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Estado de Minas Bairro Anchieta

Morador de BH resiste à especulação imobiliária e cultiva mudas para doação


27/06/2011 06:07 - atualizado 27/06/2011 06:53

Para Ernani Façanha di Latella, arrumar cuidadosamente sobre o muro os pequenos vasos, frutos do amor à natureza e do carinho com a terra, faz parte de um 'ritual de felicidade'
Para Ernani Façanha di Latella, arrumar cuidadosamente sobre o muro os pequenos vasos, frutos do amor à natureza e do carinho com a terra, faz parte de um "ritual de felicidade" (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Bem que parece ter saído das telas do cinema, mais precisamente de UP – Altas aventuras, a história do advogado aposentado Ernani Façanha di Latella, morador do Bairro Anchieta, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Assim como o simpático protagonista da animação da Disney/Pixar, o paraense de 84 anos resiste bravamente, há tempos, à especulação imobiliária. Tudo para manter de pé a casa, erguida com o próprio suor nos anos 1960. “Daqui, só saio morto. Para o céu ou para o outro lugar. Quem vai saber?”, brinca.

A pressão é grande e a moradia de Ernani já está sufocada por edifícios no quarteirão da Rua Grajaú. “Chegaram a comprar a casa ao lado, mas precisavam da minha para o tamanho do prédio que pretendiam levantar. Não vendi. Não vendo. Então, eles tiveram que passar o imóvel”, conta, com orgulho. Mas não é só pela brava resistência que o descendente de italianos é assunto no bairro. Di Latella não só impede que novo arranha-céu desponte em seu lote como ainda, há seis meses, distribui, de graça, mudas de árvores e flores.

O versinho, em placa improvisada, fica à vista dos passantes: “Mudas, jardim e pomar. É sua. Pode levar.” Desde o fim do ano passado, Ernani cultiva mudas para doação. Um ritual de felicidade: passa as tardes trabalhando em pequeno vasos recortados, feitos de caixas vazias, potes de margarina e garrafas de plástico, para, na manhã seguinte, deixá-los sobre o muro que divide o lote da rua. “O pessoal pega. E quando não tem, eles tocam a campainha e pedem. Vem gente até de outras regiões da cidade. Já estão ficando acostumados”, conta, feliz com resultado da boa ação.

As mudas são, em grande maioria, de árvores frutíferas e de flores. No pequeno quintal, de poucos metros quadrados, há limão-capeta, graviola, pêssego, jabuticaba, acerola, manacá, beijinho, camarão (amarelo e vermelho), orquídea, antúrio e samambaia. Há até quem encomende. “Acabei de terminar aquele vaso de beijinhos. Uma senhora pediu que eu preparasse um buquê. Faço isso pelo prazer de ajudar. Gosto de fazer com que as pessoas tenham plantas em casa.”

Ernani fala com tristeza das árvores que não dão mais frutos por causa das sombras dos prédios. Especialmente, os pés de graviola e de figo. “O figo tive que arrancar. O espaço é pouco, tenho que aproveitá-lo da melhor maneira”. Dono de pedacinho do mundo, o jardineiro discorre com consciência sobre a importância da preservação da natureza. Mostra-se indignado com a devastação das matas: “Estão acabando com o planeta. O desmatamento na Amazônia é uma vergonha. E por que não tomam providências? Porque há muita gente se beneficiando disso. É uma roubalheira sem fim neste país. É corrupção para todos os lados”. Di Latella, advogado, se diz decepcionado com a Justiça, com as brechas e descumprimentos das leis. “É triste dizer isso, mas, neste país, os desonestos sempre levam vantagem.”


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