Um diálogo aberto é a chave para fortalecer os vínculos familiares. Estar atento às necessidades de afeto e de presença é vital para o bem-estar das crianças e dos adolescentes -  (crédito:   master1305/Freepik)

Um diálogo aberto é a chave para fortalecer os vínculos familiares. Estar atento às necessidades de afeto e de presença é vital para o bem-estar das crianças e dos adolescentes

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Dados levantados pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) revelam que, a cada ano, cerca de mil crianças e adolescentes, entre 10 e 19 anos, cometem suicídio no Brasil. Entre 2016 e 2021, houve um aumento de mais de 49% de casos na faixa etária de 15 a 19 anos. O cenário nacional se reflete nos atendimentos feitos no Pequeno Príncipe, hospital exclusivamente pediátrico de Curitiba (PR), que identificou um aumento do volume de tentativas de suicídio nos últimos anos – de nove casos em 2019 para 56 em 2022.

Por isso, no mês de janeiro, dedicado à saúde mental, a instituição reforça a importância de abordar o tema desde a infância. A psicóloga e coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, Angelita Wisnieski da Silva, destaca que crianças e adolescentes podem sofrer por questões físicas, psicológicas e sociais como qualquer pessoa: “Dar atenção ao estado de saúde mental manifesto por comportamentos, expressões emocionais, fragilidades e oferecer escuta, apoio e tratamento profissional às crianças e aos adolescentes pode prevenir consequências graves como a automutilação e o suicídio”.

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Crianças e adolescentes, em seu processo de desenvolvimento e maior vulnerabilidade ao sofrimento, requerem medidas para ensiná-los a lidar com desafios. É uma responsabilidade coletiva estimular uma visão de mundo mais ampla, incentivar soluções para problemas e ensinar, desde cedo, que as dificuldades impostas pelo mundo podem ser enfrentadas e superadas de maneira mais leve quando compartilhadas.

Como ajudar?

Nesse sentido, os pais e responsáveis podem cuidar da saúde mental na infância e adolescência adotando as seguintes atitudes:


- Saúde mental da família
Cuidar da própria saúde mental é o ponto de partida para ser uma boa referência às crianças e aos adolescentes. Admitir que mesmo um adulto não tem respostas e solução para tudo é uma forma de mostrar que ninguém precisa enfrentar todos os desafios sozinho. É importante dedicar um tempo para as paixões, hobbies e descanso. E, se necessário, buscar auxílio profissional de psicólogo ou psiquiatra quando perceber necessidade.

- Diálogo aberto
Um diálogo aberto é a chave para fortalecer os vínculos familiares. Estar atento às necessidades de afeto e de presença é vital para o bem-estar das crianças e dos adolescentes. Por isso, estar disponível para ajudar, oferecer apoio e respeitar cada sentimento é essencial em uma relação. Acolha as expressões de emoções, mesmo que negativas, sem julgamentos e com tranquilidade.

- Valorização das conquistas
É fundamental valorizar as qualidades, aprendizados e superações das crianças e dos adolescentes. Isso não só constrói a autoestima como também fortalece o apoio familiar. Mostrar que é importante reconhecer, aceitar e respeitar suas próprias qualidades e limites, assim como os dos outros, é essencial nesse processo de autoconhecimento. Além disso, é necessário valorizar sentimentos positivos da criança consigo, com os outros e com a vida.

- Tempo de qualidade em família
Promover o lazer em família, mas também respeitar o momento em que a criança ou o adolescente quer estar sozinho, favorece relacionamentos saudáveis. Propiciar a ideia de pertencimento, de fazer parte de uma família, de uma comunidade, pode amenizar a sensação de desamparo vivenciada em diferentes fases da vida.

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Sinais de alerta

A família também deve observar sinais de alerta como mudanças de comportamento ou estados intensos e persistentes que atrapalhem ou dificultem a rotina, como:

  1. Desinteresse, dificuldades ou prejuízos no desempenho e na aprendizagem escolar;
  2. Ansiedade, agitação, irritabilidade ou tristeza permanentes;
  3. Isolamento persistente, com afastamento de grupos sociais;
  4. Alterações no sono e no apetite;
  5. Baixa autoestima, com desinteresse e descuido com a aparência;
  6. Comentários frequentes negativos em relação ao futuro e autodepreciativos;
  7. Desinteresse por atividades de que gostava e desapego de pertences que valorizava;
  8. Expressões e comentários que indiquem desejo de morrer.
  9. Onde buscar ajuda?

Os serviços de psicologia e de psiquiatria do Hospital Pequeno Príncipe oferecem assistência a pacientes internados e em tratamento na instituição. Mas a recomendação é que, aos primeiros sinais, a criança ou o adolescente seja encaminhado a um pediatra para avaliação geral, bem como a profissionais de saúde mental. 

É possível buscar ajuda nas unidades básicas de saúde (UBSs), nos centros de atenção psicossocial (Caps) e nas clínicas de psicologia das universidades. O Centro de Valorização da Vida (CVV) também oferece apoio emocional 24 horas por dia, sob total sigilo, por meio da ligação gratuita (188).