Viagens demoradas podem ter impactos até mesmo na saúde -  (crédito: Freepik)

Viagens demoradas podem ter impactos até mesmo na saúde

crédito: Freepik

Não há nada melhor do que viajar. É exatamente por isso que muitas pessoas aproveitam o período de festas e recesso, no fim do ano, para mudar os ares. Mas o caminho até o destino pode não ser dos mais agradáveis, principalmente quando a distância é longa. E não é apenas uma questão de conforto. Viagens demoradas, seja de carro, ônibus, avião ou navio, podem ter impactos até mesmo na saúde. Por isso, quem vai viajar deve adotar alguns cuidados para garantir que chegará bem ao destino. 

Especialistas dão dicas para realizar uma viagem livre de complicações:

Movimente-se

Mesmo em locais de difícil circulação, como carros, ônibus e aviões, movimentar-se durante a viagem é indispensável. “Em viagens longas, as pernas ficam para baixo e paradas na mesma posição por muito tempo. Sem contração muscular da panturrilha, o sangue não circula como deveria e acaba migrando para os tecidos ao redor, ocasionando inchaço”, explica a cirurgiã vascular membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), Aline Lamaita, que alerta que, em casos extremos, esse inchaço pode causar coágulos sanguíneos, trombose ou até mesmo embolia pulmonar, principalmente em pessoas que já possuem predisposição ao problema.

Por isso, é importante evitar permanecer muito tempo na mesma posição. “No avião, procure caminhar no corredor ou movimentar os membros inferiores no seu próprio lugar. Já nas viagens de carro, faça paradas regulares para esticar as pernas”, aconselha a médica. Essa também é uma recomendação para proteger as articulações. “Ficar muito tempo sentado sempre vai gerar uma sobrecarga para o joelho e situações de desconforto”, explica o ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), Marcos Cortelazo.

Atente-se à alimentação

Programe a alimentação antes, durante e depois da viagem. “Aeroportos e rodoviárias geralmente não têm muitas opções de alimentos saudáveis, então prepare-se e leve frutas, lanches naturais, barrinhas e outros snacks leves e saudáveis”, recomenda a médica nutróloga diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), Marcella Garcez. Durante a viagem, evite alimentos muito salgados ou doces, que desidratam o corpo, e refeições pesadas de difícil digestão.

“Motoristas e pessoas que querem se manter despertas também devem evitar massas, pães e farináceos refinados de alto índice glicêmico, que podem provocar sonolência após a ingestão”, aconselha a médica nutróloga. Mesmo ao chegar ao destino, o cuidado alimentar deve continuar. “Quando mudamos de localização sempre há risco de interação com microbiotas que vivem naquele novo ambiente, levando a reações físicas como a diarreia do viajante, reação comum após o consumo de alimentos próprios do local de destino. Mas o problema pode ser prevenido evitando alimentos muito elaborados de composição e procedência desconhecidas e dando preferência para o consumo de alimentos industrializados de composição conhecida, além de apostar na hidratação adequada com água mineral. Também é possível tratar preventivamente a microbiota com suplementos orientados pelo médico para enfrentar a mudança geográfica sem grandes consequências”, afirma a médica nutróloga.

Leia: Como aproveitar a virada do ano com diversão e segurança

Atentar-se à procedência dos alimentos, na verdade, é um cuidado que deve ser tomado em qualquer ponto da viagem. “Alimentos de composição e procedência desconhecida, com sinais de má higiene ou de preparo e armazenamento inadequados, representam um risco à saúde, podendo levar a uma intoxicação alimentação. Então, atente-se a essa questão. Em viagens de navio, fique de olho também na higiene dos utensílios e ambientes, já que as embarcações reúnem um grande número de pessoas de várias procedências, convivendo por um curto espaço de tempo e compartilhando utensílios em ambientes muitas vezes fechados, o que é um grande risco para intoxicações alimentares e outras contaminações.”

Maneire no consumo de álcool

O consumo excessivo de bebidas alcoólicas não é recomendado em viagens. “Bebidas alcoólicas em excesso devem ser evitadas por vários motivos, incluindo desidratação do corpo, intoxicação hepática e sintomas neurológicos, todos indesejáveis em períodos de viagens”, diz Marcella Garcez. O álcool ainda pode ser um fator de risco para dores articulares. "O álcool pode causar o aumento do ácido úrico no sangue, condição esta chamada de hiperuricemia, que leva a inflamação das articulações e quando não tratada pode ocasionar lesões da cartilagem articular que evoluem para a artrose", explica Marcos Cortelazo.

O cuidado deve ser redobrado em viagens de avião, por conta da pressão da cabine com menor oxigenação, e em viagens de cruzeiro quando é comum a prática all-inclusive, com refeições e bebidas à vontade, o que pode representar um perigo. Ingerir bebidas alcoólicas também pode ocasionar uma piora dos sintomas de cinetose. “A cinetose é uma condição caracterizada pelo enjoo e desconforto que acontece a bordo de carros, navios, ônibus e aviões por questões neurológicas relacionadas ao equilíbrio, que depende da coordenação do cérebro a partir das informações recebidas do labirinto, da visão e do sistema proprioceptivo, formado pelos músculos, ligamentos e pele. Para lidar com a cinetose, além de não consumir álcool, é importante evitar substâncias estimulantes em excesso e não fazer refeições pesadas ou ficar muito tempo em jejum”, aconselha Marcella.

Cuide da pele

O clima seco do avião pode favorecer o ressecamento da pele. “Além da falta de umidade do ambiente, o próprio ar bombeado para dentro da aeronave causa ressecamento, pois chega a temperaturas bem baixas. Com isso, ocorre uma evaporação mais rápida da água presente na pele, levando à desidratação”, explica a dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Paola Pomerantzeff. “A microcirculação do tecido cutâneo e dos gânglios linfáticos fica comprometida durante o voo. Por esse motivo as bolsas de gordura que se alojam por baixo das pálpebras absorvem mais líquido e incham. Como a pele das pálpebras é muito fina, transparece esse inchaço causando olheiras e bolsas proeminentes”, explica a dermatologista sócia efetiva da SBD, Mônica Aribi. Por isso, o item de beleza mais importante em viagens como essa, sem dúvidas, é o creme hidratante. “Para evitar esses dois processos é importante, durante o voo, tomar muita água. Evitar outros tipos de líquidos, principalmente os alcoólicos, pois pode agravar a falta de circulação. Outro cuidado importante é levar na bolsa um hidratante neutro. Este produto não deve conter ácidos ou ureia ou ativos que possam irritar a pele. É importante aplicá-lo na face toda fazendo uma leve massagem circular principalmente na área das pálpebras”, complementa Mônica.

Proteja-se do sol

Não é só nas viagens de carro que se deve lembrar da fotoproteção. “As janelas do avião não bloqueiam os raios UVA, que provocam o envelhecimento precoce da pele e o câncer de pele. Além disso, devido à altitude mais elevada, esses raios UVA são ainda mais prejudiciais que o normal”, alerta Paola Pomerantzeff. “A fotoproteção deve ser realizada meia hora antes de embarcar e reforçar em caso de voos prolongados”, sugere a Mônica. No navio, a fotoproteção também é necessária, pois os raios solares não atingem a pele apenas de cima, mas de várias direções, pois são refletidos pela água do mar, segundo a médica. “Em viagens de navio, devemos aplicar filtros com fator de proteção maiores e a cada três horas reaplicar. No alto mar, o filtro escolhido deve ser também hidratante. Para isso o melhor é escolher produtos cremosos ou em loções, mas sempre oil free”, ensina.