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Estado de Minas

Motoristas se preparam para mais um feriado prolongado nas violentas estradas mineiras

Conheça as receitas de quem está de mala pronta


postado em 01/11/2012 06:00 / atualizado em 01/11/2012 08:10

Vou de carro: Ewerton Gonçalves cuida de si e reza para os outros(foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
Vou de carro: Ewerton Gonçalves cuida de si e reza para os outros (foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
A informação de que 55 pessoas morreram nas estradas mineiras no feriadão de 12 de outubro não intimida o representante comercial Ewerton Gonçalves Pereira, de 35 anos. O plano é pôr logo cedo a família no Siena e pegar a BR-040 rumo a Três Marias, na Região Central, a 276 quilômetros de BH. Quer fugir do calor e aproveitar os dias de folga para tentar fisgar tilápias ou mesmo tucunarés na represa 14 vezes maior que a Baía de Guanabara. “Vou tranquilo, em paz, atento à sinalização e nunca abuso da velocidade”, afirma.

Mas e os outros, que vêm em sentido contrário e sem a consciência de que a rodovia exige, acima de tudo, respeito? “A gente reza por eles e toma conta deles também”, receita. A última viagem de Ewerton na direção foi a Gramado (RS), quase 1,3 mil quilômetros de estrada. “As rodovias do Sul são excelentes. As nossas, com excesso de tráfego, deixam muito a desejar em segurança. Mas o maior perigo nas vias com excesso de tráfego é a imprudência, e a gente vê muito isso, além do o álcool e da ansiedade.”

O casal Leonardo Sommerlatte, de 25, e Lorrah Siebald, de 23, por ser jovem, bem que gostaria de botar o carro na estrada e curtir a viagem a Florianópolis (SC), mas optou pelo avião. Os dois embarcaram ontem à tarde, em Confins. Ele, com a camisa de número 13 do Atlético, viajou de coração partido por ter deixado o time sem seu grito de guerra diante do Flamengo. “Se a passagem área estiver em conta, prefiro voar a encarar estradas cheias de caminhões, esburacadas e com sinalização precária. Se as rodovias fossem boas, não há dúvida de que a viagem de carro seria mais agradável”, diz Leonardo.

Vou de avião: Daniel Saffar só encara estrada na falta de aeroporto(foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
Vou de avião: Daniel Saffar só encara estrada na falta de aeroporto (foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
O engenheiro civil Daniel Saffar, de 27, viaja o estado inteiro a trabalho. Tem carro cedido pela empresa, mas opta pelo avião. Nessa quarta-feira à tarde, fazia check-in no aeroporto da Pampulha com destino a Uberlândia, no Triângulo, a 526 quilometros de distância. “Viajo pelo menos 5 mil quilômetros por mês. Não me arrisco nas nossas estradas, a não ser se for a alguma cidade não servida por linha aérea. Os riscos de acidente são grandes. Há vias estreitas, pistas sem sinalização adequada e fiscalização deficiente.”

Daniel alerta para outro problema nas rodovias: tornaram-se comuns os assaltos a motoristas, principalmente em trechos onde há retenções rotineiras. “Viajo com equipamentos da empresa e, se estiver de carro, imagine o perigo que vou correr se for obrigado a parar por causa de alguma pane mecânica?” Nem mesmo a lazer ele pega o volante.

O empresário Joaquim Neves Xavier Dias, de 47, também estava na sala de embarque na Pampulha ontem à tarde, com passagem para Montes Claros, no Norte de Minas. Eleito prefeito de Salinas pelo PT, voltava para a cidade depois de resolver negócios em Belo Horizonte. É uma viagem de 620 quilômetros que já fez mais de uma vez ao volante, mas desde a perda de um irmão, mês passado, na BR-251, passou a evitar as estradas.

“Não há fiscalização e as rodovias, mesmo as recuperadas, como a BR-135 que liga a BR-040 ao Norte de Minas, são estreitas e com falhas na sinalização. A que leva a Salinas é um corredor da morte.” Joaquim desembarca em Montes Claros e precisa viajar ainda mais de 220 quilômetros até Salinas. “Mas vamos recuperar nosso aeroporto, que precisa de balizamento e rádio-farol (aparelho para orientar os aviões).” Até lá, não dá para se livrar do volante.Paranaiba

Semana mais curta, menos trabalho e a chance de pegar estrada. Na véspera do feriado de Finados, enquanto milhares fazem as malas para viajar, surge também o temor de enfrentar rodovias que a cada feriadão viram notícia devido aos acidentes. Considerando apenas os 29 dias dos recessos já transcorridos em 2012, ocorreram 116 mortes em 2,4 mil acidentes, com mais de 1,5 mil feridos nas rodovias federais quer cortam o estado. Se for levada em conta a média diária nesses períodos, quatro pessoas perderam a vida a cada dia de recesso de 2012, número 27% maior do que a média nos demais dias do ano. Usando o mesmo cálculo, em média 26% mais pessoas ficaram feridas e 24% mais motoristas se envolveram em acidentes.

Os dados comprovam um temor conhecido de quem viaja. Medo que é ainda maior em virtude do último feriado, de Nossa Senhora Aparecida – o mais violento desde o ano passado –, quando 55 pessoas morreram nas rodovias estaduais e federais de Minas. Para especialistas e autoridades que cuidam do policiamento, o primordial nesses recessos é ter paciência.

As 116 mortes computadas nos recessos do Carnaval, Semana Santa, Dia do Trabalhador, Corpus Christi, Independência do Brasil e Dia de Nossa Senhora Aparecida representam 13% de todas as 888 vidas perdidas de janeiro até 30 de setembro nas BRs do estado. E esse percentual pode crescer se o motorista não tiver atenção, pois a previsão para o feriado de Finados é de chuva em várias regiões mineiras.

O engenheiro civil Márcio Freire Ramos, de 58 anos, é um dos condutores que vão pegar estrada nesse feriadão, com destino a Leopoldina, na Zona da Mata. Ele conta que não gosta de encarar as rodovias em feriados, mas como não muitas opções, devido ao trabalho, acaba ficando refém dos períodos mais movimentados. “Nessas épocas sai todo mundo de casa querendo chegar depressa ao destino e às vezes um congestionamento faz a pessoa se atrasar em um determinado ponto. O problema é que quando ela chega a outro trecho quer tirar o atraso e acelera, aumentando o risco de acidentes”, diz o engenheiro.

Freire estima que desta vez a viagem seja mais tranquila. “Como consegui adiantar muita coisa no trabalho, vou viajar nesta quinta e já evito o maior fluxo. Assim, fico menos suscetível aos abusos que ocorrem quando o trânsito está mais carregado”, diz ele. O contador Leonardo Lourenço, de 51, não tem a mesma sorte: segue para Patos de Minas, no Alto Paranaíba, amanhã e já sabe que terá trânsito intenso pela frente. “No meu caso não tem jeito. Só posso viajar no feriado. O jeito é sair bem cedo para não ser surpreendido pelos congestionamentos”, diz ele.

Fiscalização
Para o coordenador do Núcleo de Transportes da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ronaldo Guimarães Gouvêa, a situação fica mais complicada nos feriados devido à ansiedade dos motoristas. “A imprudência e a impunidade dominam as ações nas estradas e por isso aumentam os acidentes”, diz o especialista. Ele afirma que outro problema grave é a pouca fiscalização. “Em feriados, o aumento da fiscalização é bem menor do que o aumento da circulação. Você trafega por vários quilômetros sem ver sinal de polícia e isso faz com que o motorista não tenha medo de ultrapassar em local proibido, trafegar pelo acostamento, entre outras infrações”, completa.

Segundo o inspetor Adilson Souza, assessor de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o feriado de Finados terá reforço de policiais de outros estados para aumentar a presença ostensiva da PRF nas rodovias federais mineiras, além do apoio de um helicóptero. “Sabemos quais são os pontos mais críticos e vamos posicionar viaturas nesses locais para prevenir acidentes ou evitar que um acidente cause outros”, diz. Segundo Souza, a atenção deve ser ainda mais intensificada neste recesso, diante da previsão de chuva. “É importante manter a distância de segurança do veículo da frente, fazer paradas para descansar de duas em duas horas e lembrar que quando se comete uma infração você expõe a si próprio e outros motoristas a riscos”, completa o inspetor.

Mais polícia nas estradas estaduais

Vigilância intensificada nas rodovias estaduais e federais delegadas à administração do governo mineiro. Entraram em operação ontem as 90 viaturas e equipamentos que vão reforçar o policiamento nas estradas e que integram o Projeto Cinturão Rodoviário de Minas, que tem como objetivo reduzir a criminalidade, os acidentes e as mortes no trânsito.

Para a Região Metropolitana de Belo Horizonte, cujo patrulhamento é responsabilidade do Batalhão de Polícia Militar Rodoviária, foram destinadas 10 viaturas, além de fuzis, coletes à prova de bala, bafômetros, notebooks, câmeras digitais, microcomputadores, rádios comunicadores e lanternas. Segundo o subtenente Renato Augusto de Campos, os carros e os equipamentos já serão usados a partir de hoje na Operação Finados, que vai se estender durante o fim de semana prolongado e se encerrar na manhã de segunda-feira.

O oficial informou que as viaturas e os bafômetros vão permitir uma fiscalizão mais eficiente nas barreiras montadas nas principais rodovias estaduais na RMBH. Também será intensificado o trabalho de buscas por armas e drogas, para aumentar a segurança de quem viaja e dos frequentadores dos estabelecimentos às margens das estradas.

64 municípios
O Projeto Cinturão Rodoviário vai abranger em suas duas primeiras etapas 64 municípios nas divisas com Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul, além da Grande BH. A iniciativa integra o projeto Cinturão de Segurança, implantado em 2006, com investimentos de R$ 25 milhões, em convênio com o Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF).

No lançamento do Cinturão Rodoviário, o governador Antonio Anastasia informou que os investimentos na área terão continuidade e que a próxima fase do projeto irá contemplar especificamente a Grande BH. Será o Cinturão Metropolitano, com o objetivo de aumentar a segurança no trânsito rodoviário durante a Copa das Confederações, em 2013, e a Copa do Mundo, em 2014.

 


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