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Estado de Minas

Com disparada do dólar, preços do pão, das viagens internacionais e dos importados vão subir

Moeda dos EUA passa de R$ 3 ao longo do dia e fecha a R$ 2,981, maior valor em 11 anos e reduz ainda mais poder de compra do consumidor


postado em 05/03/2015 06:00 / atualizado em 05/03/2015 07:21

Com parte do trigo importada, produtos de padaria devem ter reajuste entre 15% e 20% caso cotação permaneça. Nas casas de câmbio, valor da divisa dos EUA chega a R$ 3,35(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press 9/4/14)
Com parte do trigo importada, produtos de padaria devem ter reajuste entre 15% e 20% caso cotação permaneça. Nas casas de câmbio, valor da divisa dos EUA chega a R$ 3,35 (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press 9/4/14)

Diante do impasse político para a aprovação das medidas de ajuste fiscal, o dólar acelerou a escalada nessa quarta-feira e passou dos R$ 3 na máxima do dia, fechando o pregão com alta de 1,80%, cotado a R$ 2,981. É a maior cotação desde 19 de agosto de 2004, quando atingiu R$ 2,987. No mercado futuro, a moeda chegou a R$ 3,245 por conta da expectativa de que o Brasil perca o grau de investimento se não conseguir impor austeridade fiscal. Nas casas de câmbio de Belo Horizonte, o dólar está ainda mais alto e já é vendido de R$ 3,16 a R$ 3,35. Com a disparada da moeda norte-americana, os impactos reais são a inflação mais alta e a perda do poder de compra dos brasileiros.

As famílias, que já estão com poder de compra menor por conta do aumento de preços administrados como energia e combustíveis, devem sentir no bolso essa alta do dólar. O consumidor brasileiro pode se surpreender com o aumento de preços de alguns produtos importados e ainda daqueles que são fabricados aqui, mas que utilizam insumos como o trigo, que vem de outros países. De acordo com o presidente do Sindicato e Associação Mineira da Indústria de Pães (Amipão) e do Sindicato das Industrias de Panificação (Sipe), José Batista de Oliveira, os empresários do setor ainda não sentiram os impactos da alta da moeda estrangeira por conta dos estoques reguladores dos moinhos que fornecem farinha para a indústria e ainda não repassaram o aumento. “Estamos apreensivos pois já recebemos o aumento da energia elétrica e agora do dólar. Vamos tentar repassar o mínimo possível para o consumidor final, mas nos próximos dias ele pode sentir uma alta entre 15% e 20% no preço dos produtos de padaria”, ressalta.

Nos supermercados, caso o dólar continue se valorizando, passando dos R$ 3, os preços vão subir. O superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues, afirma que o setor ainda trabalha com câmbio na casa de R$ 2,80, mas a expectativa é aumentar nos próximos dias se o governo não adotar medidas que desvalorizem a moeda estrangeira. Em Minas, dos produtos expostos nas gondolas de supermercado, uma média de 4% são importados, mas existem redes que chegam a ter mais de 70% dos produtos vindos do exterior. No país, a média fica na casa de 30%. Além disso, ele acrescenta que muitos insumos utilizados pela indústria brasileira são importados e essas devem repassar os custos para os supermercados que transferiram algum percentual da alta para os clientes. “A cesta básica, por exemplo, tem muitos produtos que são vendidos como commodities. E, se o dólar sobe muito, o produtor vai ter mais interesse em exportar e o preço no mercado interno também vai subir, atingindo também o consumidor final”, explica.

A venda de pacotes de viagens internacionais também devem sofrer impacto. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens de Minas Gerais (Abav-Minas), Antônio da Matta, entre março e abril o setor deve registrar queda de 10% nas vendas. Para driblar o aumento, ele afirma que o turista que pensa em fazer uma viagem ao exterior deve ficar atento as promoções de passagens aéreas. “A alta impacta e afugenta o turista brasileiro que pensa em sair do país, mas ainda assim é possível fazer viagens com preços em conta. Principalmente, se ele conseguir uma passagem na promoção, o que tem se tornado habitual com o aumento da oferta de voos”, completa.

Empobrecimento


Na avaliação de Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, a alta do dólar terá impacto direto no empobrecimento do país. “O poder de compra dos brasileiros fica menor porque aumenta a pressão nos custos dos produtos”, explicou. Campos Neto ressaltou, contudo, que a velocidade do repasse pode variar. “O Brasil está em recessão. Como a situação não está boa, comércio e indústria tendem a absorver esse maior custo. Mas isso enfraquece a economia, porque as margens de lucro das empresas, que já estão deprimidas, caem ainda mais”, sentenciou. Sem lucros, a tendência é as companhias demitirem funcionários.

A alta da moeda dos EUA vai afetar do preço do pão e das passagens aéreas a outros custos que estão estrangulando o orçamento das famílias brasileiras. As faturas de cartão de crédito das compras no exterior, sobre as quais incide o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6,38%, também disparam com o dólar alto. A energia gerada em Itaipu e consumida nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste é cotada em dólar e isso pode significar mais um aumento nas tarifas, que já subiram bastante desde 2014. As empresas também terão suas dívidas de US$ 210 bilhões, o maior patamar desde 2009, elevadas porque elas precisarão de mais reais para pagar juros e isso acaba sendo repassado aos consumidores.



Ameaças ao ajuste assustam


Brasília – O mercado financeiro reagiu fortemente ao veto do Senado, na noite de terça-feira, à Medida Provisória 669, que trata da desoneração da folha de pagamento. A MP, enviada ao Congresso Nacional na sexta-feira passada, alterava a alíquota de contribuição previdenciária sobre a receita bruta, de 1% para 2,5% na indústria e de 2% para 4,5% para os setores de serviços. Os objetivos do governo eram aumentar a arrecadação para arrumar as contas públicas e tentar recuperar um pouco de credibilidade para não ser rebaixado pelas agências de classificação de risco. Com a incerteza, os investidores correrram para a moeda norte-americana, pressionando a cotação do dólar.

Pela primeira vez no governo Dilma Rousseff, o Congresso se recusou a analisar uma medida provisória. Ao devolver a MP para o Palácio do Planalto, o presidente do Senado, Renan Calheiros, justificou que os parlamentares não foram consultados antes da edição da proposta. Mas o motivo real foi pura retaliação. Calheiros e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ambos do PMDB e da base aliada do governo, foram informados de que estarão na lista que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, envoiu ao Supremo Tribunal Federal (STF) com o nome de políticos envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras, investigado pela Operação Lava-Jato.

O impasse político agravou o  quadro econômico do país. “O mercado está nervoso com essa falta de apoio para a condução das medidas de ajuste fiscal, que são necessárias para o que país não perca o grau de investimento”, analisou o economista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. Para complicar o clima de pessimismo, surgiu o boato, nos bastidores, de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, teria ameaçado se demitir caso o ajuste fiscal não siga adiante.


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