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Estado de Minas

Brasil é campeão em atos violentos de alunos contra professores

Caso ocorrido na segunda-feira, em Santa Catarina, é um exemplo. Especialistas acreditam que solução não está só na escola


postado em 23/08/2017 11:48 / atualizado em 23/08/2017 11:59

Foto postada por Marcia Friggi, após ser agredida:
Foto postada por Marcia Friggi, após ser agredida: "Estou dilacerada porque me sinto em desamparo" (foto: Reprodução/Facebook)

As fotos que a professora Marcia Friggi, 51 anos — professora de português há 10 anos — postou, em uma rede social, refletem um a situação que não é isolada: o Brasil é líder em violência contra docentes, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

As imagens mostram o rosto dela desfigurado, com sangue, supostamente resultado da agressão de um aluno de 15 anos do Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) de Indaial (SC), na segunda-feira.

Segundo pesquisa da OCDE, 12,5% dos professores brasileiros disseram sofrer violência verbal ou intimidação de alunos, pelo menos uma vez por semana. O Brasil ocupa a primeira posição no ranking. Em segundo lugar aparece a Estônia com 11%, seguida pela Austrália com 9,7%.

A pesquisa foi realizada em 34 países, com a participação de 100 mil professores e diretores dos ensinos fundamental e médio.

Outra pesquisa mostra que mais de 22,6 mil professores foram ameaçados por estudantes e mais de 4,7 mil sofreram atentados à vida nas escolas. Os dados são do questionário da Prova Brasil 2015, aplicado a diretores, alunos e docentes do 5º e do 9º anos do ensino fundamental de todo o país.

A violência também ocorre entre estudantes: 71% dos mestres presenciaram agressões verbais ou físicas entre eles. As informações estão na plataforma Qedu.

Na postagem feita por Marcia Friggi, ela afirma que não sabe se voltará a dar aula. Segundo ela, depois de uma discussão em sala de aula, em que o aluno a teria insultado e jogado um livro nela, pediu para que o aluno se retirasse da sala.

Na diretoria, o aluno negou a versão da professora e a agrediu com tapas e um soco que abriu o supercílio e deixou o olho de Marcia inchado.

“Estou dilacerada por ter sido agredida fisicamente. (...) Estou dilacerada porque me sinto em desamparo, como estão desamparados todos os professores brasileiros. Estamos, há anos, sendo colocados em condição de desamparo pelos governos.

A sociedade nos desamparou”, desabafou. Em nota, a prefeitura de Indaial disse que a Secretaria de Educação e a Promotoria avaliarão o procedimento com relação ao aluno. “Após a ocorrência, a família do aluno e o Conselho Tutelar foram acionados até o Ceja. Devido ao tipo de agressão, o caso seguiu para a Promotoria da Justiça da Infância e da Adolescência”.

Referência


A presidente-executiva da organização Todos Pela Educação, Priscila Cruz, acredita que o primeiro passo é reconhecer que a escola sozinha não é capaz de prevenir a violência.

“Muitas vezes, essa é a referência em casa, na comunidade. É preciso trabalhar a cultura de paz nas escolas: motivar a solução não violenta de conflitos, propor oportunidades de vivenciar projetos em que soluções pacíficas são executadas, fazer com que eles se coloquem em soluções reais. Qualquer violência escolar não é um problema só da educação”.

Para a coordenadora executiva da Comunidade Educativa (Cedac), Roberta Panico, essa violência é uma reprodução do que ocorre fora da escola, mas há outro tipo de agressão praticada pela escola contra o aluno, da qual pouco se fala. “A sociedade está mais violenta. Ir para uma escola suja, quebrada, não aprender o que deveria, isso também é violência”.

Segundo Panico, a escola é brutal com quem não se encaixa em seus moldes. “Os mais indisciplinados, muitas vezes, são muito inteligentes, mas não se encaixam nas regras”, acredita.

“A escola desafia pouco esses alunos, intelectualmente. A juventude é uma idade de transgressão e a escola precisa transformar em uma transgressão positiva, em um envolvimento em trabalhos sociais. Esses alunos respondem bem a responsabilidades, eles se sentem valorizados”, analisa.


* Estagiária sob a supervisão de Leonardo Meireles


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