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Estado de Minas

Aumento da garrafa de cerveja chega a 31% em 1 ano em BH

Expectativa é de novas altas até o início dos jogos. Consumidor não entende o reajuste


postado em 07/06/2014 06:00 / atualizado em 07/06/2014 07:12

Cristiano de Paula oferece a bebida a Bruno Larcher: estratégias para evitar a queda do consumo(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Cristiano de Paula oferece a bebida a Bruno Larcher: estratégias para evitar a queda do consumo (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Apesar de fabricantes alardearem preços congelados para a cerveja até o término da Copa do Mundo e do aumento dos impostos para a bebida ter sido adiado por três meses, o brasileiro não tem visto refresco no bolso. Pelo contrário. As altas, que tiveram início no ano passado, continuam e vão acumulando espuma. Os reajustes, que estão na boca dos apreciadores da bebida nos bares e restaurantes espalhados pelo país, foram comprovados por pesquisa exclusiva feita pelo site Mercado Mineiro para o Estado de Minas. De janeiro até o mês passado, o aumento no valor médio da garrafa de 600ml vendida em bares e restaurantes de Belo Horizonte foi de 4,08%. Em 12 meses, a alta chega a 31,41%, sendo que a inflação na capital ficou em 6,05% no mesmo período, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em BH, a variação também é grande: a garrafa é vendida entre R$ 5 e R$ 8,95, dependendo da marca (veja quadro) e da região da cidade. A carne também está mais cara, o que impacta diretamente na inflação do churrasco.

E a expectativa é de que a ressaca de preços da cerveja durante a Copa seja ainda maior. O temor é de que o preço da garrafa chegue a R$ 10 na véspera dos dias de jogos. Vale lembrar que o os torcedores que vão assistir às partidas da Copa nos estádios vão pagar este mesmo valor em um copo de 473ml de Brahma. O preço foi divulgado pela Fifa na semana passada.

O consultor em segurança Bruno César Dondice Larcher, de 34 anos, é um apreciador de cerveja e tem se assustado com os reajustes dos últimos meses. “Em 2013, a garrafa custava de R$ 6 a R$ 6,50 na Zona Sul de BH. Agora, chega a R$ 8, quase R$ 9”, observa. Ele não vê justificativa para os reajustes. “E essa propaganda de preço congelado é uma ilusão. Tudo aumentou antes”, pondera. Para tentar reduzir um pouco o gasto com a loura gelada, Larcher mantém um cooler sempre cheio com 24 latões de Brahma ou Itaipava. Apesar de conseguir uma boa economia na conta, ele diz que o aumento para as latas também foi uma realidade dos últimos meses. “A cerveja está mais cara em todo lugar”, afirma o empresário Marques Moreno, que não dispensa um copo bem gelado no happy hour. No ano passado, ele desembolsava cerca de R$ 20 com a bebida e o tira-gosto. Hoje, não gasta menos de R$ 30 quando chega ao bar. “É muito reajuste. Não tem justificativa.”

Proprietários de bares, choperias e restaurantes e mesmo de revendas de bebidas da cidade confirmam que os preços não estão totalmente estacionados. O dono do Empório Santa Tereza, Cristiano Augusto Gonçalves de Paula, vende de 250 a 300 rótulos de bebidas e observa que os aumentos foram “exorbitantes” no último ano. “Há um ano tinha latão a R$ 1,40. Teve aumento de 100%”, diz, apesar de lembrar que havia uma situação de “promoção”. Os benefícios e bônus foram sendo retirados. Com isso, apesar do preço de tabela não subir, na prática, aumentos foram praticados. “Já me avisaram que para este mês vão tirar mais condições que me garantiam um preço menor”, conta. “Para segurar o cliente, só suando e criando estratégias”, reforça. Ele capricha no atendimento e entrega a cerveja gelada em casa. Nas quintas e sextas-feiras, o empório é transformado em bar com capacidade para de 180 a 200 pessoas


NO DESTILADO Jorge Lage, proprietário do Bar do Doca, que leva seu apelido, diz que vende as cervejas entre R$ 8 e R$ 8,50. “Nesta mesma época do ano passado estava em uns R$ 6. Tivemos muitos aumentos e não deu para segurar. Tive que repassar”, conta. E ele ainda diz estar segurando: “Se fosse para repassar todas as altas, já estaria em R$ 10”. Por causa dos aumentos, a clientela do bar está mudando de hábito e consumindo mais caipivodka e destilados. E o empresário ainda acredita que novos reajustes virão nos próximos dias: “congelaram para gringo ver.”

Rodrigo Ferraz, que tem entre os seus negócios as choperias Albanos e o Haus München, lembra que a Lei Seca já colocou o pé no freio do consumo de cerveja e chope em Belo Horizonte. E a renda em queda também reflete diretamente no setor. “Aumentos, Lei Seca e economia ruim são péssimos para as vendas”, observa. Em um ano, ele calcula quedas nos negócios entre 10% e 30%. Por isso, a resistência também para novos repasses, mesmo que eles cheguem das indústrias. A Copa pode ser positiva para aumentar o consumo, mas Ferraz lembra que se houver manifestações, o que ocorre é o contrário, pois as pessoas evitam sair de casa.

Para o dono da Cantina do Sorriso, Anderson Luiz Fernandes, conhecido como Sorriso, não há justificativas para os reajustes do último ano. No seu restaurante, onde há também um espaço do cervejeiro artesanal que serve para confraria, para se produzir uma garrafa da bebida de cevada artesanal, o custo fica entre R$ 5 e R$ 6. “E é uma cerveja de qualidade muito superior à vendida no mercado convencional”, pondera. “Os aumentos são injustos”, destaca o empresário que é um apreciador da bebida. Para ele, o mercado da cerveja artesanal tem sido motivado por causa desse tipo de situação injusta: “cada dia é maior o número de pessoas querendo produzir suas próprias receitas”.



Respingos dos tributos



A explicação para os reajustes da cerveja, que podem deixar a bebida mais cara nas comemorações para a Copa está no ano passado. Paulo Solmucci, presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), lembra que em outubro houve uma alta de 13% nos impostos. Em abril, foram mais 4%. E os tributos representam mais de 40% do preço final cobrado pela loura gelada. “O que pode estar ocorrendo agora é o repasse dos aumentos que estavam represados. Para não perder o cliente, os bares vão passando aos poucos”, observa . Como reajustes implicam em queda no volume de vendas, ele não acredita em novas altas para a Copa. “A recomendação é para que os empresários não sejam oportunistas.”

Fernando Júnior, presidente da regional mineira da Abrasel confirma que os aumentos mais fortes ficaram concentrados em 2013. No entanto, muitos dos empresários do setor diminuíram suas margens para não perder vendas. “Não tem como negar: se o preço aumenta, o consumo diminui”. Por esse motivo, a lucratividade do setor, que há mais tempo variava de 15% a 20% do faturamento foi reduzida: “quem consegue 10% hoje está feliz”.

Um verão a mais Apesar do cenário, Copa é Copa. Por isso, os fabricantes de cerveja estão bem animados. Paulo Petroni, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), explica que será como ter quatro meses de verão e dois de inverno. “Vamos substituir um período de baixa por um de alta.” No país, o consumo é da ordem de 66 litros por pessoa/ano, segundo dados de 2011. Como houve retração na produção em 2013, de 2,6%, para este ano, a expectativa é de pelo menos retomar os patamares de 2012, quando foram produzidos 13,74 bilhões de litros da bebida. “Em 2013 houve perda da capacidade de compra do consumidor.”

Petroni não comenta a política de preços das fabricantes de cerveja. Mas observa que o adiamento da alta dos tributos aumenta a flexibilidade das empresas, o que segura reajustes. “Quem trabalha bem preços, ganha no aumento do volume vendido”, lembra. Ele não acredita que haverá altas antes ou durante a Copa.

O diretor comercial da Ambev em Minas Gerais e no Espírito Santo, Marcelo Abud, reforça que este mês e o próximo vão representar um segundo verão para as vendas de cervejas. E ele garante que a indústria está preparada para o aumento do consumo: “não vai faltar cerveja”. E ele afirma que não vai haver nenhum reajuste durante a Copa. “É o nosso compromisso com o consumidor e nossa rede de revendas está orientada a também não promover repasses.” Em Minas, segundo ele, 80 mil pontos de vendas aderiram à campanha. Mas ele diz que no ano passado os reajustes foram da ordem de 10% por causa de uma combinação de inflação mais forte e alta nos impostos da bebida.

Para Feliciano Abreu, diretor-executivo do Mercado Mineiro, a saída para o consumidor é pesquisar antes de comprar. Ele lembra que nos supermercados os reajustes foram menores, de até 10,9% no último ano. “Há mais concorrência e muitas promoções.” Em sua opinião, quem aumentar o preço vai correr o risco de dar um tiro no pé: “A renda já está apertada e as pessoas cortam nos gastos com o bar”. (GR)


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