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Estado de Minas

Polícia segue rastro do crime organizado no interior de Minas

Em Pouso Alegre, no Sul de Minas, delegado admite que influência maior de facção de São Paulo obriga polícia a adotar ações especializadas e complexas contra quadrilhas


postado em 15/07/2012 07:05

Policiais vistoriam casa usada por traficantes em Pouso Alegre: Polícia Civil cobra mais delegados(foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
Policiais vistoriam casa usada por traficantes em Pouso Alegre: Polícia Civil cobra mais delegados (foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
Passos e Pouso Alegre – Na pele dos criminosos presos, em forma de tatuagens, ou nos muros das comunidades dominadas pelo crime, por meio de pichações, as marcas que identificam componentes de facções do crime organizado aparecem com frequência cada vez maior em cidades médias mineiras, de 100 mil a 250 mil habitantes. Antes tidas como pacíficas, essas cidades experimentam há alguns anos as ações das facções no tráfico e em crimes violentos como roubos a mão armada. Desde 2008, as autoridades de Passos, no Sul do estado, acompanham a ação de criminosos de um sindicato do crime paulista que vem ampliando o controle sobre o tráfico de drogas e promovendo ataques a rivais. Em Pouso Alegre, o aumento de 9% dos crimes violentos em 2011 motivou uma operação complexa para desarticular um braço da mesma facção, que seria responsável por movimentar 100 quilos de drogas por mês.

Em abril, a ação desencadeada pela Polícia Civil deteve 33 pessoas dessa organização, sendo seis deles paulistas e dois de Belo Horizonte. Na ação, policiais civis de Pouso Alegre disfarçados de mendigos foram à favela João XXIII, no Butantã, Zona Oeste de São Paulo, onde encontraram “Fabão”, o suposto líder da facção paulista na cidade do Sul de Minas. Ele foi o primeiro a ser detido e trazido de volta a Minas. “A entrada dessa facção já é sentida em grandes cidades do estado e principalmente aqui. Isso se deve à nossa proximidade com o estado de São Paulo e ao crescimento econômico intenso da região”, afirma o delegado regional de Pouso Alegre, Flávio Tadeu Destro.

De acordo com o policial, as ações de inteligência têm sido bem-sucedidas e outra quadrilha, a segunda mais importante com ligação com o crime organizado do estado vizinho, já está sendo monitorada. “O trabalho contra essa organização tem de ser muito meticuloso. Não são bandidos comuns. Têm uma divisão mais metódica de tarefas e obrigações, o que torna difícil que sejam pegos sem um trabalho especializado”, detalha o delegado.

Um dos pontos controlados por essa facção fica no Bairro São Geraldo. Casas abandonadas foram invadidas e servem de pontos para venda e consumo de drogas. Bandidos da facção usam os pontos para esconder armas e coordenar ações em outras áreas da cidade, como roubos a mão armada contra estabelecimentos comerciais e motoristas. “Os criminosos dessa facção são mais organizados e também conquistaram uma certa ‘moral’ entre os bandidos. Expulsaram pequenos traficantes locais e vão ocupando espaços”, alerta o delegado Flávio Destro, que considera que a violência na cidade, de cerca de 150 ocorrências de crimes violentos por mês, esteja dentro de uma média “aceitável”, mas admite que precisaria de pelo menos mais 10 delegados.

Avisos Em Passos, na praça da Unidade Básica de Saúde (UBS) Fortunato Borsari, no Bairro Califórnia, avisos pichados por criminosos nos muros soam como demonstração de poder e desafio às autoridades. Numa das paredes do antigo vestiário, os traficantes deixaram recado com tinta preta: “É a criança defendendo a boca que ele vende droga pra quadrilha rival não invadir. Bobeou, tomou nos peitos”, diz parte da inscrição. A liberdade com que traficantes agem assusta a população. A., de 25 anos, funcionária da unidade de saúde, diz que vive com medo. “É um horror isso daqui. Não adianta pôr grade que eles invadem e roubam qualquer coisa. Até estetoscópio do médico. Os viciados andam até no telhado da UBS para roubar”, conta.

O delegado de Pouso Alegre, Flávio Destro, diz que facção criminosa paulista toma lugar de traficantes locais(foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
O delegado de Pouso Alegre, Flávio Destro, diz que facção criminosa paulista toma lugar de traficantes locais (foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
Em Sete Lagoas, na Região Central do Estado, onde os homicídios cresceram 53,8% entre 2011 e 2010 (de 39 saltaram para 60) e os crimes violentos passaram de 600 para 790 no mesmo período (alta de 31%), a PM admite conviver com desafios diários. “A competência da segurança é ampla e temos problemas de infraestrutura na saúde, educação e desenvolvimento social, por exemplo, que não estão sendo combatidos e acabam influenciando o trabalho da polícia”, diz o comandante do 25º Batalhão de Sete Lagoas, tenente-coronel Sílvio Carvalho.

Segundo o comandante, outro problema é o aumento do tráfico de drogas e a reincidência. “Cada vez mais os jovens estão envolvidos com a venda de entorpecentes. E por conta da legislação que temos, muitas vezes o policial aborda um cidadão que já tem inúmeras passagens policiais, mas continua solto”, afirma. “Também faltam práticas de ressocialização para evitar que essas pessoas se envolvam novamente com o crime”, acrescentou. Sete Lagoas conta com 500 policiais para atender 12 municípios. Do total, 400 atuam na cidade, de 220 mil habitantes. Cerca de 15% do efetivo do batalhão  está em funções administrativas. “A polícia está trabalhando e as instituições funcionam, mas não somos uma cidade tranquila”, reconhece o comandante.


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