LONGEVIDADE

Pesquisa: 34% dos idosos em áreas urbanas apresentam sintomas depressivos

Mulheres apresentam quase o dobro dos relatos dos homens

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Nos últimos anos, dois fenômenos têm ocorrido lado a lado em ritmo acelerado, a urbanização das cidades com o crescimento de suas populações e o envelhecimento populacional. Este cenário traz desafios complexos, já que as condições físicas e sociais das grandes cidades podem ser fatores fundamentais para o adoecimento e a ocorrência de sintomas depressivos na população de adultos mais velhos. Essas afirmações são embasadas pelos recentes estudos publicados pelo professor Pablo Roccon em tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG, na qual analisou a percepção de idosos brasileiros residentes em áreas urbanas sobre suas vizinhanças e a associação com a ocorrência de sintomas depressivos.

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A tese analisou os dados produzidos na linha de base do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi-Brasil). O Elsi-Brasil entrevistou  mais de 7 mil residentes de cidades brasileiras com 50 anos ou mais, em uma amostra nacional representativa realizada entre 2015 e 2016. Roccon apontou que, entre os idosos entrevistados, a prevalência de sintomas depressivos foi de 34,09%, sendo 43,8% entre as mulheres e 24,5% entre os homens.

O estudo apontou que idosos que relataram perceber desordem física na vizinhança ou a ausência de agradabilidade do bairro apresentaram prevalência de sintomas depressivos de 22% e 24%, respectivamente, em comparação com os demais. O mesmo ocorreu entre aqueles que perceberam presença de poluição sonora ou foram vítimas de furto, roubo ou invasão domiciliar. Entre estes, a prevalência de sintomas depressivos foi de 27% entre adultos mais velhos que relataram percepção de ruído no ambiente e de 31% entre aqueles que foram vítimas de violência. 

A insegurança percebida na vizinhança teve impacto especialmente entre as mulheres, o que se refletiu em uma prevalência de sintomas depressivos de 12%. O professor também analisou a coesão social, ou seja, o senso de comunidade e de confiança entre os vizinhos. Idosos que relataram não perceberem a presença de coesão social na vizinhança em que moram apresentaram prevalência de sintomas depressivos de 26%.

Roccon afirma a importância de considerar que viver nas cidades e a exposição aos ambientes urbanos têm impactos significativos na saúde de pessoas mais velhas. Ele discute como políticas globais, como a promoção das “Cidades amigas dos idosos”, podem ser eficazes na prática e repensar o planejamento da cidade com foco na promoção do envelhecimento saudável.

Segundo ele, os estudos que analisam o impacto dos ambientes urbanos na saúde mental da população mais velha têm sido realizados majoritariamente em países de alta renda, o que aponta para a necessidade de mais evidências provenientes de países de média e baixa renda. “A gente precisa olhar para a América Latina e produzir evidências a partir do nosso horizonte. Vivemos em um país de muitas desigualdades. A nossa história de ocupação dos espaços urbanos é muito destrutiva, com um impacto gigantesco na vida, principalmente, da população idosa”, afirmou. 

A pesquisa também investigou as diferenças de gênero, raça e renda nas percepções sobre as vizinhanças. Roccon identificou que as mulheres apresentaram maior prevalência de relatos de percepção da ausência de coesão social e de problemas de mobilidade. Em relação à cor e à renda, o pesquisador identificou que adultos mais velhos negros e pardos, assim como aqueles com menor renda per capita, relataram com maior frequência a presença de desordem física, insegurança, ausência de coesão social e de agradabilidade, quando comparados aos idosos brancos e de maior renda. 

Para Roccon, esses resultados podem indicar que mulheres, pretos e pardos e participantes com renda menor vivem em vizinhanças em piores condições físicas e sociais, o que suscita a necessidade de atenção do poder público e de mais investigações.

 

Políticas

Pablo ressalta que a vizinhança é fundamental na vida do idoso, uma vez que, em geral, ele tende a vivê-la com maior intensidade e a estar nela durante a maior parte do tempo, seja por problemas de saúde, limitações físicas ou financeiras. Portanto, o pesquisador destaca a importância de políticas e ações voltadas ao suporte socioassistencial como as políticas de distribuição de renda, bem como obras de requalificação urbana voltadas à construção, manutenção ou ampliação de calçadas e faixas de pedestres, da iluminação pública, de parques com ampliação das áreas verdes e espaços para encontro e lazer, formas de intervenções urbanas que são capazes de promover o envelhecimento ativo e saudável.

O pesquisador também afirma que é preciso promover a justiça social, pois já sabemos quais são as vizinhanças e os bairros mais vulneráveis. Ele cita exemplos de sucesso ao longo do mundo, de intervenções urbanas que controlam enchentes, reduzem a temperatura, aumentam a agradabilidade, reduzem a desordem e aumentam a coesão social.  “A própria década do envelhecimento saudável da ONU reconhece a importância do ambiente residencial, do bairro e da cidade. O que a gente precisa é ampliar essa intervenção sobre o contexto e o ambiente urbano, com foco na promoção do envelhecimento saudável”, ressaltou. 

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