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Estado de Minas

Dólar continua caro em 2014 e pode puxar inflação

Cotação da moeda dos EUA poderá chegar a R$ 2,60 no fim do ano e dificultar ação do Banco Central contra a alta de preços


postado em 09/02/2014 07:01 / atualizado em 09/02/2014 07:37

Deco Bancillon


Brasília – As turbulências nos mercados do globo e os efeitos dessa crise sobre moedas de países emergentes despertam uma dúvida que preocupa especialistas em finanças e turistas com viagem marcada para o exterior: afinal, para onde vai o dólar?. A resposta não é simples. Mas, a julgar pelo comportamento recente da divisa, tudo leva a crer que o câmbio ainda deverá ser um problema para quem pensa em sair do país neste ano.

Técnicos do governo evitam se arriscar em previsões, mas os especialistas são unânimes em apontar a escalada da moeda como a trajetória mais provável em 2014. “Até o fim de março, o dólar deve bater em R$ 2,50. Depois, mesmo que em algum momento ele oscile para baixo, voltará a subir até fechar o ano em R$ 2,60”, aposta o economista-chefe da NGO Corretora, Sidnei Nehme, especialista no assunto. O governo teme que a valorização da divisa norte-americana frente ao real possa estimular a remarcação de preços pelo comércio, pressionando ainda mais o custo de vida. Isso tornaria mais difícil a missão do Banco Central (BC) de controlar a inflação, que há quatro anos está acima do centro da meta, de 4,5% ao ano.

Em 2014, as apostas do mercado são que a cotação da moeda fique, em média, em R$ 2,47. Qualquer variação acima desse patamar, portanto, poderia elevar a pressão sobre a carestia num ano em que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá acumular alta de 6%, segundo projeções dos principais analistas financeiros.

O BC acompanha com lupa as oscilações do câmbio e tem atuado para forçar a queda do dólar e reduzir as apostas de bancos e corretoras na elevação ainda maior dele no mercado futuro – operações feitas a prazo. Apenas em 2013, a autoridade monetária injetou US$ 100 bilhões na economia. Neste ano, a autoridade monetária optou por manter a carga de intervenções, seja por meio de vendas futuras de moeda (leilões de swap), seja pelas operações de recompra dela (leilões de linha). Uma terceira arma, ainda não utilizada, é vender os dólares das reservas internacionais diretamente a bancos e corretoras, no mercado à vista.

Uma fonte do mercado financeiro acredita que o BC poderá recorrer a esse expediente se observar a falta da divisa norte-americana a exportadores e empresas. Nesse caso, disporia das reservas apenas para irrigar o mercado, e não para forçar uma queda da moeda abaixo de um patamar específico. Esse analista deu um recado claro: seja qual for o poder de ação de um banco central, ele poderá até ganhar uma batalha com os investidores, mas nunca toda a guerra.

O especialista também lembrou que a ação do BC sobre o câmbio tem como objetivo evitar remarcações de preços. Ao mesmo tempo, joga contra a cotação do dólar o menor ingresso de recursos no país, em função dos desarranjos econômicos e da descrença dos investidores com a política fiscal do governo federal.

DESCONFIANÇA

Com o capital estrangeiro avesso a riscos, o Brasil deixou de ser visto como porto seguro de investidores. Não por caso, o país está sob ameaça de rebaixamento por duas das três maiores agências de classificação de risco do mundo, a Moody’s e a Standard & Poor’s. Uma forma de medir essa pessimismo é, justamente, o fluxo de dólares que aportaram no país.

Em 2013, houve déficit de US$ 12,2 bilhões nessa conta, e, apenas em quatro meses do ano, o saldo cambial ficou positivo. Em janeiro de 2014, os ingressos da dívida no Brasil voltaram a superar as remessas em US$ 1,6 bilhão. Em 2013, apenas em quatro meses essa conta ficou positiva. O bom resultado do mês, visto com desconfiança, é a aposta do governo para tentar reverter o histórico de desequilíbrio no saldo de dólares.

Ao Estado de Minas, um interlocutor do alto escalão do governo Dilma Rousseff contou que espera ver uma “normalidade” nos ingressos de divisas, apesar das turbulências externas, como a reversão dos estímulos nos Estados Unidos e a desaceleração da economia chinesa. “Em janeiro, houve muitos dólares entrando pela conta de comércio exterior, o que já era esperado. Mas o que nos surpreendeu foi que o fluxo financeiro deixou de ser negativo, o que é muito bom”, lembra o governista. A lógica é simples: com mais dólares aportando no país, a demanda pela moeda diminuiria, levando a uma queda da cotação.

O mesmo entendimento tem o ex-secretário do Tesouro Nacional e atual economista-chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall. “Mesmo com a balança comercial apresentando déficit em janeiro, houve mais dólares entrando do que saindo no mês, e justamente pela conta de importações e exportações”, diz. “Isso pode levar a várias interpretações, e uma delas é que talvez os exportadores tenham decidido trazer ao Brasil o dinheiro com vendas de anos anteriores. Isso pode ser um indicativo da mudança do fluxo para o campo positivo. Mas ainda é preciso esperar. É um jogo de 90 minutos e ainda estamos nos 10 minutos do primeiro tempo”, afirma.

Aposta contra o real
Apesar das dificuldades de previsão sobre o comportamento do dólar, o mercado tem renovado as compras dessa moeda, num sinal claro de que ainda aposta na valorização dela em 2014. “O real ainda é caro se levarmos em conta a produtividade do Brasil e a inflação dos últimos anos”, observa o diretor de Investimentos de Renda Fixa da gestora de recursos Franklin Templeton, Marco Freire. “Por isso, estamos efetuando compras de dólar contra o real”, completa.

Pesa ainda contra a moeda brasileira a desconfiança dos investidores estrangeiros com o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o crescente déficit nas contas externas e a fragilidade dos resultados fiscais. “Na ausência de confiança do setor privado na economia, não seria uma surpresa se a divisa norte-americana andasse para frente ainda mais”, diz a economista Monica Baumgarten de Bolle, professora de Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e sócia da Galanto Consultoria.

De todos os desarranjos econômicos que afetam o país, lembra o gerente de Câmbio da Fair Corretora, Mário Battistel, o descontrole da inflação é o mais perigoso. “Se os preços continuarem subindo muito — e a gente sabe que, em ano eleitoral os governos tendem a gastar mais do que arrecadam —, o Banco Central terá de continuar atuando forte no câmbio, vendendo dólares para evitar uma alta ainda maior da moeda. Aí, não vai ter jeito. Se faltar munição, é possível até que ele queime reservas, algo que não fez até agora”, avalia.

Reservas O Brasil tinha, até a última sexta-feira, US$ 376 bilhões em reservas internacionais. Esse dinheiro é aplicado em ativos no exterior, a uma remuneração geralmente baixa. Em 2012 — último dado disponível —, a rentabilidade das reservas foi de 1,84%. Quase nada se comparado ao prêmio pago pelo Tesouro Nacional aos detentores de títulos da dívida pública.

No mesmo ano, o governo pagou, em média, 11,97% para se financiar. “Não vejo outra razão que não política para manter uma posição tão elevada em reservas internacionais a juros ínfimos e pagarmos, aqui dentro, taxas absurdas para os investidores da dívida pública”, critica Battistel. O governo tem uma avaliação diferente. “As nossas reservas são um seguro para tempos difíceis, e, mesmo que tenhamos de pagar um custo elevado para mantê-las, vale a pena”, diz uma fonte da equipe econômica.


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