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Estado de Minas EXTREMOS GERAIS

Medo da criminalidade une Minas e São Paulo na divisa

Em ambas as regiões, a preocupação com a segurança gerada pela proximidade com estados - e criminosos - vizinhos é uma constante, a motivar mobilização de municípios e comunidades em busca de uma proteção que o poder estadual não consegue prover


postado em 20/11/2016 06:00 / atualizado em 20/11/2016 08:07

Extrema, última cidade mineira na BR-381, recebe visitantes com câmeras de vigilância em todas as entradas. Central bancada pelo município monitora imagens (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Extrema, última cidade mineira na BR-381, recebe visitantes com câmeras de vigilância em todas as entradas. Central bancada pelo município monitora imagens (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)

Nesta jornada pelos extremos de Minas que chega ao fim hoje, ligar Norte e Sul do estado à força de pedaladas e determinação, contando com muita solidariedade e algum improviso, consumiu nada menos que 42 dias de travessia. Após uma viagem de descobertas e personagens inesquecíveis por estradas e trilhas das Gerais, ao chegar à porção mais meridional do estado percebe-se que não apenas os caminhos e o mineirês, ainda que com diferentes acentos, unem essas duas pontas, separadas em estradas convencionais pelos mais de 1,2 mil quilômetros de distância entre Juvenília, na divisa com a Bahia, e as vizinhas Extrema e Camanducaia, ao lado de São Paulo. Em ambas as regiões, a preocupação com a segurança gerada pela proximidade com estados – e criminosos – vizinhos é uma constante, a motivar mobilização de municípios e comunidades em busca de uma proteção que o poder estadual não consegue prover.


Se no extremo Norte do estado se veem placas apresentando programas de reforço na vigilância no chamado cinturão de segurança na divisa com o território baiano, no extremo sul, “o cinturão de segurança de São Paulo já estourou, e não segura mais nada”. A constatação é do responsável pela central de videomonitoramento da Prefeitura de Extrema, Marcos Furlaneto, para quem os municípios têm um papel a ser cumprido no esforço pela segurança pública, “um problema nacional”.

Joanópolis, primeira cidade paulista após a divisa, tenta se recuperar do último ataque que destruiu agências(foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Joanópolis, primeira cidade paulista após a divisa, tenta se recuperar do último ataque que destruiu agências (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)

Chamada de Portal de Minas, Extrema, com seus 33 mil habitantes, na divisa com São Paulo, recebe visitantes apontando para eles câmeras de vigilância em todas as suas entradas. Numa área de trânsito entre dois estados e com crescimento econômico acelerado na última década, a prefeitura enfrenta a questão da segurança pública com o desenvolvimento e implantação de um programa-piloto de videomonitoramento, iniciado há três anos.

Começou com 20 câmeras, dobrou em janeiro deste ano e já soma 73 equipamentos. Dezesseis outros estão em implementação e o objetivo até o fim do ano é ultrapassar a primeira centena de unidades instaladas. A iniciativa foi desenvolvida em sistema híbrido, com 10% de fibra ótica e 90% com transmissão de dados via rádio, por antenas, o que mantém o custo baixo e aproveita a topografia da região de serra.

Se fosse instalada somente em fibra ótica, a rede custaria no mínimo R$ 6 milhões, explica Furlaneto. Com o projeto adotado, o investimento total ficou na casa de meio milhão de reais, 100% financiado pela prefeitura, responsável pelo monitoramento com um departamento próprio que atua em apoio a outras instituições: polícias Militar e Civil, Bombeiros, Defesa Civil, Samu e outros. A central de videomonitoramento funciona 24 horas, nos 365 dias do ano, e emprega 16 funcionários, divididos em cinco turnos diários, todos contratados da prefeitura.

“Nos últimos anos, a cidade cresceu muito: indústria, comércio, turismo, mas também acabam vindo problemas na segurança”, conta Marcos Furlaneto. A qualidade de vida é a marca do município e o principal patrimônio a ser protegido, completa. Sendo a única cidade da região contando com um programa do tipo, Extrema recebe visitas de funcionários de prefeituras vizinhas – paulistas e mineiras – para aprender sobre o funcionamento do sistema. As imagens geradas já foram usadas em diversos inquéritos e processos, inclusive em casos de repercussão envolvendo de estupro a homicídios. “É um trabalho difícil na área de segurança pública”, conta o gerente da central. “Quando está dando certo, ninguém se lembra dela, é difícil as pessoas entenderem isso.”

Tiro, pavor e bomba


Se a precaução tem sido a marca de um lado da divisa, do outro a sensação mais recente é o medo. Vizinha paulista mais próxima de Minas, Joanópolis ainda está abalada com os mais recentes acontecimentos na área de segurança. O serralheiro Diogo de Souza Bueno, de 29 anos, conta que no último 25 de agosto estava acordado por volta das 3 da manhã, adiantando a marmita que leva para o trabalho, quando escutou as primeiras rajadas de tiros. “O bicho tava pegando”, ele conta. Sem saber do que se tratava, correu para a internet. Com mais rajadas seguidas de explosões, as mensagens começaram a pipocar na rede, avisando sobre um grupo armado com fuzis que fechava a praça da igreja enquanto explodia as duas agências do local, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil.

Segundo ele, foi o terceiro assalto a bancos da cidade em menos de dois anos. Pouco depois das 4 da manhã, silenciados os disparos e explosões, os moradores começaram a descer. Em ocorrências anteriores, notas abandonadas foram coletadas por populares, e, antes da chegada da polícia, já havia ao menos uma dezena de pessoas em frente às agências. “Na última vez”, lembra o serralheiro, “sei de gente que achou R$ 700 e foi pra praia.”

Duas semanas depois a cidade ainda sentia os reflexos dos assaltos. Com as duas agências atacadas fechadas para reparos, no Banco Postal da praça as filas começavam cedo. “Só tem senha pra atender 20”, comunicava um funcionário dos Correios a um grupo de cerca de 70 pessoas que aguardava desde as 5 da manhã. A moradora Eliana Gonçalvez, de 49, contou que todos os dias desde a ação da quadrilha era assim. Dividindo-se entre senhas dos Correios e de lotéricas, ela diz que os atrasos para chegar ao serviço são compensados trabalhando nos fins de semana. “As contas tem que pagar né”, desabafa. Com o comércio parado, mesmo nas cidades vizinhas – mineiras e paulistas –, que já foram alvo de ações similares no passado, não há dinheiro suficiente nos caixas e grupos de moradores dividem gasolina procurando outros bancos na região.

Quem está mais abaixo?

A cidade mais ao norte de Minas é Juvenília, assim como o ponto geográfico mais setentrional do território mineiro, que fica a cerca de 7 quilômetros em linha reta da sede urbana do município, na divisa com a Bahia. Na outra ponta, a cidade mineira mais ao sul às margens da BR-381 é Extrema, na divisa com São Paulo. Porém, o pedaço de território mineiro mais ao sul no mapa fica na zona rural e pertence ao município de Camanducaia. Ali, uma pequena estrada de terra é o acesso mais meridional, a cerca de 20 quilômetros da sede urbana de Extrema, na direção sudeste. A divisa é sinalizada por um pequeno marco de pedra.

Pedaladas jornalísticas

Domingo – 13/11

Opostos que se atraem

Estreia da série revelou quem são os mineiros que vivem mais distantes entre si, de norte a sul do estado, assim como aspectos que ligam os pontos mais remotos de Minas: beleza e isolamento, mas também a distância do poder público, da segurança e da infraestrutura.

Segunda-feira – 14/11

Pelas trilhas doJK do sertão

As pedaladas do repórter se unem às de João Geólogo, que, por ordem do fundador de Montalvânia, mapeou cavernas e arte rupestre da região. Espécie de JK do sertão, Antônio Montalvão planejou a cidade, cuja história envolveu um enredo que uniu filosofia, política e até extraterrestres.

Terça-feira – 15/11

Uma rodovia nas terras do sem-fim
As curvas do sertão das Gerais levam a uma estrada que acaba antes da hora e a uma polêmica sem hora para acabar. Entre Miravânia e Januária, o asfalto da LMG-603 termina na palavra “fim” ao chegar à terra indígena xacriabá, devido a impasse de licenciamento que já dura seis anos.

Quarta-feira – 16/11


O mineiro caçador de dinossauros
O guidom guia a reportagem até Ubirajara Alves Macedo, de 70 anos, pioneiro no reconhecimento de fósseis em Coração de Jesus, ainda no Norte de Minas, que luta para que o feito não caia no esquecimento e para que o tesouro descoberto retorne à cidade de origem.

Quinta-feira – 17/11

Afinal, onde bate o coração das Gerais?
Pedalando mapa abaixo, a quinta reportagem da série vai em busca de local único, que é reclamado por três cidades: o ponto central do território mineiro. Curvelo, Corinto e Morro da Garça reivindicam, cada qual esgrimindo dados à sua conveniência, o título de coração das Gerais.

Sexta-feira – 18/11

Motos e lixo em uma estrada irreal
Por trilhas históricas chega-se a uma das estradas reais de Minas, da época da colônia, que, ao contrário do badalado trecho entre Diamantina e o Rio de Janeiro, está esquecida. A chamada Picada de Goiás, por onde escoou o ouro do Centro-Oeste, é marcada por bota-fora e trilheiros clandestinos.

Sábado – 19/11

Quem leva a vida a andar por este país
Pedalar por um dos principais eixos viários e econômicos do país revela aspectos que passam despercebidos aos apressados motoristas. Indo e vindo pela Rodovia Fernão Dias, há uma legião de pessoas com ricas histórias e nenhuma riqueza, passando a vida às margens do asfalto e da sociedade.

 


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