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Estado de Minas

História política de Minas é recheada de insatisfação com o governo federal

Resistência antes que tardia - insatisfação desembocou revoltas e marcou as atuações de mineiros no cenário nacional


postado em 08/01/2012 07:29 / atualizado em 08/01/2012 07:32

1929 Rompimento da política café com leite (foto: Geraldo Vieira/Divulgação )
1929 Rompimento da política café com leite (foto: Geraldo Vieira/Divulgação )

A longa espera pelos recursos que permitiriam tirar do papel as principais obras de infraestrutura vai na contramão de uma famosa tradição de resistência atribuída a Minas Gerais. Desde o final do século 17, com o início do povoamento na região, até a presença constante das lideranças políticas do estado nas decisões pós-ditadura militar, já no final do século XX, os episódios de resistência e reivindicações marcaram as atuações de representantes mineiros no cenário político nacional. Seja por meio de mobilizações contrárias ao modelo tributário determinado pela Coroa seja na insatisfação com a administração federal, a voz de Minas se fez ouvir em todos os períodos históricos do Brasil.

Para o professor Antônio de Paiva Moura, especialista em história da cultura mineira, a população do estado passou a desenvolver características próprias ao longo dos anos, baseadas principalmente nas reivindicações e insatisfações com situações impostas por autoridades de fora. “Em alguns casos de forma silenciosa, em outros de forma ruidosa, as contestações sempre estiveram presentes. Já no levante de Filipe dos Santos, no auge do ciclo do ouro na Vila Rica de 1720, o controle excessivo da Coroa foi questionado”, lembra Moura. O grupo liderado pelo tropeiro reivindicava o fechamento das casas de fundição, vistas como principal meio de controle do ouro produzido na região. As tropas portuguesas reprimiram o movimento, prenderam participantes e Filipe dos Santos foi condenado à morte e ao esquartejamento.

Apesar da dura repressão, a insatisfação continuou e, sete décadas depois, outro grupo – este composto de intelectuais, religiosos, militares e fazendeiros – passou a se organizar para formar um movimento contra a exploração excessiva da Coroa Portuguesa. Os integrantes da elite de Vila Rica – atual Ouro Preto – pretendiam se revoltar contra a cobrança da derrama, uma operação fiscal determinada pela metrópole para confiscar bens de todos aqueles que deviam impostos à Coroa. “A Inconfidência Mineira foi uma tentativa de dizer não à exploração e mudar o cenário de falta de liberdade dos colonos para questionar o sistema de cobranças”, explica o historiador.

Segundo o sociólogo e cientista político Otávio Dulci, especialista em políticas de desenvolvimento regional, a partir da decadência do ciclo do ouro a população passou a se dispersar no território mineiro, o que afetou diretamente a tendência à contestação. “O ambiente social e político se mostrou profundamente conservador no regime monárquico e também no republicano. O esquema das oligarquias e o coronelismo fortaleceram a influência de Minas no âmbito nacional, já que a atuação acontecia de maneira coesa para promover os interesses do estado”, explica Dulci.

Pacto rompido As primeiras décadas da experiência republicana no Brasil também contaram com a participação efetiva de Minas Gerais. A política café com leite – apelido que se refere às economias produtoras de São Paulo e Minas – começou em 1898 e se expressou num acordo que previa o revezamento das oligarquias estaduais para a indicação de políticos à Presidência. Em 1929, um grupo da liderança paulista passou a exigir maior participação no governo federal e quebrou o acordo de alternância de poder, nomeando o interventor paulista Júlio Prestes para o principal cargo do país.

O desagrado das elites mineiras, que esperavam a indicação de Antônio Carlos de Andrade e Silva, foi tanto que o grupo formou uma nova aliança, dessa vez com o Rio Grande do Sul e a Paraíba. Getúlio Vargas foi o escolhido pelo grupo e assumiu o poder por meio da Revolução de 1930, mesmo derrotado nas eleições presidenciais. “Minas Gerais tinha o que mais gerava riqueza para qualquer nação: agricultura e pecuária fortes e uma fonte muito rica que vinha da mineração. Atividades que acompanharam a busca pelo ouro nos séculos anteriores, ou seja, tudo que é preciso para o desenvolvimento econômico e social”, analisa Antônio de Paiva Moura.

LINHA DO TEMPO
1720 Revolta de Filipe dos Santos
A insatisfação com as regras determinadas pela Coroa para tributar o ouro extraído na colônia levou um grupo a se revoltar com a situação. Liderados por Filipe dos Santos, cerca de 2 mil mineiros brigaram pela redução dos impostos, mas o movimento foi reprimido por tropas portuguesas

1789 Inconfidência Mineira / Vila Rica
O movimento tramado por um grupo de mineiros que convocaria toda a população de Vila Rica às ruas, contra a Coroa, acabou fracassando. Seus participantes foram expulsos do país e Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, se tornou o mártir da Inconfidência, condenado à forca e esquartejamento

1929 Rompimento da política café com leite
A insatisfação das oligarquias mineiras com a nomeação do paulista Júlio Prestes, no lugar do político mineiro Antonio Carlos de Andrade e Silva, teve peso decisivo no rompimento do acordo que vigorou no Brasil por 30 anos
(Geraldo Vieira/Divulgação)

1960 Inauguração de Brasília
A nova capital federal foi inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo presidente Juscelino Kubitschek. A intenção de levar o desenvolvimento para a região central do país já havia sido discutida em governos anteriores – até dom Pedro I avaliou a ideia –, mas somente com o presidente mineiro ela ganhou força e se tornou realidade

1985 Tancredo Neves é eleito Presidente da República
Candidato da Aliança Democrática, o político mineiro venceu a votação do colégio eleitoral. Na véspera de tomar posse, em 14 de março de 1985, ele foi internado em estado grave no hospital e o vice-presidente José Sarney acabou assumindo o cargo. O mineiro morreu em 21 de abril


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