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Estado de Minas

Robô será usado na digitalização de esculturas barrocas de Aleijadinho em Congonhas

Equipamento da indústria automobilística vai ser usado também para produção de réplicas e segurança de acervo


postado em 14/10/2011 07:13 / atualizado em 14/10/2011 07:16

(foto: Divulgação )
(foto: Divulgação )
Encontro inédito da arte barroca com a tecnologia de ponta do século 21. Um robô usado na indústria automotiva em Minas será fundamental na produção das réplicas dos profetas esculpidos por Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), o Aleijadinho, para o adro do Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas, na Região Central. Com um scanner acoplado ao equipamento, os técnicos responsáveis pelo serviço poderão mapear e digitalizar – com mais precisão milimétrica, velocidade, melhor resolução e sem risco de danos ao acervo datado entre 1800 a 1805 – sete das 12 peças.

As esculturas ficam nas laterais do adro, de mais difícil acesso e com partes só alcançadas mesmo pelo robô. “É um método seguro. Estamos fazendo vários estudos de viabilidade e reunindo todas as autorizações dos órgãos de defesa do patrimônio”, diz a diretora de Cultura da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Jurema Machado.

A expectativa é de que o escaneamento dos originais de pedra-sabão, com uso do robô, comece no mês que vem. No dia 24 haverá uma reunião em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para tratar dos últimos detalhes do projeto, com a presença dos envolvidos nessa nova etapa de reprodução das peças reconhecidas, desde 1985, como patrimônio cultural mundial. A iniciativa de fazer as réplicas é da Unesco e tem o objetivo de mapear cada uma, conhecer o sistema construtivo, desenvolver pesquisas e garantir segurança integral ao acervo.

O trabalho, segundo os especialistas, não se relaciona à substituição das esculturas originais, prejudicadas e ameaçadas pelo tempo e poeira de mineração, pelas cópias. Eles explicam que, se um dia ocorrer algum dano a um dos profetas, num ato de vandalismo, mesmo que haja segurança no local, haverá condições de se fazer a restauração sem problemas e com total fidelidade. Além disso, a escultura em fibra de vidro poderá participar de exposições em qualquer lugar.

LINHA DE PRODUÇÃO

Aleijadinho viveu em Congonhas entre 1796 e 1805 e deixou na cidade um dos maiores conjuntos de arte barroca do mundo, com 66 imagens esculpidas em cedro, seis relicários e 12 profetas em pedra-sabão. De acordo com informações da Comau do Brasil, com sede em Betim e especializada em automação e gestão de ativos industriais, será a primeira vez que um robô automotivo vai atuar na preservação de um bem cultural. A empresa, do Grupo Fiat, cederá gratuitamente o equipamento de origem italiana.

A diretora da Unesco explicou que cinco profetas já foram escaneados manualmente, sendo montados andaimes para execução da tarefa. Desse grupo, dois já entraram na “linha de produção” e ganharam réplicas. O primeiro foi o profeta Joel, localizado na fila do alto, no lado direito da basílica, que foi duplamente “clonado” em fibra de vidro, pó de pedra e resina, no tom cinza escuro e em gesso, e o segundo, Jonas. Cada um demandou quatro meses entre a fase de escaneamento e digitalização, a cargo da equipe do professor Luciano Silva, do Grupo de Pesquisa em Visão Computacional , Computação Gráfica e e Processamento de Imagem (Imago), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e a reprodução final, desenvolvida num ateliê perto do santuário. Outro lado importante está na obtenção de imagem tridimensional computadorizadas das peças.

Jurema explicou que a reprodução de três dos profetas já tem recursos assegurados, via Lei Federal de Incentivo à Cultura. “Já temos autorização para a execução das demais réplicas, e estamos partindo para a captação de verbas”, afirmou a diretora. A previsão é de que todo o trabalho fique pronto em dois anos, devendo as réplicas ficar na reserva técnica do Memorial Congonhas/Centro de Referência do Barroco e Estudo da Pedra, fruto da parceria entre Unesco, Prefeitura de Congonhas e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com investimento de R$ 15 milhões e inauguração prevista para 2012.

Faxina nas esculturas

O estado de conservação dos profetas chama a atenção de quem visita o santuário, principalmente pela crosta escura que cobre a pedra-sabão. O superintendente do Iphan em Minas, Leonardo Barreto de Oliveira, informou ontem que a limpeza de todo os profetas, que ocorre a cada cinco anos e estava prevista para agora, não será mais feita de uma vez. “Vamos fazer por etapas, de dois em dois meses, seguindo o cronograma de execução das réplicas. Para fazê-las, é preciso que a escultura esteja bem limpa e assim não precisaremos repetir o serviço. Faremos um por um”, explicou. A limpeza usa um biocida para evitar o ataque de líquens, fungos e outros microorganismos.

Entenda o caso

De 1800 a 1805, Aleijadinho esculpe os 12 profetas para o adro do Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas;

Em 1938, conjunto do santuário é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan);

De 1950 a 1970, são feitos moldes e réplicas dos profetas, mas a maioria se perde ou sofre degradação

No início da década de 1980, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) promove limpeza mecânica dos profetas, com técnicas não mais usadas (escova de náilon, sabão de coco etc.)

Em 1985, conjunto do santuário é reconhecido como patrimônio cultural mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco);
De 1996 a 1998, numa parceria Brasil-Alemanha, entra em ação o Projeto Ideas para estudo de degradação dos materiais pétreos e edificações históricas. Começa a ser usado um biocida para limpar as esculturas e evitar lesões e ataque principalmente de líquens;

De 2002 a 2003, surge a polêmica de substituição dos profetas originais pelas réplicas, devido ao ataque de líquens, fungos e outros micro-organismos. Em 2003, é lançado o projeto de construção do Museu do Barroco, que, com o tempo, se tornou Memorial Congonhas/Centro de Referência do Barroco e Estudo da Pedra;

Em 2011, com a chancela da Unesco, fica pronta a primeira réplica, a do profeta Joel.


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