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Estado de Minas

Esculturas dos profetas de Aleijadinho expostas em Congonhas ganham réplicas

As cópias são uma iniciativa da Unesco, responsável pelo reconhecimento do conjunto como patrimônio cultural mundial em 1985, e não serão postas no lugar das originais


28/08/2011 07:11 - atualizado 28/08/2011 08:06

Deise Cavalcante, arquiteta da empresa que fez os moldes dos profetas
Deise Cavalcante, arquiteta da empresa que fez os moldes dos profetas (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press. Brasil)


Congonhas –À imagem e semelhança da criação original, começam a sair da fôrma as réplicas dos 12 profetas esculpidos por Antonio Francisco Lisboa (1730-1814), o Aleijadinho, entre 1800 e 1805, para o adro do Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas, na Região Central de Minas. O serviço desenvolvido num ateliê perto do santuário, por iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), responsável pelo reconhecimento do conjunto como patrimônio cultural mundial, em1985, não ressuscita a velha polêmica de substituir as esculturas pelas cópias. Longe disso. O objetivo é fazer o mapeamento de cada uma, conhecer o sistema construtivo, desenvolver pesquisas e garantir segurança integral ao acervo.

 

O primeiro deles, Joel, localizado na fila do alto, no lado direito da basílica, está duplamente pronto, ganhando reprodução em fibra de vidro, pó de pedra e resina, no tom cinza escuro, e outro em gesso. O segundo da linha de produção é Jonas, que já está moldado em silicone e, a exemplo de Joel, esperou quatro meses para entrar em cena e receber o olhar atento dos técnicos. “Se um dia alguém causar dano a um dos profetas, num ataque de vandalismo, mesmo que haja segurança no local, haverá condições de se fazer a restauração sem problemas e com total fidelidade. Além disso, a escultura em fibra de vidro poderá participar de exposições em qualquer lugar”, informa a coordenadora do setor de Cultura da Unesco no Brasil, Jurema Machado.

 

No início da noite de sexta-feira, ela viu pela primeira vez – e aprovou – a réplica do profeta na companhia do presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, e do superintendente do órgão em Minas, Leonardo Barreto de Oliveira. As reproduções dos 12 profetas vão ficar na reserva técnica do Memorial Congonhas/Centro de Referência do Barroco e Estudo da Pedra, fruto da parceria entre Unesco, Prefeitura de Congonhas e Iphan, com investimento de R$ 15 milhões e inauguração prevista para o primeiro semestre de 2012. Em visita às obras do memorial, Luiz Fernando disse que o cronograma está normal e que o local será um centro de excelência com equipes internacionais e gestão compartilhada entre Unesco, prefeitura local e Iphan.

 

Análise

No ateliê trabalham as equipes contratadas pela Unesco para confecção dos moldes e réplicas. A arquiteta e especialista em patrimônio Deise Cavalcanti Lustosa revela que as pesquisas para o projeto iniciaram-se há mais de três anos e, nesse período, houve apoio decisivo do reitor do santuário, padre Benedito Pinto da Rocha. Antes de começar a execução, em setembro de 2010, foi contratado um geólogo da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) para analisar a situação dos monumentos de pedra-sabão e afastar eventuais surpresas. A primeira etapa consistiu na higienização dos dois profetas e basta prestar atenção em Joel e Jonas para ver que, realmente, eles estão bem mais limpos que os demais.

Depois da limpeza, foi aplicado um desmoldante (camada de proteção sobre a escultura) e feito o molde com silicone líquido, num processo que durou dois meses. Finalmente, a equipe fez a contrafôrma ou capa em silicone de vidro. Na sexta-feira pela manhã, o professor da Escola de Belas Artes da UFMG João Augusto Cristeli, integrante da equipe, tirou os parafusos da contrafôrma de Jonas e mostrou as placas de silicone já endurecido que darão forma aos “novos profetas”.

Em outra sala do ateliê, Deise mostrou a réplica em gesso, que ficará na reserva técnica do futuro memorial. “Temos gravados na superfície do gesso toda memória da peça, como o encaixe dos blocos, marcas feitas por visitantes (nomes, datas etc.), lesões e outras agressões ao longo dos anos. É como se fosse um raios x, um decalque da original”, afirma. Nas décadas de 1950 a 1970, moldes e réplicas dos profetas foram feitos por um especialista, mas a maior parte se perdeu e acabou degradada, sem chance de uso na atualidade.

Saiba mais

Semana do Aleijadinho


Antonio Francisco Lisboa viveu em Congonhas entre 1796 e 1805 e deixou na cidade um dos maiores conjuntos de arte barroca do mundo, com 66 imagens esculpidas em cedro, seis relicários e 12 profetas em pedra-sabão. Para comemorar o nascimento do mestre do barroco (29 de agosto de 1730), Congonhas promove até sexta-feira a Semana do Aleijadinho, parceria da prefeitura local e Fundação Clóvis Salgado. Na programação, há entrega de comendas, palestras, oficina com o artista plástico Luciomar Sebastião de Jesus e outras atividades culturais para estudantes, professores e demais interessados. Segundo os organizadores, o objetivo do festival, que ocorre há mais de 20 anos, é fortalecer a memória e a identidade do mestre, para que novas gerações conheçam seu trabalho e a importância dele na história. “Em outros lugares, Aleijadinho foi arquiteto, escultor, santeiro e ornamentista, mas em Congonhas ele atuou apenas como escultor”, orgulha-se Luciomar.

História do santuário de Congonhas
1800 a 1805
Aleijadinho esculpe os 12 profetas para o adro do Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas

1938
Conjunto do santuário é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

Décadas de 1950 a 1970
São feitos moldes e réplicas dos profetas, mas a maioria se perde ou sofre degradação

Início da década de 1980
Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) promove limpeza mecânica dos profetas com técnicas não mais usadas (escova de náilon, sabão de coco etc.)

1985
Conjunto do santuário é reconhecido como patrimônio cultural mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco)

1996-1998
Numa parceria Brasil-Alemanha, entra em ação o Projeto Ideas para estudo de degradação dos materiais pétreos e edificações históricas. Começa a ser usado um biocida para limpar as esculturas e evitar lesões e ataques principalmente de líquens

2002-2003
Surge a polêmica de substituição dos profetas originais pelas réplicas devido ao ataque de líquens, fungos e outros micro-organismos. Em 2003, é lançado o projeto de construção do Museu do Barroco, que com o tempo se tornou Memorial Congonhas/Centro de Referência do Barroco e Estudo da Pedra

2011
Com a chancela da Unesco, fica pronta a primeira réplica, a do profeta Joel


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