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Estado de Minas

Fábrica mineira produz 2 milhões de hóstias por dia

Negócio prospera embalado pela fé cresce 15% ao ano e abastece do Amazonas ao Rio Grande do Sul


postado em 18/07/2013 06:00 / atualizado em 18/07/2013 07:34

O fundador da fábrica, Ary Brum, de 85 anos, ajuda no corte dos discos maiores, usados nas celebrações(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
O fundador da fábrica, Ary Brum, de 85 anos, ajuda no corte dos discos maiores, usados nas celebrações (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Terra da boa goiabada e da carne de porco, Ponte Nova, na Zona da Mata mineira, despachou 1,5 milhão de hóstias para a missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude/2013, que será celebrada pelo papa Francisco dia 28 em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A produção inusitada das finas partículas de massa de farinha e água consagradas no ritual católico se transformou num próspero negócio, criado há quase 17 anos pela família Brum, de ascendência alemã, na cidade de 57,7 mil habitantes, distante 245 quilômetros de Belo Horizonte. A visita do pontífice ao Brasil só impulsionou uma demanda que cresce ao ritmo de 15% ao ano na fábrica Nossa Senhora de Fátima, abrigada no prédio de cinco andares onde moram os proprietários, Ary, de 85 anos, e Zilda, de 59.

O trabalho começa às 5h, num processo aparentemente simples, mas delicado, para dar conta da fabricação de 2 milhões de hóstias por dia, entregues a dioceses e paróquias do Amazonas ao Rio Grande do Sul. Responsável pela etapa final da pesagem e ensacamento, Zilda desempenha a tarefa como agradecimento divino, ansiosa para ver o papa Francisco, a quem admira como um mensageiro de mudanças na cúpula da Igreja Católica. “É um trabalho que muito me encanta e fascina. Saber que essas partículas, que passaram pelas minhas mãos, vão ser transformar no corpo de Cristo”, afirma.

Desde a primeira venda de hóstias, em 1996, a empresa investiu cerca de R$ 2 milhões e prevê nova expansão, com a instalação, prevista para a próxima semana, de três prensas térmicas alemãs avaliadas em 30 mil euros por unidade (R$ 87,8 mil pelo câmbio de ontem). Parte do aumento das encomendadas é atribuída ao espaço que a empresa vem ocupando no mercado brasileiro, deixado por fábricas que não resistiram às dificuldades do ramo. Gerente da Nossa Senhora de Fátima, Ary Brum Júnior, filho do fundador, ex-seminarista e autor da ideia de produzir hóstias em Ponte Nova, guarda na memória a lembrança de duas dezenas de fabricantes dos quais não tem mais notícias em Minas Gerais.

Concorrentes de São Paulo e do Sul do país também estão fechando as portas. “Embora o processo de produção seja simples, é trabalhoso e demanda grande escala de produção. O produto é tão nobre que só 10% da matéria-prima viram hóstia”, afirma Ary Júnior. De cada 100 quilos da massa de farinha de trigo e água que dá origem às partículas semelhantes à massa de pão sem fermento, de 10 a no máximo 13 quilos se transformam em produto. Ainda assim, em períodos de tempo úmido, a produtividade tende a cair, uma vez que a umidade altera as características da massa, fazendo com que ela grude na superfície dos equipamentos. Cada pacote de 1 mil hóstias é vendido a R$ 5,50. As vendas são faturadas a prazos entre 30 e 120 dias.

Custo desafiador

Administrar os custos de produção em alta, da mesma forma, não tem sido fácil para as empresas do setor, segundo Ary Júnior. Duas despesas que já demonstraram extrema sensibilidade no Brasil, o trigo e a energia elétrica, representam, cada uma, cerca de 30% dos gastos na fábrica, números sobre os quais o gerente mantém segredo. “Quando começamos o negócio, em 1996, o Brasil importava trigo e subsidiava o custo do produto. Trabalhávamos com o mesmo preço durante todo o ano e o dólar não flutuava, como se vê hoje”, observa o industrial.

Na mesma toada da indústria da panificação, Ary Júnior critica a instabilidade dos preços da matéria-prima. O custo do saco de 50 kg de farinha de trigo subiu de R$ 63 em janeiro para R$ 110 no fim de fevereiro, retornando a R$ 81 neste mês. A situação deve piorar, devido à decisão tomada em junho pelo governo da Argentina, principal fornecedor do Brasil, de interromper as exportações.

A mão de obra – são 36 empregados na fábrica mineira, dos quais só sete homens – leva mais 30% dos custos de produção. A logística de entrega do produto é outro desafio. Dependendo do cliente, as hóstias seguem de Ponte Nova pelos Correios ou por meio de empresas transportadoras. Os pontos mais distantes de entrega são o distrito de Iauaretê, no Amazonas, próximo da fronteira com a Colômbia, a mais de 3 mil quilômetros da cidade mineira, e Pelotas, no Rio Grande do Sul, a 2,2 mil km da fábrica.

PASSO A PASSO


Entenda como são produzidas as hóstias

1) Na batedeira industrial, a cada 40 minutos são adicionados 50 quilos de farinha de trigo, misturados a 50 litros de água, e as 37 prensas térmicas assam a massa, a 220 graus, no formato de discos. Perdem-se 800 kg por dia em rebarbas de massa

2)Os discos seguem para a etapa de corte das partículas. Aquelas hóstias que serão usadas pelos fiéis têm de 3,3 cm a 4 cm de diâmetro, conforme o tipo de celebração, e as que serão usadas pelos padres são confeccionadas com
7 cm a 15 cm

3)Depois de passarem por uma centrífuga, que separa o material com defeito por gravidade, as hóstias são submetidas ao controle de qualidade manual

4)A fase final é de contagem, pesagem, com nova conferência, e ensacamento em embalagens de polipropileno, contendo 1 mil hóstias cada


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