(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Fala e audição de professores e alunos são prejudicadas

Saúde dos professores é a maior vítima do barulho na sala de aula, com muitos casos de perda de voz e rouquidão. Para alunos, grande problema é a falta de concentração


postado em 01/10/2012 06:51

Por causa do barulho nas salas de aula, profissionais de educação acabam tendo a saúde comprometida. Alguns sofrem com fendas nas cordas vocais e rouquidão, enquanto outros têm perda auditiva constatada em laudo médico. Nos casos mais graves, a necessidade de elevar o tom de voz na tentativa de ser ouvido pelos alunos é causa também de afastamento da sala de aula. São muitos os casos de rouquidão crônica e até mesmo de perda temporária da voz, o que leva os educadores a licenças temporárias constantes e a tratamentos prolongados para recuperar a saúde.

A auxiliar de coordenação Mariane dos Santos Pereira, de 48 anos, conhece bem essa realidade. Professora há quase três décadas, acumula nove anos na rede municipal e três no Colégio Marconi. Depois de todo esse tempo em sala de aula, foi afastada no dia 20 por problemas de perda auditiva. “Tinha uma deficiência na audição desde criança, mas fiz uma cirurgia corretiva e fiquei ótima. Mas, por causa do barulho, fui perdendo a audição novamente. Percebi isso claramente nos últimos sete anos”, diz. Mariane, que atualmente não consegue conviver com o excesso de barulho, defende que níveis altos de ruído, além de trazer danos à saúde, comprometem o aprendizado. “A escola não era barulhenta, mas foi tornando-se por causa do desenvolvimento da cidade. Por outro lado, o que parece é que hoje as crianças não têm tanto limite quanto antes. Essa combinação é muito ruim para o processo pedagógico”, diz a educadora, que precisa de acompanhamento fonaudiológico constante.

Além da perda auditiva, a professora e coordenadora do Colégio Marconi, Sueli Márcia Meireles Frank, afirma que teve alteração do timbre da voz depois que passou a trabalhar em sala de aula. “Tive perda de 80% nos sons agudos e frequentemente tenho perda de voz. Eu já falava alto e hoje percebo que a altura da voz é ainda maior”, afirma. A educadora conta que na Escola Municipal Francisca de Paula, onde leciona pela manhã, há outros profissionais afastados por problemas semelhantes. “Uma colega minha foi perdendo a voz até ser afastada.”

As doenças do aparelho fonador, segundo a professora chefe do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade Medicina da UFMG, Luciana Macedo de Resende, são resultado do esforço que o profissional precisa fazer para que a voz dele sobressaia em ambientes de muito ruído. “Se o professor precisa usar um volume de voz mais alto, ele pode apresentar uma disfonia ou rouquidão. Caso o esforço seja contínuo, ele vai acabar desenvolvendo um quadro crônico, que requer terapia fonoaudióloga ou até afastamento da função”, explica.

O professor Jaime Alves de Faria, que leciona há 21 anos, já sente essas mudanças na voz e decidiu recorrer à tecnologia para evitar problemas futuros. Vai comprar um microfone portátil. “Tenho rouquidão frequente, fruto de tantos anos de trabalho em escolas com muito barulho. Aqui na Paulo Mendes Campos a situação é melhor por conta do projeto acústico”, conta.

Mas o barulho não ameaça apenas a fala e a audição de quem trabalha nessas condições. A especialista Luciana Macedo afirma que “o ruído exerce influência em todo o corpo humano. Expostos a níveis muito altos, professores e alunos tendem a ficar mais agitados, nervosos e a chegar em casa cansados de tanto barulho”, ressalta. A secretária do Colégio Marconi, Eda Cabral Martins da Costa, de 52, sabe bem disso. Nos momento de lazer, não vai para ambientes fechados com grande número de pessoas, e em casa ouve a televisão em volume muito baixo. “Passo tanto tempo exposta ao barulho na escola que quero mais é ficar no silêncio quando saio daqui”, relata.

Baixa concentração
Os níveis de aprendizado também são afetados, segundo a doutora Luciana Macedo. De acordo com a especialista, sem concentração e com dificuldade para ouvir o professor em sala de aula, os alunos tendem a ter índices mais baixos de aprovação. Essa avaliação é confirmada na Escola Municipal Paulo Mendes Campos, que recebeu isolamento acústico.

“Percebemos hoje que o rendimento dos alunos melhorou e que os professores trabalham com autoestima mais elevada”, afirma o diretor da escola, Antônio Augusto Horta Lisa. As estudantes Paula Costa dos Santos, de 14, e Isabella Christine de Almeida, de 15, aprovam a mudança. “O barulho nos ambientes externos da escola é muito grande por causa do trânsito da avenida. Quando a gente entra na sala de aula, no entanto, nem parece que estamos bem de frente para um ponto de ônibus”, afirma Paula. A colega destaca os benefícios da reforma. “Com o condicionamento acústico a gente ganha em concentração. Meu pai estudou aqui antes da obra e conta que era um barulho infernal”, diz.

Segundo informou a Secretaria Municipal de Educação, apenas a Escola Paulo Mendes Campos tem condicionamento acústico. As demais 185 unidades de ensino do município não contam com esse isolamento e não há previsão para a implantação do sistema.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)