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Estado de Minas

Projetos de lei absurdos entram na pauta das câmaras por todo o país

Vale proibir morrer e até conseguir um caminhão de lixo cheiroso


postado em 20/11/2011 08:24

Se essa cidade fosse minha, as pessoas seriam proibidas de morrer, os cachorros não latiriam depois das 22h e não teriam nome de gente, os cavalos seriam atendidos em postos de saúde, o lixo seria cheiroso, os mendigos não beberiam cachaça e todos os restaurantes venderiam refrigerante de 1 litro. Parece que defender os interesses da população e promover melhorias nos serviços públicos nem sempre são prioridade dos vereadores brasileiros que lotam as Câmaras Municipais com propostas inviáveis como essas que tramitaram ou estão tramitando nos legislativos.

Depois de mostrar a produção dos parlamentares de Belo Horizonte, o Estado de Minas pesquisou o que vereadores de outras cidades estão propondo pelo país afora. Não foi difícil encontrar projetos tão ou mais absurdos do que os dos da capital mineira. E não precisa ir muito longe. Em São João del-Rei, no Campo das Vertentes, a vereadora Silvia Fernandes defendeu o extermínio de animais abandonados por mais de 48 horas nas ruas. A proposta, que teve de ser modificada, gerou revolta nos moradores que chegaram a fazer passeata contra a ideia. Durante reunião filmada no Legislativo, ela justificou que a lei evitaria acidentes. Silva Fernandes não retornou às ligações da reportagem.

Donos de bichos de estimação também se uniram contra o projeto que tramitou na Câmara de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que propunha a lei do silêncio para animais. O dono do cachorro que latisse depois das 22h acabaria multado. A pressão foi tão grande que o projeto acabou sendo arquivado. Outros animais incomodaram os vereadores de Porto Alegre não pelo barulho, mas pela sujeira. A Câmara Municipal aprovou o projeto de lei que obriga os cavalos a usarem fraldas. Quem desrespeitar a regra terá de pagar R$ 246. De autoria do vereador Adeli Sell (PT), a lei não inclui, no entanto, o uso de bolsas coletoras de fezes em animais que participam de eventos ou cavalgadas. “O projeto foi vetado e é uma pena porque a cidade continua imunda”, disse o parlamentar.

Lotação esgotada

Mas não só os animais ocuparam espaço na imaginação dos vereadores. Em Paraíso, no interior de São Paulo, as pessoas não poderiam mais morrer, caso o projeto do então vereador Luiz Carlos Rosa (PPS) fosse aprovado. Em protesto contra a lotação do cemitério, ele proibiu o óbito na cidade. “As sepulturas estão sendo emprestadas para caber o número de mortos e se nada for feito as pessoas terão de ser enterradas nas cidades vizinhas”, contou. O projeto, apresentado em abril, de tão inusitado, foi ignorado pelos colegas do Legislativo e o próprio vereador o retirou.

Um parlamentar de Juiz de Fora não proibiu os moradores de morrer, mas, para tentar evitar doenças cardíacas, ele propôs, no ano passado, que todos os bares e restaurantes apresentassem em seus cardápios, além da quantidade de calorias e glúten de todos os alimentos, a necessidade calórica diária por faixa etária. Informação que nem os enlatados têm. O estabelecimento que descumprisse a lei estaria sujeito a multa de R$ 1 mil a R$ 5 mil. Em Capelinha, Vale do Jequitinhonha, um vereador quer proibir os estabelecimentos de vender bebida alcoólica a mendigos e pessoas com deficiência mental.

Já teve parlamentar, em Sobral, no interior do Ceará, que quis até copiar o World Trade Center de Nova York. O prédio abrigaria a sede da prefeitura e as secretarias do município. O caso repercutiu na imprensa nacional e o parlamentar, que também foi autor de um projeto de lei para construir um muro das lamentações, retirou a proposta de pauta. Em Manaus, chama a atenção o projeto de lei que quer limitar o uso de roupas brancas aos médicos e profissionais da saúde. Também em Manaus, a vereadora Socorro Sampaio (PP) quer obrigar a instalação de neutralizador de odores em caminhões de lixo.

No mínimo curiosos

Santa Maria (RS)
» Lei do silêncio para os animais. Fica proibido latir depois das 22h. O dono do cachorro que desrespeitar a lei será multado.

Catanduva (SP)
» Proíbe a morte das pessoas na cidade.

Juiz de Fora (MG)
» Todos os bares e restaurantes seriam obrigados a apresentar no cardápio, além da quantidade de calorias e glúten de todos os alimentos, a necessidade calórica diária por faixa etária. O estabelecimento que descumprir a lei será sujeito a multa de R$ 1 mil a R$ 5 mil.

São João del-Rei (MG)
» Morte aos animais. Todos os animais que permanecerem mais de 48 horas nas ruas serão sacrificados.

Sobral (CE)
» Propõe a construção na cidade de dois prédios nos moldes do World Trade Center para abrigar a sede da prefeitura e as secretarias. As Torres Gêmeas teriam de 8 a 10 andares. O mesmo vereador apresentou projeto para construir um muro das lamentações.

Capelinha (MG)
» Proíbe a venda de bebidas alcoólicas a mendigos e pessoas com deficiência mental.
Manaus (AM)
» Apenas médicos e profissionais da saúde poderão usar uniformes brancos.

Salvador (BA)
» Democratização do refrigerante. Torna obrigatória a venda de refrigerantes de 1 litro em todos os restaurantes. Segundo o vereador, os pobres não comem fora por causa do preço dos refrigerantes.

Manaus (AM)
» Lixo cheiroso. Obriga a instalação de neutralizador de odores em caminhões de lixo.

Porto Alegre (RS)
» Os cavalos e burros são obrigados a usar fraldas, com exceção dos que participarem de eventos.

Nova Iguaçu (RJ)
» Obriga a instalação de banheiros para gays e travestis em espaços públicos.


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