O Outubro Rosa é um importante movimento de prevenção à saúde global, alertando anualmente sobre o combate ao câncer de mama. No entanto, a força da campanha esbarra em uma realidade persistente no Brasil: a dificuldade de fazer com que a prevenção seja uma rotina, e não uma reação.
Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) mostram a urgência da questão. O câncer de mama é o tipo mais incidente em mulheres no país (excluindo os tumores de pele não melanoma), e a estimativa é que o Brasil registre 73.610 novos casos a cada ano do triênio 2023-2025.
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A esperança está no diagnóstico precoce. A detecção em fases iniciais eleva as chances de cura para mais de 90% dos casos, segundo especialistas. Contudo, muitas mulheres só procuram ajuda quando já apresentam sinais avançados.
A disparidade entre a eficácia da prevenção e a baixa adesão a exames de rotina é reflexo de barreiras que vão além da logística do sistema de saúde. Fatores como medo, falta de tempo e até a subestimação da importância da mamografia contribuem para o quadro. Pesquisas já revelaram que parte das mulheres ouvidas subestima a importância da mamografia e ignora fatores de risco.
Além das questões individuais, o acesso aos exames de rastreamento no Sistema Único de Saúde (SUS) ainda apresenta desafios de cobertura em diversas regiões. A mamografia, principal ferramenta de detecção precoce, é um exame fundamental para mulheres na faixa etária de 40 anos, segundo a recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
Para a cardiologista e diretora de saúde da Starbem, Thais Moreno, a conscientização precisa de um "upgrade", focando em exames clínicos e de imagem. "Quando falamos em câncer de mama, prevenção salva-vidas. Evidências mostram relação dose–resposta entre hábitos e risco: manter IMC adequado ao longo da vida, realizar 150–300 minutos/semana de atividade física e limitar o álcool (o risco cresce mesmo em consumos baixos) reduzem o risco em magnitude clinicamente relevante. O autocuidado das mamas (perceber assimetrias, retrações, nódulos, secreções) é porta de entrada para avaliação precoce, mas não substitui o rastreamento. Para mulheres de risco habitual, recomendo mamografia anual a partir dos 40 anos, capaz de flagrar lesões não palpáveis e melhorar desfechos. Em resumo: estilo de vida protege; rastrear salva. Escolher prevenção é escolher futuro”, afirma.
Como as empresas podem ajudar nessa situação?
Se as barreiras de acesso e informação persistem, o ambiente corporativo pode se tornar um aliado poderoso na mudança de comportamento, transformando o Outubro Rosa em um movimento de 365 dias.
Segundo Thais, empresas podem e devem ir além das palestras pontuais, integrando a prevenção ao bem-estar corporativo:
- Incentivo logístico: criar políticas que ofereçam flexibilidade de horários ou folgas remuneradas para a realização de consultas e exames de rotina (mamografia, Papanicolau e check-ups gerais). A "falta de tempo" é uma das maiores barreiras, e a empresa pode neutralizá-la
- Programas de saúde integral: não focar apenas no Outubro Rosa, mas promover a saúde de forma contínua e abrangente, incluindo consultas médicas. A prevenção do câncer de mama está ligada a um estilo de vida saudável, que inclui controle de peso, exercícios e redução do estresse
- Comunicação desmistificadora: usar canais internos para fornecer informação de qualidade e desmistificar os exames, abordando o medo e a vergonha com dados e testemunhos reais
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"Quando a empresa integra a campanha de prevenção ao bem-estar corporativo, ela envia uma mensagem clara: o cuidado com a saúde da colaboradora é um valor. A saúde integral da mulher melhora a qualidade de vida, reduz o absenteísmo e tem um impacto direto na produtividade e no clima organizacional. É um investimento com retorno humano e financeiro", reforça Thais.
