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Estado de Minas

Inflação atinge 8,59% em BH, dobro do centro da meta do governo

Somente em maio, os preços avançaram, em média, 1,06% na capital. Cesta básica já subiu 10,16% este ano


postado em 09/06/2015 06:00 / atualizado em 09/06/2015 07:26

A assistente administrativo Terezinha Magalhães se assustou com o preço da carne ontem, no Mercado Central de Belo Horizonte (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
A assistente administrativo Terezinha Magalhães se assustou com o preço da carne ontem, no Mercado Central de Belo Horizonte (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
A assistente administrativa Terezinha Magalhães, de 32 anos, se assustou com a disparada dos preços nos açougues, supermercados e sacolões de Belo Horizonte: “Está tudo caro! Há três meses, por exemplo, eu pagava R$ 17,90 no quilo do contrafilé. Agora pago R$ 24,90 (alta de 39%)”. O lamento dela foi constatado em duas pesquisas divulgadas ontem. Os resultados precisam ser analisados muito além dos números em si, pois o avanço generalizado dos preços impulsiona a taxa de juro, o que reduz crédito e consumo. A queda nas vendas, por sua vez, aumenta o desemprego e afugenta investimentos.

A primeira pesquisa mostra o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (Ipead-UFMG) e que, na prática, é a inflação oficial da cidade: o indicador subiu 1,06% em maio, totalizando 5,79% nos cinco primeiros meses de 2015 e 8,59% no acumulado dos últimos 12 meses. Em abril, o percentual havia sido de 0,55%.

O aumento dos preços fez com que a cesta básica na capital subisse 2,05% de abril para maio, chegando a R$ 359,30. No ano, a variação já chega a 10,16%. O tomate Santa Cruz continua como um dos vilões do indicador na cidade, com oscilação de 14,55% no acumulado dos últimos 12 meses, 120% em 2015 e 15,74% em maio. A batata inglesa, no mês passado, ficou 10,45% mais cara." A inflação em maio foi a maior para o mês desde 2004 (1,25%). A alta se deve ao reajuste na tarifa de água, mas também ainda é reflexo da alta na energia elétrica e da estiagem", disse a economista Thaize Martins, coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Ipead.O outro levantamento é uma espécie de inflação informal do São João. Aproveitando o início das festas juninas na cidade, o site Mercado Mineiro apurou que o valor de muitas mercadorias bastante consumidas na data encareceu dois dígitos. É o caso da embalagem de 500 gramas de um milho para canjica, cujo preço oscilou 27,86%, de R$2,62 para R$3,35. O de um pacote da mesma quantidade de amendoim torrado e moído avançou 19,09%, de R$ 5,08 para R$ 6,05.

A inflação oficial na capital no acumulado dos últimos 12 meses mostra que o indicador se distanciou do centro da meta (4,5%) estipulado pelo governo federal para todo o país no acumulado de 2015. Já o IPCA nacional será divulgado na quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O indicador também deve vir bem acima do centro da meta.

O grupo com a maior aumento nos preços em maio foi o de vestuário e complementos (3,67%). O valor das roupas no varejo da cidade foi o que mais assustou o auxiliar-administrativo Marcelo Costa, de 22. Morador de Fortaleza (CE), ele veio à capital para o casamento de uma amiga. “O preço das roupas aqui está muito alto. Camisas que eu pensei que custariam R$ 50 estão sendo vendidas a R$ 90”, disse o rapaz.

Os cearenses Jatalina Miqueli e Marcelo Costa acharam o custo de vida em BH muito mais alto que o de Fortaleza (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Os cearenses Jatalina Miqueli e Marcelo Costa acharam o custo de vida em BH muito mais alto que o de Fortaleza (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Ele veio na companhia de Jatalina Miqueli, de 25, que considerou cara a passagem de ônibus na cidade. “A tarifa dos coletivos em Fortaleza é de R$ 2,40. Aqui, R$ 3,10”.

CONSUMO A disparada dos preços de serviços e mercadorias preocupa o governo federal, porque uma das medidas para controlar a inflação é elevar os juros. Essa decisão, porém, ajuda a inibir o consumo, que já anda em baixa no país. Em BH, o indicador que mede a intenção de compra da população é medida pelo Índice de Confiança do Consumidor (ICC), que oscila de zero a 100 e quanto mais alto, maior a possibilidade de a pessoa gastar seu dinheiro no comércio. O indicador de maio, também medido pela Fundação Ipead, ficou em 37,2 pontos, o pior resultado da série histórica.

O ICC funciona como um termômetro para investimento de empresários em estoque e mão de obra, pois o indicador leva em conta a opinião dos consumidores sobre a possibilidade de realizarem compras nos próximos três meses. Com o ICC em baixa, os lojistas suspendem aportes e podem até reduzir o número de colaboradores.

“O cenário fica completamente desfavorável para o consumo, visto que esses fatores dificultam a tomada de crédito”, lamentou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci. Ele destaca que o setor atravessa uma fase delicada. Tanto que o varejo da capital encerrou o primeiro trimestre de 2015 com queda de 1,67% em comparação ao mesmo período de 2014.

“Esse recuo é resultado direto do aumento da inflação e dos juros. O poder de compra das famílias diminuiu. Com o aumento no custo de vida, os consumidores estão cada vez mais pressionados a reduzirem o consumo para manter os custos básicos. Restringem o supérfluo para evitar a inadimplência. Apesar desse momento de completa instabilidade econômica, a esperança é que, com todas as medidas que o governo vem tomando, a inflação e as taxas de juros recuem para que as vendas e a economia voltem a crescer”, deseja Falci.

Mercado prevê IPCA de 8,46% este ano

Brasília
– O quadro de deterioração das expectativas para o cenário econômico de 2015 está cada vez mais consolidado. No Relatório de Mercado Focus divulgado ontem, analistas do setor privado ajustaram mais uma vez para pior suas previsões para o rumo da atividade e da inflação. Pelos cálculos dos cerca de 100 profissionais consultados semanalmente pelo Banco Central, o IPCA deve fechar o ano em 8,46%. Foi a oitava revisão consecutiva para cima. Já para o Produto Interno Bruto (PIB) as estimativas só derretem. Estão agora em retração de 1,30%.

A alteração das projeções para a atividade está calcada em uma revisão mais drástica para a produção industrial, que, em apenas uma semana, mergulhou de -2,80% para -3,20%. Para 2016, a perspectiva é de melhora, ainda que tímida, tanto no campo da inflação quanto da economia, mas não houve alteração das previsões atualizadas ontem pelo BC. Os preços devem subir 5,50% – patamar em que se encontram há três semanas – e o PIB deve ter expansão de 1%, estimativa congelada nesse nível há dois meses.

A equipe de economistas da SulAmérica de Investimentos prevê justamente um avanço de 8,46% para o IPCA deste ano. A expectativa do economista-chefe da instituição, Newton Camargo Rosa, é de que os preços voltem a se comportar no ano que vem, atingindo a marca de 4,80%. Ainda que acima da meta de 4,50% perseguida pelo BC, a taxa aguardada para 2016 é bem mais amena do que a projetada para 2015.

Os porta-vozes da equipe econômica têm enfatizado que 2015 é um ano de transição. O BC já jogou a toalha em relação ao cumprimento da meta deste ano e diz que trabalha para que os efeitos trazidos pela alta das tarifas públicas e pelo câmbio não contaminem o índice do ano que vem. Na Fazenda, o foco agora é no aumento do caixa, seja por meio de cortes de gastos ou, principalmente, por alta de impostos.

Os preços administrados pelo governo devem ter elevação de 13,94% este ano, segundo os participantes do boletim Focus. A mudança de ontem foi um ajuste em relação à estimativa anterior para esse conjunto de preços, que estava em 13,90%. Para 2016, houve manutenção da previsão em 5,80%.

Para o câmbio, os economistas também não mexeram nas expectativas de cotação a R$ 3,20 no fechamento de dezembro e de R$ 3,30 um ano depois. O momento agora é o de aguardar os argumentos que levaram a diretoria do BC a aumentar mais uma vez a taxa básica de juros, a Selic, na semana passada. Desta vez, o avanço foi de 13,25% para 13,75% ao ano. Na pesquisa Focus, ficaram paralisadas em 14% e em 12% ao ano as projeções para a Selic de 2015 e 2016.


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