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Estado de Minas

Casarão erguido há cem anos no Sul de MG para sediar cassino deve virar museu

Orgulho de Lambari, uma das cidades do Circuito das Águas, imóvel passa por reformas


postado em 22/02/2014 06:00 / atualizado em 22/02/2014 07:18

Prédio teve sua construção iniciada em 1909 às margens do Lago Guanabara pelo primeiro prefeito da cidade, então Àguas Virtuosas, Américo Werneck(foto: Fotos: Marcos Michelin/EM/D. A Press)
Prédio teve sua construção iniciada em 1909 às margens do Lago Guanabara pelo primeiro prefeito da cidade, então Àguas Virtuosas, Américo Werneck (foto: Fotos: Marcos Michelin/EM/D. A Press)

Lambari
– A pedagoga Vanessa Dias Antunes, de 34 anos, não esconde a emoção quando passa em frente ao mais famoso casarão de Lambari, no Sul de Minas, a 350 quilômetros de Belo Horizonte, palco de grandes bailes nas primeiras décadas do século passsado. Ela lamenta o ostracismo a que foi relegado o complexo à beira do Lagoa Guanabara, enquanto observa detalhes na arquitetura do prédio, inaugurado em 1911, para abrigar um cassino. A jogatina durou poucos dias, em razão de a legislação proibir a atividade no país, e o imóvel, até 1998, foi ocupado por repartições públicas e atividades culturais, quando foi fechado. Em novembro passado, começou a ser reformado para abrigar o Museu das Águas. As obras, orçadas em R$ 9 milhões, devem ser concluídas em agosto deste ano.

Já a inauguração do museu ainda não tem um prazo estimado, pois a abertura do empreendimento depende de um projeto que está sendo elaborado pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), responsável pelo imóvel. A importância do prédio levou o município a tombá-lo em 2000. Dois anos depois foi a vez do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) fazer o mesmo. O prédio tem importante destaque na história mineira. Em sua inauguração, estiveram presentes os então presidente da República, marechal Hermes da Fonseca (1855-1923), e o governador de Minas, Júlio Bueno Brandão (1858-1931).

O cassino começou a ser erguido em 1909, às margens da Lago Guanabara, por decisão do primeiro prefeito da cidade, Américo Werneck. Sua intenção era transformar o município, que então se chamava Águas Virtuosas, numa versão nacional de Vicky, uma famosa estância hidromineral francesa. Boa parte do material usado na construção foi importada: da Rússia veio pinho de riga; da França, telhas; de Portugal, azulejos; da China e do Japão, diversas obras de arte para decorar o interior do cassino. O imóvel tem dois pavimentos e mais de 30 recintos, que, juntos, somam 3,8 mil metros quadrados.

Seu interior era mesmo um charme. O principal salão, no centro da construção e destinado a bailes, era iluminado por grandes lustres de cristais. Nas paredes, havia quadros orientais. Ao redor, corredores e diversas salas. Uma delas era decorada com peças japonesas, como um dragão esculpido em madeira e imagens de gueixas. Uma torre foi erguida em cada um dos quatro cantos, onde havia salas para jogos, com máquinas caça-níquel, roletas e mesas de apostas. O acesso às torres ocorria por meio de escadas, nos dois extremos da fachada principal, com acesso pela parte interna. Ainda havia um passadiço com telhas de ardósia para acesso às torres. No térreo, um outro grande salão, na lateral oeste da fachada, foi construído para ser um restaurante, onde taças de cristal e talheres de prata reforçavam o glamour do cassino. Outro espaço em destaque era uma sala para leitura e descanso dos frequentadores. O piso das salas e salões era de pinho de riga. Já o das demais áreas, como corredores e banheiros, era de ladrilhos hidráulicos.

Pedagoga Vanessa Dias Antunes, de 34 anos, sonha em ver o prédio reaberto
Pedagoga Vanessa Dias Antunes, de 34 anos, sonha em ver o prédio reaberto

A arquitetura é também um espetáculo aos olhos dos visitantes. O cassino foi projetado em estilo eclético, mas sua fachada principal tem três frontões ornamentados no rococó, com rocalhas, flores e guirlandas. Já a curiosidade daquela época na fachada lateral era um vitral, no lado leste, que marcava os solstícios de verão e de inverno e os equinócios, segundo alguns estudiosos. “Agora a história está sendo restaurada. Sonho em vê-lo reaberto. Afinal, o casarão faz parte da cultura mineira. Muito do desenvolvimento socioeconômico da cidade se deve a este imóvel”, diz a pedagoga Vanessa Antunes.

O início da reforma era uma demanda tão exigida pela sociedade local que contou com a participação do governador Antonio Anastasia. Em seu discurso, o tucano ressaltou a história do imóvel: “Faremos a restauração do prédio mais simbólico de Lambari e um dos mais importantes de Minas. Além da restauração, vamos colocar lá dentro um conteúdo fundamental. O museu será uma âncora do turismo não só para Lambari, mas para as demais cidades do Circuito das Águas”. Mas o início das obras precisou de uma “ajuda” do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que conseguiu na Justiça, em 2012, uma liminar para que a Codemig adotasse medidas de proteção ao patrimônio. Os promotores, em princípio, haviam tentado um termo de ajustamento de conduta (TAC) com a Codemig, mas não obtiveram êxito.

MELHORIAS O museu não será o único cartão-postal da cidade a receber aporte. O Lago Guanabara será também revitalizado em todos os cinco quilômetros de sua orla. “Obra deve começar até dezembro”, diz a secretária municipal de Turismo, Esporte e Cultura, Ana Paula Nunes dos Santos. Uma das intervenções será a reforma do farol. As duchas receberão cuidados. Muita gente, porém, aguarda as obras do cais, que fica em frente ao cassino e de onde partiam os pedalinhos. “Eles voltarão a funcionar”, garante a secretária. O passeio no espelho d’água permite uma bela vista da fachada do cassino e da Serra das Águas, atrás do antigo casarão. Uma parte da mata é reserva florestal. O museu e o lago ficam próximos do Parque das Águas, no Centro de Lambari – araberi (peixe pequeno), na língua tupi-guarani.

 

 

Fachada frontal é inspirada no rococó, com rocalhas, flores e guirlandas
Fachada frontal é inspirada no rococó, com rocalhas, flores e guirlandas

Linha do tempo

 

1911

Inicia-se a construção do cassino

1986

Prefeitura passa a funcionar no casarão

1992

Parte do imóvel abriga o fórum da cidade

2000

Casarão é tombado pelo município

2002

Casarão é tombado pelo Iepha

2012

Incêndio destrói parte da estrutura do casarão

2013

Início das obras de restauração do casarão

2014

Previsão de inauguração do museu da cidade

 


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