Em lotes vagos e dentro de casas, escorpiões estão aparecendo em grande número e assustando moradores do Bairro Cardoso, no Barreiro, em Belo Horizonte. Somente em um apartamento, pelo menos oito animais já foram observados. E a população se protege como pode, improvisando fechamento de aberturas no teto com plástico, por exemplo.

Ocorrências com escorpiões, assim como serpentes, costumam aumentar na temporada de calor e chuva, já que é nessa época do ano que os animais saem à procura de abrigo em locais secos, o que influencia em uma maior probabilidade de surgirem dentro de residências - escorpiões, por exemplo, são desalojados do esgoto, onde vivem, e migram para o interior das casas. Com temperaturas mais elevadas os animais peçonhentos também podem sair de seus esconderijos para reproduzir e procurar alimentos. Ao mesmo tempo, as pessoas frequentam mais as áreas verdes.



A espécie de escorpião que tem surgido no Barreiro é o chamado escorpião amarelo, de nome científico Tityus serrulatus, típico do do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, explica o técnico do serviço de animais peçonhentos da Fundação Ezequiel Dias (Funed), Leonardo Noronha - é o mais encontrado em Minas Gerais e no Sudeste como um todo. O animal de pernas e cauda amarelo-claro e o tronco escuro é a principal espécie de seu gênero que causa acidentes graves, com registro de óbitos, principalmente em crianças e idosos, esclarece Leonardo.

O fato de ter aparecido no Barreiro, e em uma das casas entrar pelo teto no banheiro, é circunstancial - não há nada em específico na região que ocasione seu surgimento. "O escorpião amarelo procura locais úmidos e escuros para se esconder, como forro de teto, caixa de esgoto, onde tem entulho e lixo, locais sujos em geral. É um animal de hábito noturno, evita a luz do dia, e à noite tem a atividade maior. Também prefere ficar onde tem comida, principalmente baratas, seu principal alimento", ensina Leonardo.

Ao mesmo tempo, o escorpião pode comer um dia e esperar um ano até a próxima refeição - se encontra um local escondido da luz e úmido, onde pode ficar esperando comida e protegido dos predadores, pode ficar ali por longos períodos, tendo comida ou não. E, segundo o especialista, se o lugar tem oferta de alimento, então é um prato cheio para a proliferação. "Todos os escorpiões amarelos são fêmeas. Geralmente elas têm duas gestações no ano, cada uma dura três meses, no início e fim do verão, e daí nascem 20 filhotes. A população do escorpião pode aumentar rapidamente", explica Leonardo.

Quando uma pessoa se depara com um escorpião, Leonardo indica que o melhor é não ter contato, mas é ainda mais perigoso se ele fugir e sair do campo de visão. "É um animal muito rápido e pode se esconder de novo. Perder de vista é perigoso. E o mais recomendado é não ter contato direto. Se conseguir, jogue uma vasilha pesada em cima do animal, e chame ajuda. A Zoonoses ou o Corpo de Bombeiros devem ser acionados", ensina. Outra dica é que os escorpiões amarelos não conseguem subir em superfícies lisas, só em locais ásperos. "Se você puder fazer uma barreira com mármore, plástico ou azulejo, por exemplo, pode funcionar para prender o animal até a ajuda chegar", orienta.

Segundo a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), os acidentes com escorpiões são os mais comuns em Minas Gerais. Em 2022, o Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Minas Gerais (CIATox MG), que, funciona desde 1973 no Hospital João XXIII (HJXXIII), atendeu 1.654 casos. Este ano, até 26 de novembro, foram 1.535 atendimentos.

O médico e coordenador da Toxicologia do HJXXIII, Adebal Andrade Filho, explica que escorpiões são mais comuns em áreas urbanas e o cuidado deve ser intensificado para que não entrem em casa. "É recomendado usar telas metálicas nos ralos, manter a limpeza de áreas externas e utilizar rodo vedador de portas”, indica. Crianças menores de sete anos e idosos estão mais suscetíveis a complicações por acidentes com animais peçonhentos. Por isso, outra dica importante é sempre balançar calçados e roupas antes da utilização, pois escorpiões podem estar escondidos nas peças.

“Em nosso meio, os animais que possuem toxina mais potente e são responsáveis pelos casos mais graves são os escorpiões, as cascavéis, jararacas, lagartas do gênero Lonomia e as aranhas do gênero Loxosceles, conhecida com aranha marrom, que, à primeira vista, parecem inofensivas, especialmente por serem pequenas”, diz Adebal, lembrando que a maior parte das picadas ocorre nas mãos, braços, pés e pernas. “De maneira geral os animais não atacam. Eles se defendem quando são acuados ou importunados em seu habitat”, afirma.

Manter a casa limpa, evitando acumular alimentos e locais que possam servir de abrigo para os animais, é o primeiro passo para diminuir as chances de acidentes. Também é importante sempre conferir, antes do uso, os calçados, roupas e objetos, em geral, que estejam guardados, como toalhas de banho. Além disso, o uso de botas de cano alto e luvas de raspa de couro durante a realização de atividades consideradas de risco (trabalhos no mato, manipulação de entulhos, limpezas de porões e sótãos, por exemplo) é essencial.

Adebal esclarece como proceder com os primeiros socorros quando acontecem acidentes mais graves. “A primeira providência é afastar a vítima do animal peçonhento. Se possível, fotografá-lo, em vários ângulos (cabeça, corpo e cauda), para que possa ser identificado pela equipe que atenderá o paciente. Caso seja capturado, é importante levá-lo, em segurança, para o local de atendimento. Tais procedimentos tornam o tratamento mais ágil e seguro”, explica o especialista, que ainda ressalta a necessidade de avaliação médica imediata. “Em algumas situações, a evolução para um quadro grave pode ser rápida”.

Em seguida, recomenda-se lavar o local da picada com água e sabão e procurar uma unidade de saúde mais próxima, onde a equipe médica avaliará o quadro e a necessidade de encaminhamento ou não para outro centro de maior complexidade. “Mesmo que esteja pouco sintomático no primeiro momento, não se deve perder tempo, já que os desfechos menos favoráveis estão relacionados a pessoas que não receberam o tratamento adequado em tempo hábil”, alerta Adebal.

Isso porque, segundo ele, os venenos começam a agir logo após a picada, mas em algumas situações pode haver demora de horas para que o paciente apresente algum sintoma. No caso de acidente com escorpiões em crianças abaixo de sete anos ou pacientes com doenças cardíacas, o perigo é ainda maior e as manifestações podem começar alguns minutos após o acidente. O médico ressalta o que não se deve fazer. “Não fazer torniquete, não furar ou cortar o local da picada, não tentar chupar o veneno, não ingerir líquidos ou alimentos - nem mesmo leite ou bebida alcóolica - e não administrar calmantes”.

O Ciatox-MG atende aproximadamente 2 mil casos de envenenamento por mês. O serviço conta com uma equipe médica disponível 24 horas, todos os dias da semana, que orienta a população e profissionais de saúde sobre intoxicações agudas e acidentes por animais peçonhentos.

“Prestamos atendimento telefônico e presencial às vítimas de acidentes por intoxicação aguda, seja por envenenamento por plantas, animais peçonhentos, produtos químicos e drogas lícitas e ilícitas”, explica Adebal, acrescentando que os casos de picadas de animais peçonhentos mais comuns são os de escorpião, aranha e cobra. Já as intoxicações normalmente são provocadas por medicamentos, cosméticos, desinfetantes, produtos de limpeza ou produtos químicos em geral.

Primeiros socorros

Antes mesmo do atendimento médico, alguns procedimentos importantes e que podem influenciar na recuperação da vítima precisam ser realizados.

Veja como agir em caso de picada por animal peçonhento:

- Levar a vítima a um serviço de saúde o mais rápido possível
- Caso o animal tenha sido capturado, levá-lo, em segurança, com a vítima ao serviço de saúde
- Se não for capturado, caso seja possível, fotografe o animal de vários ângulos e leve ao serviço de saúde onde a vítima for atendida
- Lavar o local da picada com água e sabão
- Não fazer torniquete
- Não furar ou tentar chupar o local da picada
- Não oferecer água ou alimentos à vítima

O teleatendimento de Toxicologia do Hospital João XXIII funciona 24 horas, todos os dias. Em caso de acidentes, o CIATox pode ser acionado para orientações sobre os primeiros socorros até o encaminhamento à unidade de saúde. Os telefones são (31) 3224-4000, 3239-9390, 3239-9308 ou 0800-7226001.

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