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Estado de Minas Memória restaurada

Conjunto IAPI é o primeiro alvo do programa "Adote um bem cultural"


13/04/2011 06:00 - atualizado 13/04/2011 06:17

Além dos nove blocos de habitações, com as paredes e pintura desgastadas, revitalização vai se estender à escola, igreja e quadra esportiva
Além dos nove blocos de habitações, com as paredes e pintura desgastadas, revitalização vai se estender à escola, igreja e quadra esportiva (foto: Fotos: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)


As paredes estão descascando, a pintura desgastada e o acabamento deteriorado. Mesmo assim, ele continua sendo um símbolo da arquitetura moderna de Belo Horizonte e começa a ganhar, a partir de quarta-feira, uma cara nova. Depois de 34 anos de espera, o conjunto do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI), às margens da Avenida Antônio Carlos, no Bairro São Cristóvão, Região Noroeste da capital, vai ser revitalizado e pintado por meio de parceria entre a prefeitura, a AkzoNobel, responsável pelas Tintas Coral, Sindicato do Comércio Varejista de Material de Construção (Sindimaco) e seis empresas de construção.

A iniciativa é a primeira do programa Adote um bem cultural, da PBH, destinada a restaurar e conservar o patrimônio da cidade, por meio de parcerias com o setor privado. “Cada vez mais, somos cidadãos do mundo, mas o ambiente que nos circunda continua sendo o mais importante e é por isso que temos de cuidar dele com muito carinho. A revitalização do IAPI é um marco e certamente outras iniciativas semelhantes virão”, destacou ontem o prefeito Marcio Lacerda.

Simulação aérea mostra como deverá ficar, daqui a 14 meses, complexo de edifícios inaugurados pelo então prefeito de BH, Juscelino Kubitschek. Abaixo, detalhe da nova pintura de um dos prédios
Simulação aérea mostra como deverá ficar, daqui a 14 meses, complexo de edifícios inaugurados pelo então prefeito de BH, Juscelino Kubitschek. Abaixo, detalhe da nova pintura de um dos prédios (foto: AkzoNobel/Divulgação)
Além dos nove edifícios que compõe o conjunto, o colégio, a Igreja de São Cristóvão, e a quadra esportiva que funcionam dentro do complexo vão ganhar novo acabamento. A cor escolhida para trazer mais vida ao IAPI foi o azul, inspirada na paleta do artista plástico Cândido Portinari. “O azul sempre esteve ligado ao povo mineiro e Portinari gostava bastante. Ele tem uma frase bem interessante sobre isso: ‘Até o céu caminhemos de mãos dadas pelo azul. Perto das estrelas mais luminosas". Percebemos uma ansiedade muito grande por parte da população que lá reside por essa iniciativa. É um projeto do modernismo brasileiro, obra do então prefeito JK, e por isso que, pela revitalização , a gente não só leva cor para a vida das pessoas, como resgata a cultura e a história de Belo Horizonte”, enfatiza Carlos Alberto Piazza, diretor de comunicação da AkzoNobel para América Latina.

A revitalização do conjunto faz parte do Tudo de cor para você, desenvolvido pela Coral, que tem renovado cartões-postais de várias cidades do país. Um dos mais recentes foram 42 casas do Centro Histórico de Ouro Preto.

Satisfação

Quem mais está comemorando a nova fase do IAPI são os moradores. Gente como o aposentado Walter Freimann, de 78 anos, que vive há duas décadas no local. Ele confessa que estava um pouco descrente das obras e que não vê a hora dos prédios ganharem cara nova. “Já tem umas três eleições que estão prometendo e nunca sai. Precisa mesmo, olha como está tudo meio acabado. Já era tempo”, observa.

O presidente da Associação Comunitária do Conjunto Residencial São Cristóvão IAPI, Carlos Alberto Pinheiro de Mendonça Júnior, de 36 anos, que mora no local desde que nasceu, revelou que a luta foi árdua, mas os resultados vão valer à pena. “Em maio, o conjunto completa 64 anos e não deixa de ser uma celebração do aniversário. É tempo de alegria e esperança e com certeza vai contribuir para melhorar a dignidade e o bem-estar de toda os moradores”, destaca.

A instrutora de auto-escola Valdete Ribeiro, de 40, também nasceu no conjunto e só se mudou de lá para se casar. Para ela, a revitalização é sinônimo de progresso e todos estão muito satisfeitos. “Minha mãe era violinista da Rádio Inconfidência e funcionária do estado. Morou aqui por quase 50 anos. É um clima muito bom. Tenho parentes e vários amigos aqui e faço questão de manter a auto-escola nas redondezas para preservar esse contato. A pintura vai ser o máximo. O IAPI faz parte da história de BH”, lembra.

O fotógrafo aposentado Luiz de Sousa, de 69, que mora no local entre idas e vindas há 40 anos, conta que não troca o IAPI por nenhum lugar no mundo. “Gosto muito daqui porque é muito bem localizado, tem ônibus para todo canto. A gente cria um vínculo com os outros moradores, uma família mesmo. Já estava na hora da revitalização”, frisa.

Mesmo quem não mora, mas trabalha no IAPI, como a comerciante Cléo Ferreira, de 48, dona de uma locadora de vídeo e de uma mercearia, vê com bons olhos a nova fase. “Há muitos anos essas paredes não veem uma lata de tinta. Vai ser bom para todo mundo porque o ambiente é muito bom de morar e trabalhar e vai melhorar ainda mais”, anseia.

História
Um dos símbolos da industrialização da capital, o IAPI foi construído pela prefeitura em parceria com o instituto dos industriários. As obras foram iniciadas em 1944 e os prédios inaugurados em 1947, pelo então prefeito Juscelino Kubitscheck, logo depois da Conjunto Arquitetônico da Pampulha, mas os moradores só receberam as moradias três anos depois. O IAPI acabou sendo consequência da principal obra do governo JK na capital. Na época, a prefeitura iniciou a construção da Avenida Pampulha, hoje Antônio Carlos. Além da abertura da via, JK vislumbrou a construção do conjunto, incorporando a verticalização de prédios à cidade, para reduzir problemas habitacionais. Foi o primeiro empreendimento a usar blocos verticais na capital e também trazia como novidade as pontes flutuantes entre os edifícios, permitindo a circulação entre eles. O projeto é do arquiteto White Lírio Martins. Em 2007, o conjunto foi tombado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de BH.


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