Os gatos, apesar de serem hospedeiros do parasita, não são o principal fator de contaminação dos seres humanos -  (crédito: Zeze Tucker/Unsplash)

Os gatos, apesar de serem hospedeiros do parasita, não são o principal fator de contaminação dos seres humanos

crédito: Zeze Tucker/Unsplash

Ser tutor de gato não quer dizer necessariamente estar mais suscetível a toxoplasmose, asseguram cientistas. Por mais que o animal seja um dos hospedeiros do Toxoplasma gondii, transmissor da doença, não é a única forma de contrair o parasita. Como apontam especialistas, a falta de hábitos de higiene dos seres humanos são mais determinantes para contrair a doença do que a infecção dos gatos.

Confira a seguir mitos e verdades sobre a toxoplasmose e os gatos. As respostas têm como base artigo publicado no site do Conselho de Medicina Veterinária do Paraná, com autoria dos pesquisadores e especialistas em medicina veterinária Marúcia de Andrade Cruz, Juliano Leônidas Hoffmann, Patrícia Yukiko Montaño e Alexander Welker Biondo, ouvido pelo Correio.

O gato é o principal transmissor da toxoplasmose?

Os gatos são hospedeiros do Toxoplasma gondii e podem, assim, transmitir a doença por meio das fezes. No entanto, a infecção em seres humanos é mais provável de acontecer por meio da ingestão de alimentos contaminados, como consumo de carne crua ou mal cozida, ingestão de frutas, verduras e legumes mal cozidos. Além disso, pode-se entrar em contato com o parasita por meio da terra, em procedimentos de jardinagem, por exemplo. O gato não é necessariamente o fator principal para a infecção do ser humano.

Deve-se levar em conta, também, que o hábito dos animais domésticos vêm mudando: o consumo de carne crua é cada vez menor e os animais também reduzem progressivamente o contato com uma terra que possa estar contaminada.

"Os ooscistos [como se fossem os ovos do parasita] são extremamente resistentes no ambiente externo, até depois que as fezes se deterioram. Porém, eles demoram entre dois a três dias para serem infectantes. Então se existe o cuidado de recolher as fezes do gato todos os dias, as chances de infecção são pequenas", destaca ao Correio Regina Mitsuka, professora de Parasitologia Veterinária da Universidade Estadual de Londrina (UEL). A pesquisadora ainda ressalta que o animal costuma liberar cistos infectantes uma vez em sua vida, normalmente quando filhote.

Somente as fezes transmitem a doença ou a mordida do animal também?

"Não, a mordida do gato não transmite a doença", responde ao Correio o professor Alexander Biondo, do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná, e um dos autores do artigo. De acordo com os pesquisadores, a possibilidade de transmissão para seres humanos por arranhões, mordidas e carícias de gatos é considerada mínima ou inexistente.

Gato que sai de casa tem toxoplasmose?

Não necessariamente. A chance de o animal entrar em contato com o parasita é maior, mas não indica certeza. Em caso de dúvida, o ideal é realizar a testagem do gato para ver se ele está positivo para o T. gondii.

Grávida pode ter gato?

Sim, mulheres grávidas podem ter contato com gatos, desde que tomem os cuidados de não deixar o animal sair de casa, não dar carne crua para ele comer e nem deixar o gato caçar outros animais. "Se a mulher já teve toxoplasmose antes e engravida, ela já possui os anticorpos contra a doença", lembra Regina.

Além disso, é recomendado que a mulher evite contato com as fezes do animal. É preferível que outra pessoa troque a areia do gato por ela, se possível.

Ter gatos aumenta a chance de esquizofrenia por causa do parasita?

Um grupo de pesquisadores da Universidade de Pesquisa em Saúde Mental de Queensland, na Austrália, apontou uma possível correlação entre ter gatos e o desenvolvimento de distúrbios relacionados à esquizofrenia. O parasita que causa toxoplasmose, quando dentro do corpo humano, cai na corrente sanguínea e pode chegar ao sistema nervoso, onde pode afetar os neurotransmissores.

Os cientistas analisaram 17 estudos realizados em onze países ao longo dos últimos 40 anos. “Encontramos uma associação entre a posse de gatos amplamente definida e o aumento das chances de desenvolver distúrbios relacionados à esquizofrenia”, disse o psiquiatra John McGrath, autor principal da análise.

Entretanto, o próprio documento ressalta que não se pode chegar a um resultado definitivo ainda. De acordo com os autores, são necessários mais estudos de qualidade, com base em amostras grandes e significativas, para confirmar se há ou não relação entre ter gatos e o risco aumentado de transtornos mentais relacionados à esquizofrenia.