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Estado de Minas

Morar sozinho está cada vez mais e caro e exige planejamento financeiro

Deixar o ninho dos pais exige organização e renda ajustada


postado em 28/05/2017 06:00 / atualizado em 28/05/2017 08:35

Fernanda Amador partiu para a vida independente sem ter noção dos custos reais, e teve de rever o orçamento(foto: Ana Rayss/Esp. CB/D.A Press )
Fernanda Amador partiu para a vida independente sem ter noção dos custos reais, e teve de rever o orçamento (foto: Ana Rayss/Esp. CB/D.A Press )

Brasília – Independência, privacidade, sensação de liberdade e não ser obrigado a dar satisfação para outras pessoas podem até não ter preço, mas bancar todas as despesas domésticas tem. Morar sozinho é, geralmente, o primeiro passo concreto da vida adulta. Por mais que a vontade de viver essa experiência seja grande, a decisão deve vir junto ao planejamento financeiro para assumir as contas. Antes de sonhar em como será a decoração e em receber os amigos no novo lar, coloque os pés no chão e as despesas no papel.


Nessa nova etapa, muitos dos gastos que antes pareciam não existir passam a fazer parte da rotina: aluguel ou prestação de apartamento ou casa, condomínio, água, luz, telefone, internet, tevê a cabo e supermercado. Saber quanto custa cada serviço é essencial para fechar as contas.


“O primeiro passo é fazer uma lista com os preços de tudo. Se a renda não for suficiente, risque os itens que não são prioridade, até o dinheiro ser suficiente”, ensina o educador financeiro Adriano Severo, professor de finanças da Fundação Universidade Empresa de Tecnologia e Ciências (Fundatec). “É normal que haja uma queda no padrão de vida num primeiro momento”, complementa.


A organização é a chave para o sucesso na aventura de sair de casa, diz o especialista. “Os riscos são ter de voltar para onde morava, o que pode ser muito frustrante, ou cair em dívidas, o que é muito pior”, aponta Severo. Na lista de gastos principais e que mais pesam no bolso está a moradia, seja aluguel ou prestação de financiamento. “O indicado é que a despesa comprometa 40% da renda, mas se for uma situação provisória, pode ultrapassar um pouco essa faixa, desde que tenha um limite”, aconselha.


Não esqueça de incluir nas planilhas de controle gastos com saúde, como plano de saúde ou remédios, lazer, itens pessoais e prestações pendentes e, até mesmo, os custos com bichinhos de estimação, caso tenha um. Além disso, é muito importante que parte do salário seja destinada para reservas de emergência e para aposentadoria. “No começo, pode ser difícil manter uma poupança. Mesmo que seja pouco, poupe. Lembre-se de que você terá que arcar com custos de emergência também”, ressalta Severo.

“A pessoa deve ter cuidado redobrado e mais preocupação sobre o futuro quando mora sozinha”, recomenda José Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito). Ter a própria casa exige mudanças de hábitos de consumo, para não haver desperdício. “É importante reexaminar tudo, pois no fim do mês pesa no próprio bolso”, destaca Vignoli.

O especialista observa que, quando alguém vai morar sozinho, é necessário se adaptar à vida solitária em todos os sentidos, inclusive ao fato de não ter alguém para dividir as contas.

Experiência

A primeira experiência da social media Fernanda Amador, de 24 anos, não foi positiva. Há três anos, ela decidiu sair da casa dos pais para morar mais próximo à universidade. “Incomodava-me depender totalmente deles”, relembra. Motivada, fez as contas e, ainda com o salário de estagiária, foi morar em uma república. “Logo no primeiro mês, percebi que o dinheiro que eu achava que era suficiente, não dava. Eu fazia frilas em bares e lanchonetes para completar o orçamento”, conta.

Além disso, Fernanda revela que o clima entre as meninas que dividiam o lugar não era agradável e aos poucos todas foram saindo. “Era muito instável e eu, ainda estudante, não conseguia ter uma rotina financeira, o que atrapalhava tudo.”

Hoje, com mais experiência, Fernanda lida com as finanças da melhor forma possível. Morando com duas amigas, divide os gastos principais, como aluguel, água e luz, e anota as outras despesas coletivas em uma planilha compartilhada. “Vamos ao supermercado uma vez por mês juntas para comprar o básico em alimentos e limpeza. O verdurão é feito durante a semana, incluímos o valor na lista e dividimos no fim do mês”, explica.

Passeios e comida sob controle

 

Ter o próprio dinheiro proporciona sensação de mais liberdade para gastar, mas isso pode ser transformar num grande desafio ou em dor de cabeça. “Eu sei que se eu receber e gastar tudo ou muito em um passeio, vai faltar em algum momento. Não pode ocorrer de eu não ter dinheiro no fim do mês”, afirma a professora Denise Caixeto Borges, de 24, que desde os 15 não mora com os pais.

Durante os estudos, ela morou com parentes e amigos, e sempre com ajuda financeira.“Pela primeira vez, consegui um emprego que me possibilita morar realmente sozinha. Consigo bancar todas as contas”, comemora.

Apesar de nunca ter sido responsável por todos os gastos, os anos longe dos pais a prepararam para o atual momento. Para que nada saísse do planejado, Denise se programou antes de tomar a decisão final. Procurou um aluguel que coubesse no bolso, fez orçamento dos móveis que precisava comprar e delimitou a quantia que deve guardar por mês.

“Eu já tinha noção dos outros gastos e quanto ganharia. O aluguel vai comprometer um quarto do meu salário, mas em compensação vou economizar em gasolina, por morar próximo do meu trabalho. Outro quarto do salário é para a poupança. Com o resto tenho que me virar, mas sei procurar as coisas mais baratas e economizar”, afirma.

Do ponto de vista financeiro, cozinhar em casa é melhor. “Se quer ver o impacto disso no orçamento, faça a experiência de almoçar fora durante uma semana e em casa na outra”, recomenda José Vignoli, do SPC. Além disso, é necessário ter cuidado com o tamanho das embalagens e quantidades de produtos comprados a cada mês.

De acordo com levantamento do SPC Brasil, 56% das pessoas que moram sós preparam a própria comida. Contudo, muitos enfrentam dificuldade para evitar que alimentos estraguem na geladeira ou na despensa.

Myrian Lund, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), sugere atenção às promoções dos supermercados e recomenda que as pessoas determinem o valor a ser destinado às compras. Ela indica que as pessoas troquem as lâmpadas e revejam os custos com TV a cabo e serviços de assinatura. “Às vezes não percebemos os reajustes. O melhor é pagar mais barato”, aconselha.

Assim como a professora Denise Borges, quem sai de casa precisa mobiliar o novo lar. Roberto Piscitelli, professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB), recomenda a procura em lojas de móveis usados e a prática de juntar dinheiro para pagar à vista e conseguir descontos. “É um momento transitório e, geralmente, as pessoas não buscam luxo. Elas estão dispostas a sacrifícios. Se o imóvel não for mobiliado, compre aos poucos e pesquise muito”, sugere.

*Estagiárias sob supervisão da repórter Simone Kafruni


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