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Estado de Minas

Robô começa a fazer o escaneamento das imagens esculpidas por Aleijadinho em MG


postado em 19/11/2011 06:00 / atualizado em 19/11/2011 07:01

Robô começa a fazer o escaneamento em 3D das imagens esculpidas por Aleijadinho expostas no Santuário do Bom Jesus do Matosinhos(foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)
Robô começa a fazer o escaneamento em 3D das imagens esculpidas por Aleijadinho expostas no Santuário do Bom Jesus do Matosinhos (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)

Congonhas – Na tarde fria de ontem, com o céu cinza querendo desabar sobre a cidade depois de um dia ensolarado, Congonhas foi palco de um encontro inédito e histórico envolvendo duas gerações. Frente a frente, um robô usado na indústria automotiva de Minas e Amós, um dos 12 profetas esculpidos por Antonio Francisco Lisboa (1730-1814), o Aleijadinho, para o adro do Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos. O primeiro contato entre as partes, embora com uma distância de mais de 200 anos de “idade”, foi tranquilo, atraiu muita gente, despertou curiosidade nos visitantes e vai render bons frutos para esse conjunto barroco, reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Os resultados serão colhidos a partir da noite de segunda-feira e consistem na digitalização (3D) de sete peças de pedra-sabão – o serviço já foi feito manualmente nas demais – para, na sequência, permitir a produção de réplicas e melhor preservação do acervo. A previsão é de que tudo seja feito, no máximo, em cinco noites.

Eram 16h quando o caminhão da empresa Comau do Brasil, com sede em Betim e especializada em automação e gestão de ativos industriais, parceira da Unesco nessa empreitada, chegou ao adro do santuário, trazendo o robô NJ 110, já apelidado de “Profetinha”. Logo em seguida, começou o primeiro teste para verificar se o equipamento funcionaria e atenderia as necessidades da equipe. “Deu tudo certo, o robô atingiu sete metros e vai permitir o escaneamento das esculturas”, afirmou, com muito entusiasmo, o engenheiro mecânico Paulo Nascimento, coordenador pela Comau do projeto Profeta. Neste fim de semana, chega a Congonhas o professor Luciano Silva, do Grupo de Pesquisa em Visão Computacional , Computação Gráfica e Processamento de Imagem (Imago), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que vai fazer o trabalho de digitalização.

Esta é a primeira vez no mundo, segundo os especialistas, que um robô de linha de produção de automóveis é requisitado para atuar na preservação do patrimônio cultural. Segundo a Unesco, o objetivo é mapear cada uma das peças, conhecer o sistema construtivo, desenvolver pesquisas e garantir segurança integral ao acervo. Diferentemente dos profetas de pedra-sabão, que têm a cor cinza chumbo, o “Profetinha” é vermelho, de fabricação italiana e pesa 7 toneladas. Nascimento explicou que o equipamento permitirá segurança redobrada e agilidade no serviço. Enquanto a atividade manual feita anteriormente demandou montagem de andaimes, barracas e mais de dois meses, a tecnologia de ponta vai permitir que o trabalho seja realizado em menos de uma semana. Montado sobre um veículo tipo empilhadeira industrial com um manipulador telescópico, o Profetinha, munido de uma série de sensores, terá a máquina escâner na ponta para executar as tarefas.


3D O processo de escaneamento em três dimensões está sendo realizado desde o início do ano pelo Imago, autor de um sistema completo para reconstrução de objetos naturais e culturais, com reconhecimento internacional. Com o robô, será possível a digitalização das esculturas em locais de mais difícil acesso, como Amós, Abdias, Habacuc e Nahum, que ficam nas laterais. “O uso da tecnologia de automação permite maior precisão e acessibilidade no mapeamento dos profetas”, disse Nascimento. A previsão de é que todo o trabalho fique pronto em dois anos, devendo as réplicas ficar na reserva técnica do Memorial Congonhas/Centro de Referência do Barroco e Estudo da Pedra, fruto da parceria entre Unesco, Prefeitura de Congonhas e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com investimento de R$ 15 milhões e inauguração prevista para 2012.

A chegada do robô atraiu olhares de moradores e visitantes. Acompanhado da família e de amigos, o professor Márcio Soares, do Rio de Janeiro (RJ) viu o contraste entre as duas tecnologias – a barroca e a outra, de última geração. “Acho que Aleijadinho foi ainda de mais vanguarda do que o robô, pois trabalhou com a sua arte e poucos recursos”, afirmou. O presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, Maurício Geraldo Vieira, disse que se trata de uma medida excelente para garantir a preservação do acervo colonial que encanta o mundo. O guia de turismo Marcelo Moura Maciel viu na redução do tempo um grande trunfo: “O santuário ficava muito feio com aqueles andaimes. Agora vai ficar melhor”.

Sem substituição

O trabalho, segundo a Unesco, não se relaciona à substituição das esculturas originais, prejudicadas e ameaçadas pelo tempo e poeira de mineração, pelas cópias. Eles explicam que se um dia ocorrer algum dano a um dos profetas, num ataque de vandalismo, mesmo que haja segurança no local, haverá condições de se fazer a restauração sem problemas e com total fidelidade. Além disso, a escultura em fibra de vidro poderá participar de exposições em qualquer lugar.

De acordo com informações da Unesco, dos cinco profetas já escaneados manualmente, dois já entraram na “linha de produção” e ganharam réplicas. O primeiro foi o profeta Joel, localizado na fila do alto, no lado direito da basílica, que foi duplamente “clonado” em fibra de vidro, pó de pedra e resina, no tom cinza escuro, e outro em gesso, e o segundo Jonas. Cada um demandou quatro meses entre a fase de escaneamento e digitalização, a cargo da equipe do professor Luciano Silva. A reprodução de três dos profetas já tem recursos assegurados, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e há autorização para captaçãode verbas para a execução das demais réplicas. O projeto será apresentado terça-feira, às 14h, na Escola Municipal Fortunata de Freitas Junqueira, que fica na Praça Santo Afonso, 90.

Entenda o caso

1800 a 1805 – Aleijadinho esculpe os 12 profetas para o adro do Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas
1938 – O conjunto do santuário é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Décadas de 1950 a 1970 – São feitos moldes e réplicas dos profetas, mas a maioria se perde ou sofre degradação
Início da década de 1980 – O instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) promove limpeza mecânica dos profetas, com técnicas não mais usadas (escova de náilon, sabão de coco etc.)
1985 –Conjunto do santuário é reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco)
1996-1998 – Numa parceria Brasil–Alemanha, entra em ação o Projeto Ideas, para estudo de degradação dos materiais pétreos e edificações históricas. Começa a ser usado um biocida para limpar as esculturas e evitar lesões e ataque principalmente de líquens
2002-2003 – Surge a polêmica de substituição dos profetas originais pelas réplicas, devido ao ataque de líquens, fungos e outros micro-organismos. Em 2003, é lançado o projeto de construção do Museu do Barroco, que, com o tempo, se tornou Memorial Congonhas/ Centro de Referência do Barroco e Estudo da Pedra
2011 – Com a chancela da Unesco, fica pronta a primeira réplica, a do profeta Joel

PALAVRA DE ESPECIALISTA

PAULO NASCIMENTO, Engenheiro mecânico e coordenador do projeto Profeta, da Comau do Brasil

Integridade das obras
“O sistema é o seguinte: um manipulador telescópico, equipamento utilizado para manipulação e içamento de cargas, posicionado em frente ao adro do memorial, irá erguer o robô até a altura dos profetas. O equipamento, com escâner 3D adaptado em sua extremidade, percorrerá automaticamente toda a superfície das obras e os dados coletados serão enviados a um computador que reúne as informações e imagens captadas. Isso vai gerar uma cópia digital em altíssima resolução das esculturas. Para garantir a segurança e integridade das obras, sensores a laser foram desenvolvidos para impedir que o robô ultrapasse um limite de segurança dos profetas. O processo será todo executado à noite para garantir a luminosidade uniforme na coleta das imagens”


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