Válvula cardíaca -  (crédito: Boston Scientific/Divulgação )

A válvula cardíaca é responsável por atuar na regulação do fluxo sanguíneo, fazendo movimentos de abertura e fechamento para bombear sangue até o coração

crédito: Boston Scientific/Divulgação

Inaugurada em 2019, a Boston Scientific, unidade Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), será ampliada para suportar o volume da produção de válvulas cardíacas desenvolvidas a partir do tecido de porco. A válvula cardíaca é responsável por atuar na regulação do fluxo sanguíneo, fazendo movimentos de abertura e fechamento para bombear sangue até o coração. Ela é produzida no Brasil desde 2016, a partir de um tecido inerte extraído do porco. A ampliação da unidade fabril será na próxima terça-feira (7/5). 

 

O mau funcionamento das válvulas cardíacas - resultado de má formação congênita, doenças reumáticas, sífilis, processos infecciosos, artrite e processos de calcificação - pode gerar consequências graves para o sistema cardiovascular. Esses problemas costumam ser solucionados pela substituição das válvulas por próteses mecânicas ou biológicas. 

 

É antigo o interesse de pesquisadores e empresas na produção de válvulas cardíacas que visem uma melhor performance, baixa rejeição e durabilidade. A USP, por exemplo, tem uma parceria para fabricar esse tipo de válvula com pericárdio bovino - minimizando significativamente o processo de rejeição do pericárdio pelo organismo humano, que ocorre na maioria dos pacientes após cerca de sete anos de uso da válvula. 

 

Válvula biológica

 

Após passar por tratamento químico, que o torna inerte, ou seja, não causa rejeição em humanos, o pericárdio porcino é costurado em uma estrutura metálica de nitinol (liga de níquel e titânio), formando o produto implantável. A técnica de implante transcateter é conhecida como tavi (do inglês transcatheter aortic valve implantation) e o primeiro transplante aconteceu há 22 anos.

Trata-se de um procedimento cardíaco minimamente invasivo, que substitui alguns tipos de cirurgia de peito aberto, ou seja, gera mais segurança e celeridade ao paciente, além de significar uma expressiva redução do risco de morte. A válvula é colocada dentro de um cateter, que é introduzido a partir de um pequeno corte na artéria transfemoral e chega até o coração. Além de menor risco, a recuperação é muito mais rápida.

 

Para monitorar o funcionamento da prótese, é necessário acompanhamento médico. Atualmente, são realizadas, aproximadamente 280 mil cirurgias para implantação de prótese valvar por ano no mundo, de acordo com a Scientific Eletronic Library Online (Scielo).

 

Produção  

 

Com um investimento de R$ 120 milhões, a companhia norte-americana está triplicando a capacidade de produção de válvulas cardíacas desenvolvidas a partir de tecido de porco, passando de 20 mil para 60 mil unidades por ano.

 

A expectativa é que, em três anos, o volume de exportações chegue a R$ 780 milhões. Com o investimento, a Boston Scientific espera atender a crescente demanda dos locais onde utiliza a tecnologia, como Europa, Ásia, América Latina, além de apostar na entrada no mercado norte-americano.

Leia também: Coração biorobótico é esperança para doenças cardíacas

 

Em todo o mundo, mais de 70 mil pacientes receberam a válvula da empresa. De acordo com o vice-presidente da Boston Scientific no Brasil, Eric Tagarro, a possibilidade de oferecer a tecnologia para outros países é uma grande conquista para o segmento médico. “Cada válvula produzida pode representar uma vida salva. Então, não estamos falando apenas de números, mas de uma mudança de paradigmas no tratamento de doenças cardiovasculares”, avalia.

 

As obras para a construção do novo prédio duraram três anos, passando de 5 mil metros quadrados de área construída para 13 mil metros quadrados. O número de colaboradores também já está sendo ampliado desde o ano passado e deve chegar a 1.700 colaboradores com a capacidade máxima.