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Estado de Minas

Ao completar 80 anos, antigos desafios ainda rondam a Praça Raul Soares

Referência em BH e projetada no centro geográfico da cidade, praça batizada em homenagem a político é testemunha do crescimento da capital, mas enfrenta degradação e ocupação irregular


postado em 08/08/2016 06:00 / atualizado em 08/08/2016 08:52

Construída no marco zero de BH, praça inspirada em cidades europeias deveria receber sede da prefeitura, erguida depois na Avenida Afonso Pena (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Construída no marco zero de BH, praça inspirada em cidades europeias deveria receber sede da prefeitura, erguida depois na Avenida Afonso Pena (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Construída no chamado marco zero de Belo Horizonte, a Praça Raul Soares chega aos 80 anos com status de um dos principais símbolos da cidade, mas ainda às voltas com antigos desafios. O cartão-postal, inaugurado em 3 de setembro de 1936, é o único do gênero na capital cujo piso leva pedra portuguesa com mosaicos marajoara. Por outro lado, os jardins e o chafariz foram ocupados por dezenas de moradores de rua, situação certamente não imaginada por Aarão Reis (1853-1936).


O engenheiro-chefe da comissão que projetou a cidade pensou uma praça no encontro das avenidas Amazonas, Bias Fortes, Augusto de Lima e Olegário Maciel. Diante dela seria construído o prédio da prefeitura. As paredes, por falta de verba, não foram levantadas – a sede do Poder Executivo municipal foi erguida, anos depois da inauguração de BH (1897), na Avenida Afonso Pena, onde funciona até hoje.

A própria Praça Raul Soares, que ocupa uma área de 15 mil metros quadrados, saiu do papel quase quatro décadas depois de desenhada por Aarão Reis. Mas o tempo não impediu que o espaço, batizado em homenagem à memória do jurista e governador morto durante o mandato, fosse uma espécie de testemunha do crescimento da cidade. Em 1951, por exemplo, a praça viu surgir, em um das diversas esquinas que a contornam, o Cine Candelária.

Desenhada em um descampado na confluência de importantes avenidas, estrutura recebeu em seu entorno o Cine Candelária, destruído por incêndio, passou a ser cercada de prédios e a conviver com desafios do crescimento(foto: Arquivo EM)
Desenhada em um descampado na confluência de importantes avenidas, estrutura recebeu em seu entorno o Cine Candelária, destruído por incêndio, passou a ser cercada de prédios e a conviver com desafios do crescimento (foto: Arquivo EM)
Diversos filmes garantiram o charme do lugar até a década de 1970. A praça pegou carona na fama, pois parte da clientela se reunia no cartão-postal antes e depois das exibições. Os frequentadores da praça assistiriam também, mais de três décadas depois, à derrocada do Candelária. Em 2004, quando as telonas já estavam ocupadas apenas por cenas de sexo explícito, um incêndio jogou o prédio no chão.

Doze anos depois, as ruínas continuam lá, diante do Edifício JK, projetado em 1952 por Oscar Niemeyer (1907-2012). O condomínio é formado por dois prédios. O mais alto tem 36 andares. O outro, 23. Espigões, aliás, rodeiam a praça, em um cenário bem diferente do que havia quando da inauguração. Na primeira metade do século passado, a Raul Soares tinha apenas construções baixas como vizinhas.

Cine Candelária na década de 1980(foto: Pedro Graef/EM - 16/8/1989)
Cine Candelária na década de 1980 (foto: Pedro Graef/EM - 16/8/1989)
Muita coisa mudou de lá para cá. Começando pelo trânsito no entorno. O intenso fluxo de veículos causa dor de cabeça, sobretudo, nos horários de pico. Afinal, quatro importantes avenidas se cruzam no lugar. O fluxo de pedestres também é enorme. Por lá passa gente vestida com grifes e gente com roupa sem marca. Passam moradores de bairros nobres e quem vive em vilas e favelas. Passa madame com bolsa cara e mãe com Bolsa Família.

Um dos que têm o lugar como passagem obrigatória é o advogado Robert Laviola, de 53 anos. “Minha convivência com a praça supera 45 anos. Meu escritório é aqui perto. Além disso, meu avô tinha uma banca no Mercado Central. É um lugar bonito, mas deveria ser mais bem cuidado”, disse. A opinião é compartilhada pela autônoma Leila de Jesus. “Passo aqui para comprar mercadorias no Barro Preto. É um espaço bonito, mas algumas coisas têm que mudar”, defendeu.

Robert e Leila se referem, sobretudo, à questão dos moradores de rua. Os jardins da Raul Soares, inspirados em praças da Europa, foram ocupados por dezenas de pessoas. Algumas dormem em colchões sobre o gramado, e usam os arbustos para secar roupas lavadas na fonte, em um quadro que desafia as normas urbanas e expõe os sem-casa a condições degradantes.

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Mas há mazelas que levam a assinatura de pessoas que dormem debaixo de um teto. É o caso de pichações em postes de ferro e até em troncos de árvores. Alguns bancos de cimento foram arrancados. Outros, escritos com tinta. Apesar de haver lixeiras disponíveis, há quem insista em descartar o que não usa mais no chão revestido de pedra portuguesa, uma das características que ajudaram a Raul Soares, em 1981, a ser tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).

Saiba mais: Raul Soares de Moura

Nascido em 1877 em Ubá, na Zona da Mata, estudou em Mariana, Ouro Preto e Barbacena. Formou-se em direito em São Paulo. De volta a Minas, foi promotor de Justiça e delegado. Foi ainda o primeiro civil a se tornar ministro da Marinha. Também ocupou cadeira no Senado. O cargo de maior destaque de Raul Soares, contudo, foi o de presidente de Minas Gerais, posto que hoje equivale ao de governador. Não cumpriu todo o mandato, pois, dois anos depois, em 1924, faleceu em razão de problemas cardíaco.


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