A escola oferece três cursos técnicos e tem ótima reputação na cidade. Reflexo disso é a disputa por vagas. No último processo de seleção, a concorrência foi alta: 12 candidatos por vaga no curso de química, 10 por vaga para análise clínica e 8 por vaga para farmácia. “A escola é muito bem avaliada. Os pais em Contagem ficam de olho no edital. Eles querem que os filhos estudem aqui”, diz o diretor. Os alunos têm aula em tempo integral, das 7h às 18h30. Uma parte da carga horária é dedicada ao conteúdo básico do ensino médio e a outra à formação técnica.
Uma conquista das alunas Nathália Souza, de 18 anos, e Bianca Amaral, de 17, reflete a qualidade do ensino. A dupla foi selecionada para apresentar projeto de iniciação científica na Expo Ingeniería, na Costa Rica, entre 2 e 8 de novembro. A pesquisa sobre a presença de micro-organismos nos celulares, desenvolvida no laboratório da escola, se destacou entre 100 trabalhos científicos de todo o Brasil apresentados em um evento científico na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “É muito gratificante. A gente vê que o nosso empenho valeu a pena”, diz Nathália, que viajará pela primeira vez ao exterior. A amiga Bianca, que também sairá do país pela primeira vez, não poupa elogios à escola: “O ensino é muito bom, tanto na área do núcleo comum do ensino médio como na área técnica”.
Apesar da estrutura modesta do prédio já antigo, os laboratórios são bem equipados. O professor de hematologia Wellerson Britto destaca os equipamentos de hemograma automatizado e a parte da microscopia. “A direção tenta atender todas as nossas solicitações”, garante. Mas o diretor admite que é preciso se desdobrar. Os recursos anuais são de R$ 74,1 mil, em cinco parcelas de R$ 14.820. A instituição também recebeu este ano parcela única de R$ 5,7 mil do Programa de Dinheiro Direto na Escola (PDDE) do Ministério da Educação (MEC). “Só com reagentes para os laboratórios gastamos cerca de R$ 4 mil por mês”, diz o diretor. Apesar dos parcos recursos, o segredo, na avaliação do diretor, é a equipe de profissionais – da equipe de limpeza aos professores.
FORMAÇÃO CONTINUADA A especialista em gestão da educação municipal Palmira Piai aponta que é fundamental investir em educação para que as escolas ofereçam ensino de qualidade. No entanto, ela lembra que não é somente o dinheiro que garante a qualidade. Destaca que a peça principal é o professor, que deve receber estímulos e ter condições de se capacitar de forma permanente. Palmira ressalta que, apesar de diversas inovações tecnológicas, muitos profissionais ainda trabalham apenas com o quadro-negro.
As avaliações externas, conforme lembra, apontam o que as escolas precisam melhorar. Porém, acentua que mais do que uma tarefa de cada professor, o comprometimento para melhoria deve ser de toda a instituição escolar. Mesmo com a falta de recursos, algumas medidas simples podem fazer a diferença. Por exemplo, um professor que se destaca ou que desenvolve um método inovador de ensino pode se tornar multiplicador e ajudar na formação dos colegas. Os educadores que se destacam assumem o papel de mediadores e criam processos participativos, que envolvem os alunos.
Por dentro da escola
Funec Centec
360 alunos
60 professores (a maioria especialistas e cinco com mestrado)
Feito: a melhor escola pública – à exceção das federais – no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
Sucesso: Equipe de professores e bom nível dos alunos
Palavra de especialista
O segredo está nas pessoas
FERNANDO KUTOVA
Diretor da Conexa Eventos e organizador do Educativa 2015
“Como explicar que localidades com baixos índices de IDH consigam, com todas as condições desfavoráveis, proporcionar a formação de notáveis estudantes? A resposta é complexa, mas há um padrão entre essas instituições que se sobrepõem ao cenário de adversidades: a gestão de pessoas. As escolas que pontualmente se destacam em condições desfavoráveis, contrariando todas as expectativas, têm sempre excelentes gestores, excelentes professores, um sistema de atualização e capacitação permanente de seus docentes – que, na maioria dos casos, não possuem uma formação adequada para a prática pedagógica –, famílias envolvidas diretamente na escola e projetos que despertem em seus alunos a curiosidade pelo saber. Antes de estrutura, verbas e recursos, o capital mais valioso são as pessoas, e são elas as merecedoras dos melhores investimentos. Para que o ensino seja o mais qualificado, é necessário primeiramente despertar nos alunos a paixão pelo aprender. Somente um professor comprometido com seu trabalho e sua missão de formar crianças e jovens consegue despertar nos alunos a paixão pelo aprender.”