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Estado de Minas

Muitos crimes e pouca apuração no caso do Maníaco do Anchieta

Especialistas atribuem descaso na identificação de estuprador a falhas nas investigações, medo de vítimas e ausência de testemunhas. Delegada pede prisão preventiva de acusado


postado em 13/04/2012 06:00 / atualizado em 13/04/2012 08:16

Mais uma vítima procurou a Delegacia de Mulheres de BH para relatar agressão sexual na década de 1990 (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Mais uma vítima procurou a Delegacia de Mulheres de BH para relatar agressão sexual na década de 1990 (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)

Como pode um estuprador ficar livre pelas ruas durante mais de 20 anos cometendo tantos crimes? A resposta é uma mistura de circunstâncias e envolve falhas nas investigações, falta de denúncias e dificuldade para investigar um crime cujas testemunhas, na maioria das vezes, simplesmente não existem. Essas circunstâncias, no caso do ex-bancário Pedro Meyer Ferreira Guimarães, de 56 anos, acusado de fazer pelo menos 15 vítimas em Belo Horizonte desde 1990, deixaram marcas profundas em mulheres, violentadas ainda quando crianças e adolescentes. E também num homem que pode ter sido condenado injustamente por um estupro que não cometeu. Para profissionais da área criminal, esse é um dos delitos mais difíceis de se comprovar. Para quem sofreu o problema, parcela da culpa pode ser atribuída à ineficiência e o sucateamento do sistema de segurança pública.

A chefe da Divisão Especializada de Atendimento da Mulher, do Idoso e do Portador de Deficiência, delegada Margaret de Freitas Assis Rocha, encaminhou ontem o pedido de prisão preventiva do acusado. Na segunda-feira, outras três mulheres deverão fazer o reconhecimento do suspeito. Mais uma mulher procurou ontem a delegacia para relatar ter sido atacada, na década de 1990, por um homem semelhante ao suspeito. Esta foi a terceira vítima que procurou a polícia espontaneamente.

Apesar da reviravolta do caso, parente de uma das vítimas, que pediu para não ser identificado, está descrente e convicto de que o sistema não funciona por falta de mão de obra qualificada, de equipamento e de treinamento. “A polícia não estava preparada na década de 1990 e não está agora. Tanto que condenaram o homem errado. Não vejo perspectiva de outras famílias não passarem pelo que passamos”, desabafa, ao se referir ao aposentado Paulo Antônio da Silva, de 66 anos, condenado por dois estupros em 1997.

“Na época, o irmão do Paulo me procurou, porque acreditava na inocência dele. Levei foto para a menina reconhecê-lo e ela disse que não era o criminoso. Mas ela identificou o homem que está preso hoje num retrato falado, que outra pessoa já tinha feito. Ou seja, na época, todos esses casos já existiam e a polícia não conseguiu solucionar”, diz. “Cheguei até a pagar gasolina para viatura policial ir atrás do suspeito. Depois de dois anos de investigação, queriam fazer outro retrato falado e, como recusei devido ao estado psicológico da menina, disseram para assinar o arquivamento. Não acho que a falha seja das pessoas, mas do sistema. Não têm nada, como vão trabalhar?”, questiona.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
Dificuldade

O presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Adilson Rocha, concorda com a falta de investigação. Ele defende a criação de uma delegacia para apurar exclusivamente crimes contra a mulher e com setor especializado em casos de estupro. “Esse é um crime difícil de ser apurado, porque fica restrito ao agente e à vítima e, normalmente, é cometido em local ermo e escuro, o que dificulta até o reconhecimento do suspeito. No caso desse homem, não fosse a vítima encontrá-lo, morreria sem ser incomodado. É a absoluta falta de estrutura do Estado para apuração e isso é um incentivo para a prática de mais crimes. A Polícia Civil é uma instituição sucateada e sem a menor condição de investigar”, acrescenta.

Promotor do 2º Tribunal do Júri, Francisco de Assis Santiago pondera: “Não se pode atribuir o problema apenas à falta de investigação. Erradas também são as vítimas ao não relatarem o crime, que normalmente não tem testemunha. O medo das vítimas está muito presente e, se não houver um reconhecimento formal, fica muito difícil esclarecer. A polícia sozinha consegue detectar um número muito pequeno. A maioria não dá queixa por medo e vergonha, receio de ser mais uma vez vítima da sociedade, de ficar estigmatizada”, acrescenta.

Denúncia

A chefe da Divisão Especializada de Atendimento da Mulher, do Idoso e do Portador de Deficiência, delegada Margaret de Freitas Assis Rocha, diz que a investigação é demorada e difícil, mas não impossível. “É um crime de autoria desconhecida e não há uma mecânica ou motivação para ele, como no homicídio. As vítimas são escolhidas de maneira aleatória”, ressalta. A delegada afirma que, entre as oito mulheres que já reconheceram o suspeito, foi feita denúncia e aberto inquérito em apenas um caso. “Muitas vítimas não denunciaram na época e contamos com a sorte de ele (Pedro Meyer) ter sido reconhecido na rua para dar início a todas essas investigações”, diz.


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