Comunicar e articular para engajar

Dólar a preços nunca vistos, juros batendo índices estratosféricos. O Congresso, alguns setores do Poder Judiciário e do Ministério Público e as Forças Armadas, como sempre, em tempo de farinha pouca, tratando de garantir o...

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Dólar a preços nunca vistos, juros batendo índices estratosféricos. O Congresso, alguns setores do Poder Judiciário e do Ministério Público e as Forças Armadas, como sempre, em tempo de farinha pouca, tratando de garantir o próprio pirão. Pesquisas apontando a desconfiança popular nos rumos do país…

Fim de ano ruim para o governo, não? Por isso mesmo, ruim para todos e, pior ainda, para o pessoal da base da pirâmide social. Os do andar de baixo sentem no bolso o significado dos gráficos animados de economistas nas telas dos computadores da Bolsa de Valores, mostrando a subida do preço do dólar, que já anda lá pelos R$ 6,26, e a escalada dos juros batendo nos 12,25%. E com promessa (ameaça?) de chegar a 14% em março. Como explicar todas essas coisas negativas num momento de baixo desemprego, inflação controlada e apostas num crescimento do PIB de 3,9%?

Fora a polarização, que faz metade da população desconfiar da outra metade, uma tal falta de articulação política e falhas na estratégia de comunicação aparecem como causas de todos os problemas deste final de segundo ano da gestão Lula III.

Ocupantes de salas bem próximas do gabinete do presidente no Palácio do Planalto são alvos de queixas internas e externas: a Secom/PR, a Secretaria de Relações Internacionais e a Secretaria Geral da Presidência. Tudo a ver com articulação e comunicação…

O articulador político do governo, a ponte entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, pelo menos no organograma oficial, é o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Médico, o dr. Padilha não conseguiu aplicar um tratamento preventivo contra os vírus que contaminam a relação dos 10 organismos partidários que formam o corpo do governo. Resultado: já quase ninguém, a começar pelo deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, discute qualquer receita para as dores do governo com o ministro Padilha.

Na área de comunicação, a Secom/PR, na gestão de Paulo Pimenta, não conseguiu ligar o governo às notícias positivas sobre o país. Nem a promessa de envio ao Congresso da proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais rendeu likes a Lula.

Misturaram o anúncio do cumprimento da promessa de campanha com os cortes de gastos, a mudança na política de reajuste do salário mínimo e alterações no sistema de pagamento do BPC (Benefício de Prestação Continuada). Ninguém fala do IR e a oposição grita contra o que classifica como arrocho no mínimo e aperto contra os pobres beneficiários do BPC.

Enquanto espera para ver que temperos o Congresso vai incluir e retirar da dieta financeira preparada pela sua equipe econômica para tratar a crise fiscal, o presidente Lula vai preparando uma mexida no Ministério.

Não por acaso, Paulo Pimenta e Alexandre Padilha já são figurinhas carimbadas para trocas… Márcio Macedo, da Secretaria-Geral, pode entrar no rol das trocas. Ele não conseguiu articular os movimentos sociais – público alvo da secretaria – nem para garantir uma boa foto da festa do Dia do Trabalhador, em São Paulo. Lula ficou quase sozinho no palanque do 1º de Maio deste ano.

O ministro Pimenta já tem até substituto praticamente anunciado. O provável futuro chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República é Sidônio Palmeira, marqueteiro responsável pela vitoriosa campanha de Lula em 2022.

Ainda não foram anunciadas as figuras para serem coladas nos espaços de Padilha, Macedo e Pimenta. Mas Lula deve estar quebrando a cabeça (sem maldade, por favor) para encontrar três nomes, ou dois, se é que Sidônio vai mesmo para a Secom, que trabalhem perfeitamente integrados.

Afinal, articulação e comunicação precisam andar de mãos dadas. Dá para articular discursos de 10 partidos? E montar estratégia de comunicação quando até o partido do presidente se divide em horas de tomada de decisões consideradas impopulares? Os porta-vozes do governo vão conseguir falar a língua das redes sociais? A comunicação oficial vai fazer contraponto ao uso das plataformas virtuais pelos manipuladores, pelos disseminadores de fake news, de desinformação?

Os comunicadores do governo vão criar mensagens capazes de fazer a sociedade voltar a crer que fora da política não há democracia? Lula vai ter trabalho nesta reforma ministerial.

Fernando Guedes é jornalista e sócio da SHIS Comunicação, analista político, especializado em marketing político, administração de crise, análise de cenários, construção de imagem e produção de conteúdo. Trabalhou nos principais veículos de comunicação do país e assessorou ministros de Estado. Foi diretor da TV Câmara e da TV Justiça e secretário de Imprensa da Presidência da República

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