Entre mamadas, fraldas e tarefas diárias, muitas mulheres enfrentam um sentimento profundo de solidão, mesmo cercadas de pessoas. A chamada solidão materna é uma realidade silenciosa, mas crescente: segundo um levantamento de 2018, realizado pela organização britânica The Co-op em parceria com a British Red Cross, 82% das mães de crianças pequenas afirmaram se sentir sozinhas com frequência.

No Brasil, embora faltem dados específicos, estudos sobre saúde mental materna apontam que cerca de 1 em cada 4 mulheres apresenta sintomas de depressão pós-parto (Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, 2022), e a sensação de isolamento aparece entre os principais fatores de risco.

Para a psicóloga Nicole Amorim, especialista em saúde mental materna e fundadora da campanha Maio Furta-Cor, a solidão é um fenômeno que vai muito além da falta física de companhia. “A solidão materna está ligada à falta de escuta, à ausência de uma rede real de apoio e à idealização de que a mãe deve dar conta de tudo. Mesmo cercadas de pessoas, muitas mulheres não se sentem vistas nem compreendidas”, explica.

Nicole observa que, no início da maternidade, há uma sobrecarga emocional e mental intensa. O tempo dedicado aos cuidados com o bebê ocupa quase todos os espaços da rotina, enquanto o autocuidado, o descanso e as relações sociais ficam em segundo plano. Essa desconexão progressiva gera sentimentos de inadequação e culpa, especialmente em uma sociedade que ainda romantiza a figura da “mãe perfeita”.

“O silêncio em torno desse tema faz com que muitas mulheres sintam vergonha de admitir o que estão vivendo. É preciso nomear essa solidão e validar a experiência materna em toda a sua complexidade”, acrescenta a psicóloga.

A especialista defende que reconstruir conexões reais é parte essencial do cuidado emocional materno. Isso envolve tanto políticas públicas e apoio institucional quanto pequenas ações cotidianas, como suporte, espaços de escuta, grupos de apoio e redes comunitárias entre mães.

“O que mais ajuda uma mulher em sofrimento não é um conselho, mas um encontro genuíno. Ser ouvida com empatia pode mudar o curso de uma história”, afirma Nicole.

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