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Estado de Minas MEDO NAS ESTRADAS

Crimes aterrorizam BRs em Minas

Levantamento feito pela PRF a pedido do EM mostra que crimes se tornaram comuns nas BRs sob vigilância da corporação. São pelo menos três ocorrências por dia


postado em 02/07/2012 06:31 / atualizado em 02/07/2012 07:14

O caminhoneiro Bráulio foi assaltado quando transportava medicamentos. Por pouco não morreu nas mãos dos ladrões(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
O caminhoneiro Bráulio foi assaltado quando transportava medicamentos. Por pouco não morreu nas mãos dos ladrões (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

Há pouco mais de dois meses, o motorista de caminhão Bráulio Aquino, de 31 anos, foi interceptado por bandidos na BR-135, em Curvelo, Região Central, quando transportava uma carga de remédios para cidades do Norte do estado. A ação foi bem ríspida, com uso de armas e intimidação do condutor. O baú do caminhão foi arrombado, os assaltantes levaram os medicamentos e Bráulio foi deixado em Ouro Preto, encapuzado. Esse é apenas mais um exemplo da violência que se espalha pelas rodovias brasileiras, onde outro tipo de violência é mais comum: as batidas, capotamentos e outros acidentes que matam e ferem milhares de pessoas todos os anos.

A pedido do Estado de Minas, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) fez um levantamento dos 10 crimes mais registrados nas rodovias federais sob a responsabilidade da corporação. Os números comprovam que a situação de perigo vivida pelo caminhoneiro Bráulio é cada vez mais comum. Apenas contando os casos que não têm nenhuma relação com o trânsito, de janeiro a 31 de maio foram 583 ocorrências, que passam por furto de peças, roubo de veículos, assalto a estabelecimentos comerciais, entre outros. Isso significa que nos 6,4 mil quilômetros policiados pela PRF, a cada dia, ocorreram pelo menos três crimes desse tipo no estado. Nas ocorrências diretamente relacionadas com o trânsito foram 694 registros. Os campeões são o excesso de peso e direção sob a influência de álcool.

E os dados são ainda maiores, já que o levantamento feito aponta apenas os 10 crimes de maior incidência. Contando os demais, esse número cresce e ganha proporções que preocupam. Sofrendo até hoje os prejuízos do assalto na BR-135, já que não foi aceito de volta pela empresa para a qual prestava serviço, Bráulio critica a falta de segurança nas estradas. “A gente praticamente não vê viatura rodando de madrugada, horário em que fui surpreendido. Ainda tive o meu baú arrombado e gastei R$ 2,5 mil para consertar todas as avarias”, diz ele. Ainda segundo o motorista, a ação dos bandidos não parecia ser isolada. “Eles são profissionais. Já sabiam o que eu carregava e não titubearam”, completa.

Ele é uma das vítimas dos 69 assaltos à mão armada registrados pela PRF até maio, tipo de crime que ocupa o sétimo lugar no ranking. Uma posição acima está o assalto a estabelecimentos comerciais, com 77 ocorrências. Dois desses roubos ocorreram em um restaurante às margens da BR-040, em Itabirito, Região Central do estado. O último, semana passada, assustou uma das sócias do estabelecimento. “Três homens entraram de madrugada, quando já estávamos fechados, e renderam meu marido, que preparava as coisas para o início do dia. Foram até minha casa e levaram um dinheiro que não era para estar lá. Era um pagamento de um serviço que eu não tinha conseguido fazer”, diz a mulher, que preferiu não se identificar.

Há três meses, no primeiro ataque ao restaurante, os ladrões agiram durante o dia. Por volta das 11h, três homens entraram armados, mandaram os clientes deitarem no chão e fugiram com o dinheiro que estava no caixa. “Foi um susto muito grande. Falta segurança nas estradas”, critica a mulher. Neste caso, a PRF chegou a perseguir os criminosos, que conseguiram fugir por um matagal. “No assalto mais recente, quando a polícia chegou os bandidos já estavam bem longe”, completa a comerciante.


Parado próximo ao restaurante, o caminhoneiro Vander dos Santos, 38, conta que já teve dois pneus roubados em 2011, tipo de crime que atingiu o terceiro lugar no ranking em 2011, com 598 registros, e mantém a posição este ano, com 162 boletins. A experiência ruim fez o motorista concluir: “Dormir nessa região da BR-040 é dar chance ao azar. Direto pneus são roubados por aqui. Outra coisa de que os bandidos gostam são os discos de tacógrafo”, afirma ele.

Efetivo reduzido
Há um ano, o EM mostrou que o efetivo da PRF tinha sérias dificuldades em fiscalizar as estradas. Segundo a corporação, hoje o contingente em Minas conta com cerca de 800 agentes, dos quais 100 trabalham no setor administrativo. São 42 postos espalhados pelos 6,4 mil quilômetros de rodovias sob a responsabilidade da corporação. Para o professor da PUC Minas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Robson Sávio Reis Souza, se a PRF já tem dificuldades para impedir as infrações e prevenir acidentes, a situação é muito pior com relação aos crimes não relacionados com o trânsito. “Nossa malha é extensa e a limitação na fiscalização favorece os atos ilícitos. A resposta da PRF vem sempre depois dos eventos e isso só contribui para a falta de segurança”, diz o pesquisador.

Ainda segundo Robson Sávio, é preciso intensificar o combate às atividades criminosas nas rodovias. “Assim como temos boa parte da produção nacional circulando nas estradas, também temos armas, drogas, prostituição e exploração sexual de crianças e adolescentes, entre outras coisas. O Brasil precisa de uma estrutura integrada de informação, que não existe. Se essa estrutura fosse criada, a atuação da PRF seria potencializada e poderia haver uma diminuição nas atividades criminosas nas estradas”, completa o especialista.

De acordo com a inspetora chefe de comunicação social da PRF em Minas, Fabrizia Nicolai, a extensão da malha rodoviária dificulta o trabalho dos policiais. “Os bandidos cometem assaltos, acabam correndo para estradas vicinais e rapidamente conseguem escapar. É uma realidade dura”, reconhece a inspetora. Porém, segundo ela, os agentes da PRF recebem treinamento constante para atuar não só no trânsito, mas também com relação à prevenção dos crimes verificados no balanço divulgado pela corporação. Sobre os furtos de peças, ela faz um alerta: “Infelizmente, nesse meio temos casos de envolvimento dos próprios condutores. Alguns chegam a vender pneus dos caminhões e o boletim é registrado como furto”, completa a inspetora. Segundo a PRF, 750 agentes estão em treinamento em todo o país e Minas é um dos estados candidatos a ganhar reforço nos quadros, porém, sem data definida.

Análise da notícia - Rotas livres para os bandidos
Álvaro fraga

Traficantes, assaltantes de carros-fortes e quadrilhas especializadas em roubos de carga, entre outros tipos de criminosos, há muito se beneficiam da frágil ação policial nas rodovias brasileiras. Eles sabem que a possibilidade de serem parados numa blitz e presos é praticamente inexistente e se tornam cada vez mais ousados. A falta de ação do poder público, que não investe em aumento do efetivo da PRF, na compra de armamentos, veículos e de sistemas de comunicação, funciona como incentivo à audácia dos bandidos, capazes de transformar uma simples viagem numa situação de terror.

 


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