(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Reportagem flagra espécie rara de águia em sobrevoo na Serra do Curral; veja vídeo

Aves de rapina transformam a Serra do Curral em seus domínios e fazem um lindo espetáculo pelo céu, observado com empolgação principalmente por ornitólogos e amantes dos pássaros


postado em 09/07/2017 06:00 / atualizado em 09/07/2017 13:39

Águia-chilena ou águia-serrana sobrevoa a Serra do Curral (foto: Eric Vieira/Divulgação)
Águia-chilena ou águia-serrana sobrevoa a Serra do Curral (foto: Eric Vieira/Divulgação)
O voo é veloz. Um planar direto entre urubus e carcarás. E é sorrateiro também, deslizando camuflado pelas rochas e pelo azul do céu. Esse comportamento furtivo tornou praticamente desconhecida a presença da maior ave de Belo Horizonte. Mesmo entre os funcionários dos parques do Paredão e das Mangabeiras, e os policiais que tomam conta das antenas de transmissão da corporação que ficam no topo dessas formações, poucos já contemplaram o casal de águias-chilenas ou águias-serranas que, pelo menos desde 1997, transformaram a Serra do Curral em seus domínios.

Mais raro ainda é o espetáculo que desde março vem sendo observado com empolgação por ornitólogos e amantes dos pássaros, que é o voo desse casal furtivo com dois filhotes que chocaram em janeiro. Algo que deve durar apenas mais alguns meses, já que antes do fim do ano o casal deve expulsar os jovens de sua área de caça, pois não tolera qualquer outro indivíduo da mesma espécie no território, que tem cerca de 30 quilômetros de diâmetro. A presença de águias, gaviões e falcões faz da Serra do Curral um território improvável de caça para aves de rapina, bem no topo da linha cinzenta de edificações da capital mineira.

Veja o voo da ave de rapina na Serra do Curral


Registrar a presença da águia-chilena não é tarefa fácil nem mesmo para os mais experientes fotógrafos da avifauna, contando com um componente de sorte ou grande frequência e insistência. Na última semana, a reportagem do Estado de Minas reuniu sete pessoas, entre amantes da fotografia de pássaros da organização não governamental (ONG) Ecoavis e entusiastas para uma caçada fotográfica ao casal de rapina e seus filhotes. Uma das águias adultas passou uma vez pela serra em dois dias de tentativas e nenhuma fotografia conseguiu registrar seu voo extremamente rápido e camuflado, o que só foi possível por meio de filmagem. Uma das raras fotografias de um dos animais maduros, de plumagem clara, ao lado de um dos filhotes, menor e com penas mais escuras, foi feita em abril, capturando seu banho de sol no topo de uma das torres da PM. A imagem foi registrada pelo fotógrafo Eric Vieira.

Águia-chilena ou águia-serrana, que habita a Serra do Curral, flagrada na torre de telecomunicações com um filhote (foto: Eric Vieira/Divulgação)
Águia-chilena ou águia-serrana, que habita a Serra do Curral, flagrada na torre de telecomunicações com um filhote (foto: Eric Vieira/Divulgação)
Uma das pessoas que melhor conhecem os hábitos da águia-chilena é o biólogo especialista em aves de rapina Giancarlo Zorzin, que desde 1997 se embrenha nas encostas íngremes do paredão para estudar os animais. De acordo com ele, o casal pode ainda ser o mesmo, pois só deixou a serra temporariamente, entre 2000 e 2002, após um incêndio ter destruído o ninho. “Essas grandes águias têm uma fidelidade territorial e usam o mesmo ninho por vários anos seguidos, apenas fazendo retoques”, conta, reforçando que o nome não significa que as aves venham do Chile, uma vez que não deixam seu território. De acordo com o cientista, entre setembro e janeiro ocorre a preparação do ninho, a cópula e a postura de até dois ovos. Entre fevereiro e março os filhotes aprendem a voar e abandonam o ninho. “Desta vez, tivemos registros de dois filhotes, que devem acompanhar seus pais até que aprendam a caçar. Enquanto isso, vão sendo alimentados pelos adultos. Mas assim que esse tempo passar, vão ser atacados e expulsos do território, tendo de encontrar um novo local para eles”, disse Zorzin.

IMPACTOS O voo da águia pelas casas do Mangabeiras e a Praça do Papa, bem como a proximidade com a mancha urbana de Belo Horizonte, não é algo que ocorra sem impactos. Um dos mais evidentes é que o casal de rapina belo-horizontino praticamente se especializou em caçar e se alimentar de pombos domésticos, ao contrário dos demais animais da espécie, que têm pequenos mamíferos como o principal componente da dieta. “A estratégia mais frequente é uma das águias voar contra a formação de pombos e desgarrar um dos animais, enquanto a outra águia que vem do alto mergulha e captura o pombo segregado”, conta Zorzin.

A caçada aos pombos já foi vista até em edifícios do Centro, causando espanto a quem observou essa cena no aglomerado que tem a passagem diária de cerca de 1,5 milhão de pessoas. “Além da beleza cênica da Serra do Curral, é um privilégio saber que contamos com exemplares tão significativos como a águia-chilena, que presumivelmente quase ninguém na cidade imagina que essa ave possa habitar, nidificar (fazer ninhos), reproduzir e manter o seu plantel”, destaca o diretor do parque, Ivan Loyolla. “Temos a águia e outras aves, como o falcão, o gavião, quero destacar também o assanhaço-de-fogo, pássaro raríssimo que foi fotografado aqui. Tudo isso é muito interessante e convido o belo-horizontino para vir desfrutar dessas maravilhas que temos aqui”, disse.

ONG chama a atenção para preservação

A águia-chilena reina como o animal de maior porte e no topo da cadeia alimentar do ecossistema da Serra do Curral, mas não é a única ave de rapina na formação rochosa. Seu porte, garras e bico poderosos também não são suficientes para assegurar um reinado soberano, já que batalhas contra outros habitantes acabam ocorrendo sem que os frequentadores dos parques nem sequer desconfiem. O alto da Serra comporta também o carcará, animal oportunista que se tiver uma oportunidade pode invadir o ninho da águia e devorar os ovos ou os filhotes pequenos. “Nenhum animal disputa comida com a águia-chilena, mas ocorrem outros conflitos. O carcará, por exemplo, não é um grande caçador, mas é um oportunista muito inteligente e pode ser atacado se ficar próximo do ninho, ameaçando as crias”, conta o biólogo especialista em aves de rapina Giancarlo Zorzin. A única ave de rapina que enfrenta a águia-chilena é o rápido falcão-quiriquiri. “É comum aves de rapina menores atacarem preventivamente as maiores para que não sejam vítimas delas”, afirma o biólogo.

A diversidade da avifauna da Serra do Curral não se restringe às aves de rapina. “Das 700 espécies de aves mineiras, 350 se encontram no corredor da Serra do Curral, um divisor natural entre o cerrado, do Norte e Nordeste de Minas, e a mata atlântica, da Zona da Mata”, afirma o diretor-presidente da ONG Ecoavis, Adriano Gomes Peixoto. Uma das ameaças que ele vê para essas espécies são os crescentes impactos na região. “Destaco, por exemplo a reativação ou ampliação do Hospital Hilton Rocha. Dar conhecimento à sociedade de espécies importantes como a águia-chilena, vivendo num dos símbolos da cidade, é uma forma de chamar a atenção para a sua conservação”, afirma.

De acordo com o diretor do parque, Ivan Loyolla, dentro de até quatro meses, essa e outras belezas poderão ser admiradas mais de perto com a reabertura da trilha de travessia da serra, atualmente interditada devido a uma erosão e à proteção de um cacto raríssimo. “A intenção é uma correção da trilha da travessia da serra o mais rápido possível. Vamos liberá-la assim que tivermos a estabilização geológica da trilha e a solução para a conservação do cacto for tomada”, diz Loyolla.

ESPÉCIES QUE HABITAM A REGIÃO 

(foto: Marcos Michelin/EM/DA Press)
(foto: Marcos Michelin/EM/DA Press)
Nome popular: águia-chilena ou águia-serrana

Nome científico: Geranoaetus melanoleucus

Tamanho: 68 centímetros de comprimento e 2 metros de envergadura de asas
Dieta: cobras, pequenos mamíferos e aves
Hábitos: Costuma planar sobre a área de caça para identificar presas. Ocupa em BH as escarpas da Serra do Curral, onde constrói seu ninho. O território é de cerca de 30 quilômetros de diâmetro e um casal não tolera outro da mesma espécie

(foto: Pinterest/Reprodução da internet)
(foto: Pinterest/Reprodução da internet)
Nome popular: falcão-americano ou falcão-quiriquiri

Nome científico: Falco sparverius
Tamanho: 23 a 27
centímetros de comprimento
Dieta: Alimenta-se de lagartos e grandes insetos, roedores, pequenas cobras, morcegos e pequenas aves
Hábitos: Costuma se empoleirar e buscar presas numa mesma região por longo tempo. Quando se sente ameaçado por outras aves de rapina, como a águia-chilena, costuma atacar preventivamente

(foto: Ricardo Mendes/Divulgação)
(foto: Ricardo Mendes/Divulgação)
Nome popular: gavião-carijó

Nome científico: Rupornis magnirostris
Tamanho: 31 a 41 centímetros de comprimento
Dieta: consome desde insetos e morcegos até aves e lagartos
Hábitos: Vive em casais fixos e que inclusive caçam juntos. Como ataca ninhos de outros pássaros, costuma ser perseguido por pequenas aves

(foto: Fábio Marçal/Divulgação)
(foto: Fábio Marçal/Divulgação)
Nome popular: carcará ou caracará


Nome científico: Caracara plancus
Tamanho: 56 centímetros de comprimento e 123 centímetros de envergadura de asas
Dieta: generalista, come desde insetos, pequenos mamíferos, pássaros, carniça e lixo
Hábitos: Um oportunista


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)