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Estado de Minas

Moradores do entorno do Mineirão temem novos confrontos e depredação

Dia é de medo com a presença de milhares de manifestantes


postado em 26/06/2013 06:00 / atualizado em 26/06/2013 09:10

Prédios públicos e agências bancárias da capital receberam tapumes para proteger vidraças de depredação, como ocorreu nas manifestações nos últimos dias(foto: Cristina Horta/EM/DA Press)
Prédios públicos e agências bancárias da capital receberam tapumes para proteger vidraças de depredação, como ocorreu nas manifestações nos últimos dias (foto: Cristina Horta/EM/DA Press)
 

A possibilidade de mudança do trajeto dos manifestantes hoje deixa apavorados moradores e comerciantes próximos ao Mineirão. Os confrontos com a polícia aconteceram no cruzamento das avenidas Antônio Carlos e Antônio Abrahão Caram, mas quem mora perto de outras barreiras do estádio – como a rotatória da Avenida Otacílio Negrão de Lima com Rua Coronel Oscar Pascoal, ao lado do Mineirinho, e na Avenida Carlos Luz com Rua Conceição do Mato Dentro – teme pela segurança das suas famílias.

"Há muitos bandidos infiltrados e a polícia deveria ficar infiltrada à paisana no meio deles para identificar e prender esses marginais" - Sônia Medeiros, dona de casa (foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
A dona de casa Sônia Medeiros, de 63 anos, moradora da Rua Dom Orione, a poucos metros do bloqueio, pôs todos os carros da família nos fundos da casa para evitar depredação. Ela até desmarcou a consulta médica hoje, com medo de sair de casa. “Estamos numa guerra. Não vou ficar nem na varanda, podem jogar pedras pela grade”, disse. No sábado, ela foi para a fazenda e acompanhou os confrontos da Antônio Carlos e Praça Sete pela televisão. “Nunca tivemos problemas com torcedores, mas, desta vez, os manifestantes estão tirando o nosso sossego”, disse Sônia.

Também morador da Dom Orione, o aposentado Raimundo Maria Filho, de 70, está apreensivo. Nos últimos jogos, ele teve problemas com torcedores que foram impedidos de ultrapassar os pontos de acesso ao estádio antes do horário permitido. “Eles chegaram ao meio-dia e se aglomeraram na minha rua. Até fizeram churrasco no jardim em frente à minha casa”, disse o aposentado, que agora teme o pior. “Não temos medo dos manifestantes honestos, mas quando chegam os vândalos é simples identificá-los”, disse Raimundo, que mora no local há 26 anos, mas pretende se mudar para uma região mais tranquila. A segurança no Restaurante Juscelino Deck Beer, na esquina da Otacílio Negrão de Lima com Alfredo Camarate, será reforçada também. “Vamos ter um evento particular que vai ocupar metade do restaurante e contratamos mais seguranças”, informou uma funcionária.

"Quem está mascarado não tem boa intenção. A pessoa não precisa cobrir o rosto para reivindicar um direito" - Raimundo Maria Filho, aposentado (foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
INSEGURANÇA

Do outro lado do Mineirinho, o medo mudou a rotina dos moradores. Um empresário de 58 anos, que prefere não revelar o nome, desabafa: “Não sabemos quem está por trás desse vandalismo”. Segundo ele, a Antônio Carlos tem apenas estabelecimentos comerciais e um confronto na região onde ele mora, que é totalmente residencial, colocaria a segurança de mais pessoas em risco. “Temos muitos idosos e crianças. É uma região muito frágil”, disse. Na manifestação de sábado, segundo ele, manifestantes chegaram a passar em frente à sua residência depois do jogo entre Japão e México. “Estavam bastante exaltados. Tivemos dificuldade de sair de casa. O trânsito ficou totalmente congestionado”, reclamou.

Outra moradora da Otacílio Negrão de Lima, de 58 anos, disse estar apavorada. “Na última manifestação, eles chegaram à Otacílio Negrão de Lima passando pela Santa Rosa e fizeram uma baderna. Afrontaram até a polícia em frente à minha casa. Os policiais foram recuando, sem reação, e os manifestantes colocavam o dedo na cara deles, gritando”, disse a dona de casa.

A estudante Nathália Menezes, de 19, reclama que a Fifa não distribuiu credenciais para quem mora no entorno do Mineirão. “Fui barrada pelos policiais no jogo entre Nigéria e Taiti e não deixaram meu carro passar. Apresentei comprovante de endereço, em meu nome, e mesmo assim o policial começou a gritar comigo, mandando o colega anotar a placa, dizendo que só aceitava credencial”, disse a estudante, que mora na Otacílio Negrão de Lima. Nathália foi obrigada a retornar e procurou um fiscal da prefeitura, que a atendeu com educação, segundo ela, e permitiu a sua passagem. “Quando é réveillon é tudo organizado. A gente recebe credencial com antecedência, um para cada carro da família. Agora, está sendo essa bagunça toda. Imagina como vai ser a Copa do Mundo.”

A estudante disse ter procurado a BHTrans para obter a credencial, mas fi informada de a prefeitura é que era responsável. “Fui à prefeitura e me mandaram de volta à BHTrans”, reclamou Nathália. A mãe dela antecipou as compras ontem, pois todo o comércio da região vai fechar as portas hoje. “Sexta-feira, fui à padaria comprar pão e vi tanto carro da Força Nacional que não tive coragem de descer do carro e voltei para casa”, disse a mãe dela, que colocará cadeados nos portões. “Ninguém da minha família vai sair de casa”, disse.

 

Gerente Manoel Reis defende manifestações, mas está apreensivo com o vandalismo(foto: (BETO NOVAES/EM/D.A PRESS))
Gerente Manoel Reis defende manifestações, mas está apreensivo com o vandalismo (foto: (BETO NOVAES/EM/D.A PRESS))
Lojista fecha porta e tira mercadorias

Os comerciantes da Região Central de Belo Horizonte que costumam reclamar de queda no faturamento por causa do excesso de folgas durante o ano, desta vez comemoram o feriado decretado pela prefeitura devido ao jogo Brasil e Uruguai hoje. A mudança é motivada pelo medo do vandalismo, como ocorreu durante as manifestações na semana passada. Mas mesmo com portas fechadas há quem pretenda levar para casa toda a mercadoria, temendo invasão e saques.

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) informou que, mesmo antes da publicação do decreto, já havia orientado os comerciantes a fechar os estabelecimentos durante as passeatas. Na semana passada, quando houve depredação de vidraças e pichação de muros, lojistas já haviam baixado as portas para evitar prejuízos.

Por causa dos protestos de hoje, Zenite Martins de Freitas, dona de uma relojoaria na Avenida Afonso Pena, no Centro, vai cobrir a placa da loja e retirar todos os relógios, joias e semijoias do estabelecimento. “Não dá para confiar. Em um momento a manifestação está pacífica e de repente começa o tumulto”, diz a mulher, que está preocupada com a possibilidade de que derrubem a porta de seu estabelecimento. “Vou estar em casa, mas com a cabeça aqui”, desabafa.

Funcionários de uma loja de bijuterias também comemoram o feriado. A gerente Taylane Angélica Dávila pediu autorização aos supervisores para fechar a loja durante manifestações. “Mesmo que prejudique o cumprimento de metas de vendas, será melhor do que correr o risco de ser atingido em caso de tumulto”, acredita.

Defensor do movimento que toma conta das ruas de Belo Horizonte, Manoel Reis, gerente de uma loja de calçados no Centro, diz ter ficado assustado com a depredação: “Quase entrei em pânico no sábado quando os vândalos começaram a quebrar tudo. Tem de fechar mesmo, mas não por causa do futebol, e sim por causa dos que fazem baderna durante os protestos de quem quer divulgar suas ideias”, defende o comerciante. O medo de novos ataques é generalizado no Centro. Prédios públicos e agências bancárias receberam tapumes para proteger vidraças.

PRAÇA SETE

Ontem à tarde, policiais civis em greve fecharam a Avenida Afonso Pena e queimaram caixões. Eles decidiram em assembleia manter a paralisação até serem atendidos na melhoria nas condições de trabalho e elaboração de nova lei orgânica para o exercício da profissão. Não houve registro de tumulto, mas o protesto provocou congestionamento e o trânsito ficou lento em ruas e avenidas do Centro.


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