurança Pública da Fundação Universa, George Felipe de Lima Dantas lembra que os partidos de esquerda demoram a se acostumar com a troca de papel de “pedra para telhado”. Segundo ele, há um estoque de reivindicações represadas ao longo dos anos e a chegada das legendas “dita progressistas” ao poder cria um clima otimista. “Quando frustrada, a alta expectativa de ter os pedidos atendidos acaba provocando uma insatisfação política em alguns setores da sociedade.”
Divisor de águas
O desenrolar da greve na Bahia, contudo, pode ser considerado um divisor de águas, na avaliação do Planalto, apesar de haver indicativos de paralisação em alguns estados. A tendência, conforme avaliação de fontes do palácio, é de que não haverá crescimento nas manifestações e isso ficou patente no Rio de Janeiro, onde a assembleia das associações da categoria reuniu pouco mais de 1,5 mil pessoas na semana passada. No dia seguinte à declaração de greve da PM e da Polícia Civil fluminense, a maioria da tropa estava nas ruas garantindo a segurança da população. “Na Bahia, foi fincada uma trincheira para dizer ‘daqui não se passa’”, afirma uma fonte do governo, referindo-se ao grande aparato militar enviado de imediato a Salvador. “As ações ocorridas na Bahia foram um processo que evitou um efeito cascata de greves pelo país”, observa.
Tratamentos distintos
Existe uma diferença básica nas greves da Bahia e do Ceará. Na crise baiana, o governo federal agiu prontamente. Além de enviar representantes do Exército e da Força Nacional, o ministro da Justiça foi pessoalmente ao estado acompanhar o desfecho da paralisação. No Ceará, governado pelo aliado Cid Gomes, a ação de Cardozo foi mais discreta. O ministro nem sequer foi ao estado.