Descaso e mau cheiro na Lagoa da Pampulha

O cenário é de cartão-postal, com ampla área verde e assinatura de Oscar Niemeyer. Na teoria, a orla da Lagoa da Pampulha deveria ser um convite para a prática esportiva, mas o ponto que é referência turística em Belo Horizonte tem desagradado aos adeptos de corridas, caminhadas e do ciclismo. As pistas para quem anda a pé ou de bike são estreitas e obrigam quem quer seguir em velocidade maior a se arriscar pelo asfalto, entre os carros. Os únicos três banheiros existentes no percurso de 18 quilômetros ficam sempre fechados ou em péssimo estado de manutenção. Quem quer andar pela orla deve ir com garrafinha de água ou disposto a pagar pelo produto em barracas, porque os bebedouros são escassos.

“Caminho nesta orla há mais de 40 anos e, infelizmente não tenho esperança de que vá melhorar. Percebo um descaso muito grande com toda a infraestrutura. É um ponto turístico que não tem banheiro, bebedouro limpo, policiamento adequado”, critica o dentista aposentado Alencar Silva Júnior, de 69 anos, morador da Pampulha. As condições do piso e a iluminação também são apontadas como problemas por quem busca a orla para a prática de exercícios, como a empresária Larissa Borges Martins, de 36, do Bairro Ouro Preto. “Já vi pessoas caindo por causa de buracos no piso. Quando venho sozinha, costumo não ficar até tarde se for à noite e procuro locais mais movimentados”, conta.

O tratamento do espelho d’água, com a eliminação do mau cheiro durante a caminhada, seria um atrativo, na avaliação da nutricionista Azula Narayama Malacco, de 27 anos, que frequenta a Pampulha para correr. A despoluição do espelho d’água é fundamental, de acordo com o professor Leszek Antoni, da Escola de Educação Física da UFMG, para melhoria da prática esportiva. “As pessoas quando estão se exercitando, aumentam a demanda por oxigênio, mas no caso da Pampulha estão respirando gases poluentes, prejudiciais à saúde”, disse.

A solução para tantos problemas só deve chegar com a Copa do Mundo 2014, já que a prefeitura tem um projeto de revitalização para o local previsto para ficar pronto a tempo do Mundial de Futebol. Segundo a secretária adjunta da Regional Pampulha, Júnia Neves, o projeto prevê instalação de mais banheiros, bebedouros, placas de sinalização, postos de segurança, melhorias e ampliação das pistas de caminhada e ciclovia e tratamento de passeios no entorno. “A Pampulha terá mais infraestrutura e mais segurança. Ao mesmo tempo, a lagoa será desassoreada e a água será tratada”. O estudo está em fase de desenvolvimento e passará por aprovação dos órgãos de patrimônio estadual e federal.

ANDRADAS Maior percurso de caminhada da Região Leste, a pista da Avenida dos Andradas, no Bairro Horto, enfrenta problemas proporcionais à sua dimensão. Quem frenquenta o local comemora o fato de ter uma faixa de asfalto larga e arborizada, mas com capim alto nas margens, constante presença de moradores de rua, falta de manutenção nos equipamentos de ginástica e falta de banheiros e bebedouros. As irmãs Brígida Mattos, de 25, e Ornela Mattos, de 23, reclamam do descaso com a marcação das distâncias no solo e com a demarcação da ciclovia. “Se houvesse uma sinalização melhor as pessoas não invadiriam tanto a faixa das bicicletas”, diz Ornela.

O secretário municipal interino da Regional Leste, Edson Jacomino, afirmou que a prefeitura tem um projeto de implantação de um quiosque, com exploração da iniciativa privada, mas com banheiros e bebedouros públicos no local. No entanto, ainda não há data para implantação. Sobre manutenção, disse que os reparos são feitos com frequência, varrições ocorrem aos sábados e capina e limpeza de acordo com a demanda. Sobre segurança, a Polícia Militar informou que faz o policiamento em todos as pistas de caminhada da cidade e que não há registros de crimes nesses locais. A PM afirmou que não recebeu demanda da população para reforço no monitoramento.

Enquanto isso...

…Praça é exemplo no Belvedere

O investimento privado destinado à manutenção da pista de caminhada da Lagoa Seca, no Bairro Belvedere, na Região Centro-Sul, faz com que o lugar torne-se exemplo na capital para a prática de atividade física. O espaço é amplo, limpo, arborizado, bem iluminado e com piso em perfeito estado. Impressiona o número de lixeiras. Em um trecho de 720 metros, são 22 equipamentos, inclusive seis deles dotados de rolos de sacos descartáveis (foto), que podem ser usados para recolhimento de fezes de cães. Frequentador da praça desde a época da criação, o aposentado Idelfonso Assunção, de 72 anos, elogia o lugar: “É uma praça sempre bem cuidada. Mas porque é adotada pela associação”. Mas quando o assunto é de delegação pública, a engenheira Rogéria Passos reclama. “Falta policiamento, mais segurança. Também deveria ter banheiros públicos e bebedouros”, diz.